Perfil

A mente de um feminicida: uma análise psicológica do crime que abalou litoral de SP

Psicólogo e professor Rogerio Martins explica traços psicológicos que levam ao feminicídio, diante do caso que abalou Santos

Escrito en SP el
Jornalista e redator da Revista Fórum.
A mente de um feminicida: uma análise psicológica do crime que abalou litoral de SP
O sargento da PM Samir Carvalho assassinou a esposa Amanda Fernandes Carvalho. Reprodução e Reprodução/Instagram

A cidade de Santos, no litoral paulista, foi palco, no dia 7 de maio, de uma tragédia devastadora: um sargento da Polícia Militar (PM) assassinou a esposa, feriu a filha e foi preso em flagrante, dentro de uma clínica médica.

O caso reabriu a discussão urgente sobre o feminicídio no Brasil. O crime, segundo especialistas, é fruto de um processo psicológico e cultural, e não de um simples “surto” ou momento de raiva.

Na avaliação do psicólogo e professor universitário da ESAMC Santos, Rogerio Martins, compreender a mente do agressor é fundamental para prevenir novos casos.

“O feminicida, geralmente, possui uma estrutura de personalidade disfuncional, com traços de ciúme patológico, necessidade de controle e baixa tolerância à frustração. Ele enxerga a parceira como uma posse, e não como uma pessoa autônoma”, explicou.

Martins enfatizou que esses indivíduos costumam ter dificuldade em lidar com rejeição e perda. “A autonomia da mulher, ou mesmo o desejo de separação, pode ser percebido como uma ameaça intolerável, desencadeando uma reação violenta. Não é um ato impulsivo, é o desfecho de um ciclo que envolveu controle, humilhação e violência prévia”.

O especialista também chamou atenção para o impacto da formação social e histórica desses indivíduos. Muitos cresceram em ambientes violentos, internalizando padrões abusivos como normais.

“Se não há cuidado psicológico, esse modelo se repete. É o machismo estruturante da nossa cultura que reforça a ideia de que o homem deve dominar e a mulher se submeter”, relatou.

Em relação ao caso específico de Santos, o psicólogo comentou que, embora a profissão militar, por si só, não leve ao feminicídio, ela pode representar um fator de risco quando combinada com traços autoritários e dificuldades emocionais.

“A cultura de hierarquia, o uso da força como ferramenta de resolução de conflitos e o estresse constante podem, em casos específicos, potencializar comportamentos violentos”, apontou o especialista.

Mecanismos de defesa

Além das características psicológicas, o professor destacou o papel dos chamados mecanismos de defesa. “Negação, racionalização e projeção são comuns. O agressor justifica o ato, culpando a vítima ou as circunstâncias, como se estivesse no direito de agir daquela forma”.

Ele acrescentou que o ciclo da violência doméstica segue um padrão mental claro: “Tensão, explosão e reconciliação, fase em que o agressor promete mudar, mas apenas reforça o ciclo de manipulação e controle”.

Para combater o feminicídio, segundo o professor, é necessário mais do que punição: é preciso educação, prevenção e ação integrada entre escolas, famílias, instituições e o sistema de justiça. “Feminicídio não começa com o tiro, começa no controle, na humilhação e no silêncio. Prevenir é educar, acolher e intervir antes do desfecho trágico”, completou.

Siga o perfil da Revista Fórum e do jornalista Lucas Vasques no Bluesky.

Logo Forum