ALIMENTAÇÃO

Acesso a informações sobre alimentação saudável e sustentável no Brasil ainda é limitado, mostra pesquisa

Embora maioria da população reconheça risco e excesso de agrotóxicos nos alimentos, apenas 47% tem conhecimento sobre alternativas e selos alimentares

Créditos: Foto de Daigoro Folz/Pexels
Escrito en SAÚDE el

Apenas uma parcela da população brasileira tem conhecimento sobre os sistemas alimentares sustentáveis, e uma das causas para isso é a influência da indústria de agrotóxicos no Brasil. Por meio de lobby, campanhas publicitárias, junk foods, influência em pesquisas, greenwahsing e pressões do mercado, o setor contribui para limitar o acesso a informações sobre alimentação sustentável e segurança alimentar.

Embora a maioria dos brasileiros (78%), reconheça que os agrotóxicos sejam inseguros e presentes em excesso nos alimentos, como mostra essa pesquisa do DataFolha, apenas 47% já ouviu falar de sistemas alimentares sustentáveis, segundo o último levantamento feito pela Nexus.

Um sistema alimentar sustentável é um modelo que integra todas as atividades ligadas aos alimentos, desde a produção, processamento, distribuição, consumo até o seu descarte. O objetivo central é garantir a segurança alimentar e nutricional, equilibrando os impactos na saúde humana com a sustentabilidade econômica, social e ambiental do planeta. 

Ofuscada pela indústria dos agrotóxicos e dos ultraprocessados no país, a agricultura familiar brasileira, essencial para atingir esses objetivos, embora utilize apenas 23% do território, contabiliza 3,9 milhões de estabelecimentos agropecuários e emprega mais de 10 milhões de pessoas. Sua contribuição se dá não apenas em volume, mas na manutenção da diversidade alimentar, ambiental e de práticas socioculturais tradicionais, de acordo com o Censo Agropecuário de 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Quase metade dos brasileiros nunca teve contato com o tema de sistemas alimentares saudáveis, e esse desconhecimento está relacionado, de acordo com a pesquisa, com a desigualdade social e ambiental. O maior índice de desinformação está nas regiões Norte e Centro-Oeste (59%), entre aqueles com renda de até um salário mínimo (58%), e nos grupos de maior idade e menor escolaridade (56% em ambos, para acima de 60 anos e ensino fundamental, respectivamente). O assunto é dominado por quem possui ensino superior (63%), alta renda (acima de cinco salários mínimos, com 58%) e mora no Sudeste (57%). 

Inclusive, uma matéria da Fórum mostrou que a presença de alimentos não saudáveis dominam os interiores do Brasil. O acesso é 20 vezes maior que o de alimentos saudáveis. Levantamentos em diversas cidades brasileiras indicam que os "pântanos alimentares”, locais onde alimentos não saudáveis e com baixo valor nutricional são amplamente acessíveis, e os "desertos alimentares", que não têm opções saudáveis, são restritos a zonas de maior vulnerabilidade social, o que leva ao chamado racismo alimentar. Obtido pela Fórum, o estudo realizado pelo governo Lula em parceria com a USP, e publicado na Plataforma Alimenta Cidades, traz informações sobre a distribuição de estabelecimentos de alimentos em mais de 90 cidades brasileiras com 300 mil habitantes. 

LEIA MAIS: Ultraprocessados dominam: acesso é 20x maior que o de alimentos saudáveis nas periferias e no interior

Comida saudável e sustentável não é privilégio, é direito

Quando a sustentabilidade na produção e no consumo de alimentos é enquadrada como questão para o futuro do planeta, 68% dos entrevistados a consideram extremamente ou muito relevante. Esse índice sobe para 85% entre os que têm ensino superior, 78% entre os que ganham mais de cinco salários mínimos e 78% entre moradores da região Sul. Outros 15% avaliam a importância como regular, 13% como pouca ou nenhuma e 4% não souberam ou não opinaram. Embora os brasileiros valorizem sustentabilidade e qualidade dos alimentos, poucos conhecem selos e certificações alimentares.

Apenas 16% dos entrevistados conhecem ou já ouviram sobre esses certificados de qualidade, e destes apenas 6% conseguiram lembrar o nome específico de algum selo relacionado à sustentabilidade alimentar. 

O chamado “consumo consciente”, de quem tem o hábito de conferir a sustentabilidade no ato de compra dos alimentos, é maior entre aqueles que ganham mais de 5 salários mínimos (23%), têm entre 45 e 60 anos (20%) e são do Nordeste (18%). Por sua vez, entre os que nunca ou raramente fazem essa checagem, destacam-se os maiores de 60 anos (72%), aqueles que recebem de um a dois salários mínimos (72%), estudaram até o ensino médio (70%) e moram no Sudeste (69%).

Em ano de COP 30, organizações destacam que o Brasil tem a oportunidade histórica de redefinir a agenda climática ao colocar os sistemas alimentares sustentáveis e saudáveis no centro do debate. A forma como se produz, distribuí e se consume os alimentos é, simultaneamente, uma das maiores fontes de emissões de gases de efeito estufa e um vetor fundamental para a manutenção da saúde pública e a justiça social.

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar