Folha Santista

Praias do litoral de SP perdem quase 70 metros para avanço do mar; elas podem sumir?

Pontos turísticos bem conhecidos estão sendo afetados por risco de processo erosivo “muito alto”, segundo pesquisa

Escrito en SP el
Jornalista e redator da Revista Fórum.
Praias do litoral de SP perdem quase 70 metros para avanço do mar; elas podem sumir?
Praia da Baleia é uma das mais afetadas. Reprodução de Vídeo/YouTube

A edição mais recente do Mapa de Risco à Erosão Costeira, elaborado pela pesquisadora Célia Regina de Gouveia Souza, do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), trouxe dados alarmantes.

Várias praias famosas de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, estão entre as áreas com "risco alto ou muito alto" de erosão costeira, em consequência do avanço do mar.

Entre os locais mais atingidos estão pontos turísticos famosos, como as praias de São Francisco, Conchas, Juréia e Engenho, todas classificadas com risco “muito alto”. Pontal da Cruz, Porto Grande, Barequeçaba, Maresias, Boiçucanga, Baleia, Juquehy, Una, Boracéia e Deserta aparecem com risco “alto”.

As análises são realizadas a partir de indicadores físicos e ambientais e atualizadas a cada cinco anos desde 2002. A versão mais atual, de 2022/2023, apontou que as áreas com erosão crônica também estão mais sujeitas a inundações costeiras e ressacas intensas, fenômenos que tendem a aumentar com as mudanças climáticas, o avanço do mar e a urbanização desordenada.

Quase 70 metros

A professora e geógrafa Breylla Campos, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), comanda estudo sobre o avanço do mar e os processos erosivos na costa sul de São Sebastião.

Ela relatou que a região vem sofrendo transformações aceleradas desde as enchentes históricas de fevereiro de 2023, que provocaram deslizamentos e alteraram o perfil das praias.

“De janeiro até junho de 2023, houve uma erosão considerável nessas praias. Alguns pontos chegaram a 67 metros de perda de faixa de areia”, declarou Breylla, de acordo com informações de A Tribuna.

O levantamento foi realizado a partir de imagens de satélite e compara as situações de antes e depois das chuvas extremas. A próxima etapa do estudo é montar uma série histórica para identificar se o fenômeno é episódico ou se aponta para um processo crônico de regressão da linha de costa.

“É uma região em que as praias estão muito próximas da Serra do Mar. Então, tem esse efeito orográfico (quando massas de ar úmido são forçadas a subir por relevos montanhososque) vai fazer com que tenha uma quantidade de chuvas muito grande, haja visto o caos em 2023, com precipitações que ultrapassaram 600 milímetros”, relembrou.

A precipitação extrema, conforme a pesquisadora, acelera a erosão. Além disso, frequentemente, a praia não tem tempo de se recuperar e já é atingida por uma próxima tempestade.

Construções perto da faixa costeira, como casas, rodovias e estruturas portuárias, também ajudam o processo. “Se não houver um monitoramento feito com bastante detalhe da hidrodinâmica e do transporte de sedimentos, essas obras podem impactar negativamente as praias”, disse.

Além das questões ambientais, o avanço do mar e a erosão podem provocar inundações costeiras, quando as ondas atingem ruas e edificações.

“Com isso, algumas estruturas como quiosques e calçadões podem ser impactadas. As pessoas vão deixar de ir naquela praia que está sendo impactada. Com isso, um outro grupo acaba sendo afetado, que são aqueles que vivem da economia de praia, gerando impactos sociais. É uma cascata de efeitos negativos”, acrescentou.

Como minimizar os efeitos

Em relação a medidas de contenção, Breylla preconizou abordagem técnica e sustentável. “Nós só podemos dizer o que é melhor para aquela praia tendo uma série temporal longa. Fazer uma climatologia da praia. Como ela se comporta em diferentes cenários. Oceanográficos, meteorológicos. Como ela responde a esses diferentes cenários. E, aí sim, pensar a melhor solução para ela”, declarou.

As alternativas, segundo ela, vão desde engenharias rígidas, como muros de contenção e enrocamentos (estrutura de proteção feita com pedras), até soluções vindas da própria natureza, como recuperação de dunas e vegetação de restinga, que funcionam como barreiras naturais contra o avanço do mar.

Siga o perfil da Revista Fórum e do jornalista Lucas Vasques no Bluesky.

Logo Forum