Uma nova ofensiva do governo Donald Trump contra o Brasil ganhou novo fôlego nesta quarta-feira (13). Após impor um tarifaço sobre produtos brasileiros e cancelar vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Washington passou a mirar autoridades ligadas ao programa Mais Médicos, entre elas, o próprio ministro da Saúde, Alexandre Padilha, idealizador da iniciativa no governo Dilma Rousseff.
O anúncio, feito pelo secretário de Estado Marco Rubio, determinou a revogação dos vistos de Mozart Sales, secretário de Atenção Especializada à Saúde, e de Alberto Kleiman, atual diretor da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). Os dois tiveram papel central na fase inicial do Mais Médicos e atuaram diretamente com Padilha na concepção e implementação do programa.
Sem provas, Rubio acusou o Mais Médicos de ser um "golpe diplomático inconcebível" e um "esquema de exportação de trabalho forçado" do regime cubano. No entanto, informações obtidas pela Fórum por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), mostram que apenas 10% das vagas do Mais Médicos estão atualmente preenchidas por profissionais cubanos.
Hoje, são 26.414 médicos ativos no Brasil, sendo 2.659 de Cuba — percentual que já foi mais de 60% na década passada. Entre os cubanos, 1.064 são médicos com registro no CRM obtido via Revalida, e 1.593 são intercambistas, que vêm ao Brasil apenas para ocupar vagas não preenchidas por profissionais brasileiros.
Os profissionais estrangeiros ocupam apenas a terceira prioridade de contratação: a primeira é para médicos com CRM; a segunda, para brasileiros formados no exterior sem diploma revalidado; e a terceira, para médicos formados no exterior, como os cubanos. Quem não tem revalidação só pode atuar em unidades básicas de saúde de municípios previamente indicados. Atualmente, os cubanos estão distribuídos pelo Brasil da seguinte forma: 883 no Sudeste, 643 no Nordeste, 640 no Sul, 382 no Norte e 111 no Centro-Oeste.
A presença de médicos cubanos no programa Mais Médicos sempre foi alvo de políticos extremistas e de discursos de ódio contra Cuba. No entanto, como explica o infectologista Marcos Caseiro, é justamente a atuação desses profissionais que garantiu o sucesso do programa no atendimento a populações de áreas remotas, que antes não tinham acesso digno à saúde.
Criado em 2013, o Mais Médicos revolucionou a cobertura de saúde em áreas carentes, levando profissionais a periferias, municípios remotos e comunidades historicamente desassistidas. Segundo estimativas oficiais, alcançou mais de 4 mil municípios e beneficiou mais de 63 milhões de pessoas antes de ser encerrado em 2019, durante o governo Bolsonaro. Em 2023, foi retomado para preencher vagas que haviam ficado abertas.
No atual mandato de Lula, o programa foi retomado com prioridade para médicos brasileiros, mas sem abrir mão da meta original: garantir atendimento médico onde ele nunca existiu. Em março de 2023, Nísia Teixeira, então ministra da Saúde, lançou a nova etapa do programa, voltada à contratação de médicos brasileiros para áreas vulneráveis, ampliando também os direitos desses profissionais.