Brainstorm do Dia Internacional da Mulher: O trabalho feminino na história e a luta pelos direitos humanos das mulheres.

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A origem do Dia Internacional da Mulher remonta no início do século XX, nessa época, grande contingente de mulheres passaram a incorporar a mão-de-obra industrial. As más condições de trabalho eram notáveis, a duração da jornada de trabalho passava de 14 horas, as indústrias não ofereciam segurança e muito menos conforto para os trabalhadores e a diferença salarial e também de condições de trabalho entre homens e mulheres era imensa. 

Nessa época, as manifestações femininas em prol de melhores condições de trabalho, salários iguais e o sufrágio feminino pipocavam pelos Estados Unidos e pela Europa. As vozes femininas clamavam pelo fim das condições subumanas de trabalho, por salários iguais e também pelo próprio direito de reivindicar.

Mas além das péssimas condições de trabalho e os baixos salários, as discriminações sofridas pelas mulheres iam além. O ambiente do trabalho é um espaço público, domínio definido culturalmente e historicamente como masculino, sendo assim, as mulheres eram consideradas intrusas num mundo de homens.

O trabalho era inevitável para a mulher pobre, mas trabalhar era se adentrar ao espaço público e o estigma de uma mulher trabalhadora nessa época era pesado. Basta perceber a diferença de significados das expressões “mulher pública” e “homem público”.  Enquanto o homem público é aquele que participa ativamente da vida pública, é político e trabalhador, a mulher pública é a prostituta.

O trabalho feminino era repleto de desafios, trabalhar era desafiar a ordem moral da época. Além do estigma da prostituta, mulher fácil, mulher disponível, e as consequências disso, que era lidar com o assédio nas fábricas e nas ruas. As trabalhadoras da época carregavam também o fardo de estar afastadas dos seus filhos, logo do exercício da maternidade. E eram lembradas por toda a sociedade de que eram péssimas mulheres por não se dedicarem integralmente a maternidade. Para a sociedade da época, o trabalho, o afastamento da mulher do espaço privado, era uma ofensa aos bons costumes, a mídia pregava que a mulher deveria priorizar ficar em casa e cuidar dos filhos e também do marido e vinculava o trabalho ao adultério e à prostituição.

A história do Dia Internacional da Mulher começou com a incorporação da mão-de-obra feminina nas indústrias, a luta feminina para sair da pobreza, as manifestações por iguais condições de trabalho e de salários, a luta contra os desafios que a sociedade impôs às mulheres ao julgar a sua moral por causa do trabalho. Mas ainda hoje, a mulher que opta por uma carreira bem-sucedida é julgada por não dar vazão aos “seus instintos maternos” ou por propor uma real divisão de tarefas. Quando uma mulher é promovida, muitas vezes há comentários, mesmo que em tom de piada, que a promoção só aconteceu porque houve um teste de sofá. A idéia de que a mulher pertence ao espaço privado ainda sobrevive e é analisando esses comentários do dia-a-dia que percebemos que a mulher que trabalha ainda hoje enfrenta julgamentos sobre sua sexualidade e a maternidade. Enfim, apesar da equiparação legal de salários entre homens e mulheres, na prática há uma enorme disparidade nos salários, no tratamento e nas oportunidades dadas, principalmente nos casos de mulheres negras e pobres.


Quando penso no Dia Internacional da Mulher, na origem da data e na história das mulheres, eu não penso em comemorações, eu penso em luta! Penso em protestos, manifestações, greves, tudo em prol da busca por mudanças sociais e culturais que promovam de alguma forma a igualdade entre os gêneros e a igualdade social. Destaco essa questão do trabalho, porque apesar do discurso de que não há nada mais pra conquistar, que as coisas agora são como são, é fácil perceber como ainda hoje há muitas disparidades dentro do mercado de trabalho entre os gêneros. Além disso, ao analisar o quanto a visão da sociedade a respeito do trabalho feminino mudou, percebe-se que é possível mudar o pensamento dominante, mas pra isso acontecer é preciso de muita luta, resistência e coragem de todas nós.


As imagens do texto são do filme "Revolução em Dagenham", um filme que relata uma história real de luta das mulheres por direitos trabalhistas ocorrida em 1968 na Inglaterra.

Mulheres negras eram escravizadas e por isso trabalharam desde sempre. Após a abolição da escravatura, mulheres negras trabalhavam bastante para garantir o mínimo. A luta contra as disparidades salariais e contra a divisão sexual do trabalho deve sempre levar em conta a realidade da mulher negra, sem isso, as disparidades de salário e oportunidade continuarão existindo porque a mulher negra sofre uma dupla opressão, sendo assim, sem combater o racismo, as conquistas das mulheres brancas não atingem a mulher negra.