Comer é necessário, Vogue.

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"Uma cultura obcecada por magreza feminina não é obcecada pela beleza da mulher, mas sim pela obediência feminina. A dieta é o sedativo político mais potente na história da mulher, uma população levemente louca é uma população dócil". - Naomi Wolf


O Dia Internacional Sem Dieta acontece todo seis de maio e simboliza um pouco da luta das vítimas de transtornos alimentares para se curarem. Esse dia propõe celebrar a aceitação de todos os tipos de corpos e questionar o padrão de beleza e as discriminações decorrentes dele, como a gordofobia.

Enquanto a existência dessa data especial demonstra uma preocupação com os transtornos alimentares e suas vítimas, a sociedade continua a alimentar justamente o contrário que essa data prega: uma exaltação ao corpo magro, um incentivo às dietas e obsessões com o corpo inatingíveis. E é por isso que repudiamos a publicação da Revista Vogue intitulada "Comer pra quê? Fazer jejum está na moda. Saiba mais sobre a dieta da vez".

Irresponsável, prejudicial, lamentável é o mínimo que se pode dizer sobre essa reportagem que já no título tenta vender uma dieta que questiona a necessidade de comer. Dizer que ficar sem comer está na moda é glamourizar um sintoma frequente de anorexia e banalizar essa doença que atinge diversas pessoas, principalmente mulheres jovens. A nova tendência da moda é a de sempre: incentivar a busca por um ideal de corpo inalcançável, a qualquer custo. E a Vogue aprova e publica, mas sem esquecer de adicionar um "Só faça se tiver acompanhamento médico", como se adicionar essas palavras fizesse desaparecer a irresponsabilidade da publicação. Dizer que ficar sem comer dez dias do mês é válido é fazer uma campanha contra a saúde das mulheres.

O uso da palavra jejum para designar a dieta é fácil de relacionar com a ideia de penitência. A mulher é sempre condicionada a sofrer em nome de diversas coisas: por amor e pela beleza são as principais. Incentivar dietas altamente restritivas em nome de um ideal de beleza é colaborar com a ideia de que o sacrifício, por ambos, está ligado ao que é desejável para a mulher no patriarcado. A mulher que não se sacrifica é vista como desleixada e preguiçosa, coloca-se a dor e o sofrimento como uma motivação para a buscar ainda mais o ideal. E esse estigma não atinge só mulheres necessariamente, já que a sociedade vê todos que estão acima do peso como preguiçosos e trata de culpá-los e dizer que o sacrifício deles não é suficiente, alimentando ainda mais essa cultura de ódio a diversidade de corpos e sua consequência: oito milhões de estadunidenses (sete milhões mulheres) tem algum distúrbio alimentar. Um número incerto, visto que a maior parte das vítimas desses distúrbios não buscam tratamento e assim não fazem parte das estatísticas.

Garotas veem mais de 400 propagandas por dia
que dizem como elas devem aparentar.

O corpo designado feminino é alvo de muito ódio: ele é objetificado, só valorizado se considerado bonito, o cheiro que advem dele é considerado ruim e os pêlos que o cobrem vistos como anti higiênicos. A sociedade aponta defeitos em nossos corpos o tempo todo. E esse incentivo insano à dietas é mais uma face dessa misoginia.

E a Vogue, junto com outros veículos midiáticos, diz que é necessário ser magra a qualquer custo o tempo todo. Dizem isso através de fotos e matérias que dizem que só a magra pode vestir as roupas daqueles editoriais, que apenas a magra é bonita e feliz, reportagens que incentivam dietas, propagandas "vendendo" remédios de emagrecimento como se fossem inofensivos ou dizendo "comer pra quê?". Enquanto isso mais e mais mulheres aprendem e continuam a se odiar e a pensar que o "qualquer custo" é um preço justo a se pagar. 

E o Ativismo de Sofá repudia não só essa publicação, mas todas as que concordam com essa cultura de ódio.