Mononormatividade

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Eu não sou monogâmica. Gosto de me definir como RLi, ou seja, uma pessoa que tem por objetivo as Relações Livres, fora do esquema tradicional patriarcal e monogâmico. Acreditamos que não há um número limite de pessoas com quem podemos nos relacionar sexual e afetivamente, que não temos o direito de controlar o corpo do próximo, bem como ele não tem direito de controlar o nosso.
Mas esse não é para ser um texto didático. Não tenho a intenção de explicar o conceito de Relações Livres, seus princípios, como me envolvi com o assunto e tudo o mais (se vocês pedirem faço um texto só sobre isso depois), esse texto é mais um desabafo sobre coisas que a forma como a mononormatividade se manifesta nas pessoas. Assim como a heterossexualidade, a monogamia também é compulsória, portanto está enraizada nas pessoas a idéia de que as relações fechadas são mais “normais” que as outras e isso fica claro em determinadas atitudes. Atitudes chatas pra caralho.
Em meio a uma discussão sobre a atitude do casal Zilu e Zezé (sim gente, tem gente querendo ver se é mesmo legítima a decisão de abrir o casamento dos dois ou não, porque né, todos tem muito a ver com isso) li um “eu não acredito em relacionamentos abertos”. Espera. Para. Sinto informar, mas as relações abertas não são como deuses ou aliens, que você pode escolher acreditar ou não. Elas existem, você querendo ou não. Vai lá falar para gente que está junta há mais de 15 anos que não acredita na relação deles.  Dizer isso é algo extremamente reacionário que acha que a sua maneira de sentir e viver é a correta e todos os outros “não encontraram a pessoa certa ainda”.
A mononormatividade fica muito clara com a insistência das pessoas em se reafirmarem monogâmicas. Qualquer situação que não condiz com a escolha delas precisa entrar em desacordo, precisa ser negada de alguma forma, mesmo que de maneira inconsciente, mesmo que sem a intenção de ofender.
Por exemplo, eu tenho um ask.fm, sabem? Aquela rede social na qual as pessoas te mandam perguntinhas? E aí um dia esclarecendo algumas questões sobre RLi para um pessoal interessado, apareceu isso na minha página. Alguém, por algum motivo, não suportava me ver falando nas Relações Livres sem deixar claro que achava aquilo errado. Por que?
Outra vez comentando sobre as fotos de uma orgia que acabaram vazando na internet, eu e umas amigas dizíamos sobre como eram bonitas. A expressão das fotos passava uma sensação muito boa, de amizade, sabe? Todos ali pareciam muito a vontade com a situação, tinham uma cara de alegria, prazer e liberdade. Era muito encantador olhar. Mas algumas pessoas tiveram que dizer “ah, mas eu nunca faria” ou “ah para mim não rola, sou careta”. Para que?
Agora imagine só: Se em cada foto de casal que eu visse, eu resolvesse comentar “olha, muito legal, mas para mim não rola RISOS”, se toda vez que alguém falasse de amor, fidelidade, ou atualizasse o status do facebook para casado eu fosse lá e escrevesse “hum felicidade aí, mas eu nunca faria, não acredito nesse tipo de relação, flwssss”.
Parece tão difícil admirar a felicidade alheia se ela não se encaixa no seu ideal, não é? É como se ela de alguma forma te ameaçasse. Eu sei pessoal, que sendo criados nessa sociedade que já nos apresenta um ideal de casamento desde a infância é difícil aceitar outro tipo de relação de forma natural. Mas bem, elas estão aí, são normais e não tem a intenção de “corromper” o seu estilo de vida.
Tanto é que apontar a normatividade já soa como uma forma de ofensa a algumas pessoas. Elas se sentem caladas, embora na realidade sua voz é que esteja sendo castradora aos que não se enquadram na norma tomada como correta. É sempre bom pensar se essa visão não está encrustada em você antes de responder a pergunta "mas o relacionamento de vocês é fechado?" com "sim, tudo certinho".
Pessoas, relações e sexualidade não seguem um livrinho de regras. Get over it.