TRABALHO CIENTÍFICO

Qual a relação entre privação do sono e diabetes tipo 2; especialista esclarece

Neurologista comenta resultados de estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Uppsala, na Suécia

Imagem Ilustrativa.Créditos: Pixabay
Escrito en SAÚDE el

Um estudo elaborado por pesquisadores do Departamento de Biociências Farmacêuticas da Universidade de Uppsala, na Suécia, a partir de informações do banco de dados UK Biobank, do Reino Unido, revelou dados importantes sobre diabetes.

O trabalho relacionou adultos que dormem de três a cinco horas por dia ao risco de desenvolver diabetes tipo 2, que corresponde à maior parte dos casos de prevalência da doença no Brasil.

O diabetes tipo 2 é uma doença crônica que se caracteriza pela resistência à insulina, hormônio que regula o nível de açúcar no sangue. É mais comum em adultos. Conforme a Sociedade Brasileira de Diabetes, existem no país mais de 13 milhões de pessoas covivendo com a doença, o que representa quase 7% da população nacional.

O trabalho, publicado na revista científica JAMA Network Open, também concluiu que a privação do sono não pode ser compensada somente com uma alimentação saudável na prevenção da doença crônica.

Os pesquisadores acompanharam por dez anos os participantes e analisaram respostas de 247.867 homens e mulheres sobre saúde e estilo de vida.

“Eles avaliaram a duração do sono dessas pessoas, da população em geral, os hábitos alimentares, obviamente, os exames de sangue e os diagnósticos clínicos desses participantes”, contou Dalva Poyares, neurologista, professora da Universidade Federal de São Paulo e membro da Associação Brasileira do Sono.

Ela afirmou que o resultado do trabalho “é algo que nós sabíamos. Alguns outros estudos já apontavam que dormir pouco aumenta o risco de diabetes tipo 2”.

Porém, Dalva revela um dado mais interessante. “O que tem de novo nesse estudo é que, além de confirmar que dormir pouco, menos de seis horas, na média por dia, eles avaliaram se uma dieta saudável poderia mitigar, minimizar, esse risco e não encontraram essa associação”.

Em síntese, segundo a neurologista, “dormir pouco, independentemente de você ter uma boa dieta, vai aumentar o risco de ter diabetes tipo 2. A dieta não evitou esse risco”.

Influência de atividades físicas

Dalva destacou, ainda, que falta obter mais informações sobre a influência de exercícios. “Um estudo antigo do nosso grupo mostrava que a atividade física melhorava algumas consequências da privação do sono”.

A médica destacou que o ser humano precisa dimensionar a proporção de estímulos e a proporção de atividades, sejam elas profissionais ou outras, por dia, em prol do sono.

“O sono é fundamental para a manutenção do equilíbrio cardiovascular. É fundamental para o desempenho cognitivo, ou seja, para você desempenhar bem durante o dia e, também, para a saúde. E, agora, de acordo com esse estudo e alguns outros anteriores, também é fundamental para manutenção do metabolismo. Então, dormir muito pouco, por um longo prazo, pode alterar o metabolismo. Além disso, faz com que o indivíduo fique mais predisposto a diabetes”, ressaltou.

A neurologista e especialista em sono, Dalva Poyares 

Como prevenir diabetes tipo 2

Dalva sugeriu algumas dicas de prevenção contra a doença. “Manter o peso, ter uma boa dieta, dormir e fazer atividade física. São os quatro pilares que podem prevenir o aparecimento do diabetes tipo 2”.

Segundo a neurologista, existem estudos que sugerem quais seriam as horas ideais de sono por faixa etária.

“Portanto, para criança é uma coisa, para adulto é outra e para o idoso é outra. Quando nós falamos em número de horas, em média, eu me refiro aos adultos. Alguma coisa entre sete e oito horas e meia parece ser um intervalo de tempo que as pessoas que têm melhor saúde costumam dormir por noite”, afirmou.

“Contudo, o que a gente sabe mais é que não devemos ter como hábito de sono dormir pouco no longo prazo”, finalizou a neurologista.

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar