Folha Santista

Projeto santista ajuda a localizar nova espécie de raia

O animal recebeu o nome científico de “Mobula yarae”, em homenagem à Iara, figura folclórica brasileira

Escrito en SP el
Jornalista e redator da Revista Fórum.
Projeto santista ajuda a localizar nova espécie de raia
Maior espécie de raia do mundo. Pedro Henrique C. Pereira

O Projeto Mantas do Brasil, iniciativa sediada em Santos, no litoral paulista, foi determinante para que uma nova espécie de raia-manta, a maior do mundo, fosse oficialmente reconhecida pela ciência.

Batizada de Mobula yarae, em homenagem à figura folclórica brasileira Iara, a espécie habita o Atlântico Ocidental, com registros que vão desde o sudeste do Brasil até o nordeste dos Estados Unidos. A descrição foi publicada na revista científica Environmental Biology of Fishes.

O animal tem aparência única e comportamento distinto das espécies já conhecidas. A nova raia-manta representa um avanço significativo para a ciência marinha e a conservação da biodiversidade, principalmente no litoral brasileiro.

A descoberta contou com a colaboração do Mantas, voltado à pesquisa e preservação desses animais. O projeto realizou a coleta de dados em várias regiões do país, e foi responsável por registrar a ocorrência dos animais em áreas costeiras do Brasil. 

Criado há mais de uma década, o Projeto Mantas do Brasil é uma iniciativa do Instituto Laje Viva. Dedica-se à pesquisa, conservação e educação ambiental com foco nas raias-manta. Atua em parceria com universidades e comunidades locais, promovendo capacitação de pesquisadores.

“Observamos a presença desses espécimes em Fernando de Noronha. Com o início do programa "Cidadão Cientista", recebemos fotografias de todo o Brasil. Notamos a ocorrência de um novo indivíduo, caracterizado por uma região ventral mais clara, com poucas manchas e menores em tamanho. Essa característica despertou nossa curiosidade”, afirmou Paula Romano, coordenadora do Projeto Mantas do Brasil.

A iniciativa conta com a parceria da Petrobrá e com o patrocínio da Autoridade Portuária de Santos (APS), empresa do Ministério de Portos e Aeroportos do Governo Federal, que também tem apoiado de forma significativa a continuidade das pesquisas.

A partir das imagens recebidas por mergulhadores e colaboradores do projeto, uma rede de especialistas se mobilizou. Nayara Bucair, pesquisadora pelo Instituto Oceanográfico da USP e responsável pelo estudo e catalogação, conduziu o processo de formalização científica da nova espécie.

“O Projeto Mantas do Brasil foi um grande colaborador deste trabalho. Eles se dedicam à coleta de dados e conservação da espécie muito antes de eu me envolver com esses animais, há cerca de 10 anos. Não teria sido possível sem o apoio deles”, destacou Nayara.

Segundo ela, o reconhecimento da nova espécie ajuda diretamente na conservação. “Espécies não reconhecidas pela ciência têm maior risco de extinção. Por isso, além da descoberta científica, esse é um avanço para medidas de proteção efetivas. Conseguimos sequenciar o genoma mitocondrial completo e identificar características únicas como os dentículos dérmicos em formato de estrela e manchas em ‘V’ sobre as brânquias”, relatou.

A pesquisa foi conduzida por um grupo de 15 cientistas de diferentes países, com amostras coletadas em Ilha Comprida (SP), Fernando de Noronha (PE), Natal (RN), Quintana Roo (México) e Flórida (EUA).

“Esses animais apresentam um comportamento diferente das Mobula birostris. São mais costeiros e parecem permanecer por mais tempo em águas rasas. Por isso, nosso objetivo agora é estudar sua rota de migração e identificar áreas prioritárias para conservação. Queremos propor uma rede de preservação e conscientizar pescadores e mergulhadores de que esses animais valem muito mais vivos, seja pela importância ecológica, seja pelo potencial do turismo sustentável”, explicou Paula Romano.

Três espécies de raias-manta agora reconhecidas

Antes da nova descoberta, eram conhecidas apenas duas espécies de raias-manta: a raia-manta-ocêanica (Mobula birostris) e a raia-manta-recifal (Mobula alfredi), restrita ao Oceano Índico e ao Oceano Pacífico.

Com a identificação da Mobula yarae, o gênero Mobula agora reúne dez espécies, sendo três delas raias-manta, as maiores entre os chamados mobulídeos.

A Mobula yarae pode chegar a seis metros de largura e se destaca por características únicas: boca com dentes apenas na mandíbula inferior (de nove a 13 fileiras), manchas ventrais específicas e um pequeno ferrão envolto por uma massa calcificada na base da cauda.

Ameaças crescentes

Mesmo recém-descrita, a Mobula yarae já está ameaçada. A pesca direcionada ou acidental, a poluição e as colisões com embarcações são algumas das pressões sofridas por elas. O valor de suas brânquias na medicina tradicional asiática impulsiona sua captura em diversas regiões do mundo.

Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), todas as espécies de mobulídeos estão incluídas na Lista Vermelha de espécies ameaçadas. No Brasil, todas são protegidas pela Instrução Normativa Interministerial MPA/MMA Nº 02, de 13 de março de 2013. Além disso, estão incluídas no Plano de Ação Nacional para Conservação de Tubarões e Raias (PAN Tubarões).

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