Professora debocha e chama aluna negra de “presidiária” em escola do litoral de SP
O comentário ofensivo teria ocorrido depois que a jovem foi à escola usando chinelos e meias, no município de Peruíbe
Um caso lamentável de crime de injúria ocorreu em um colégio do litoral de São Paulo. A mãe de uma adolescente negra, de 14 anos, denunciou que a filha foi vítima de ofensa racial por parte de uma professora, que a teria chamado de “presidiária” dentro da sala de aula.
O caso foi registrado na Escola Estadual (EE) José Batista Campos, no município de Peruíbe. O comentário ofensivo teria ocorrido depois que a jovem foi à escola usando chinelos e meias.
O fato aconteceu no dia 25 de março, porém, o boletim de ocorrência (BO) foi registrado na Polícia Civil apenas em 31 de março, na Delegacia Eletrônica, como crime de injúria.
A mãe da jovem, que optou por não se identificar, relatou que a filha foi para a escola usando chinelos e meias e que, ao chegar à instituição de ensino, foi abordada pela docente. “A professora perguntou se ela era da cadeia, e minha filha respondeu que não”, contou, em reportagem de A Tribuna.
Depois disso, a professora ainda teria dito para os outros alunos: “Gente, ela não parece uma presidiária? Mas, pelo menos, é uma presidiária limpinha”. Para piorar, se é que é possível, a docente repetiu três vezes a pergunta “Você é presidiária?”. A estudante se negou a responder.
“A professora ainda ficou dizendo ‘Como eu sou linda, sou loira dos olhos azuis’, se referindo a si mesma. Achei um absurdo a escola não ter me convocado para uma reunião para conversar. A diretora apenas falou com minha filha”, desabafou a mãe.
Ela também destacou que a docente “pega no pé” da sua filha e de outras meninas negras que estudam na escola. “O próprio coordenador achou grave o que ela fez e chegou a dizer que poderia se tratar de racismo. Era obrigação deles me chamarem para participar da reunião, já que minha filha é menor de idade”.
A mãe prosseguiu relatando outro episódio, em que sua filha estava com sangramento no nariz e pediu para sair da sala, mas a professora teria ignorado.
“Ela pediu novamente, dizendo: ‘Professora, estou sangrando’. E a mulher apenas a olhou com cara de deboche. Então, minha filha saiu sozinha da sala e foi acolhida pelos inspetores. A professora saiu depois questionando por que ela estava tanto tempo fora, acusando minha filha de ser manipuladora”, ressaltou.
Depois do episódio absurdo, a adolescente continua frequentando as aulas. Porém, se sente desconfortável e constrangida. “A professora não fala mais com ela diretamente, mas fica olhando com deboche. Minha filha ficou muito abalada, chorava sozinha, sem contar o que estava acontecendo. Só descobri porque ela desabafou com uma prima que veio falar comigo”, afirmou. A mãe acrescentou que a escola não tomou nenhuma providência sobre o caso.
O que diz o BO
O boletim de ocorrência disse que a mãe foi à escola para discutir o fato com a diretora e a professora. Ela relatou que considerou a atitude racista.
Segundo o BO, a docente comentou, diante da turma, sobre a “limpeza dos pés” da aluna e teria dito que, como advogada, já havia visto “pés mais limpos na prisão”, expondo a adolescente ao ridículo e como um ato vexatório.
A mãe procurou o Conselho Tutelar, que a encaminhou a um representante do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).
Inicialmente, foi pedido o registro do boletim eletrônico de ocorrência, e o Conselho Tutelar se comprometeu a adotar medidas para garantir a segurança da menor.
No dia 27 de março, em nova conversa, a diretora da escola teria sugerido que a jovem estava “distorcendo os fatos” para prejudicar a professora.
O que diz a SSP-SP
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) informou que o caso foi registrado como injúria e encaminhado ao 1º Distrito Policial (DP) de Peruíbe.
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP), por sua vez, destacou que “repudia toda e qualquer forma de discriminação racial, dentro ou fora do ambiente escolar. A Diretoria de Ensino de São Vicente está apurando os fatos para verificar possíveis sanções administrativas, caso se confirme a conduta irregular”.
A Seduc informou, ainda, que um profissional do programa “Psicólogos nas Escolas” está à disposição da aluna, e que a unidade escolar intensificará projetos voltados à convivência pacífica, ao respeito mútuo e ao combate ao bullying e ao racismo. A defesa da professora ainda não se manifestou.
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