Ignácio Delgado sobre o malabarismo cronológico (e jornalístico) da Folha

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De Novo o Sigilo: só Lilico para entender Por Ignácio Delgado* 20/10/2010

Historiador, por dever de ofício, dá um enorme valor à cronologia. Por uma razão do senso comum. O que vem depois não pode ser causa daquilo que o antecede.

A Folha de São Paulo e o UOL, boletins de campanha de José Serra, assinalam que o inquérito da Polícia Federal permite (interpretação da Folha e do UOL) apontar a responsabilidade da campanha de Dilma pela quebra do sigilo fiscal de um pequeno grupo de tucanos que, ao que parece, têm muito a esconder.

A Folha e o UOL informam que o jornalista Amaury Junior participou da operação que resultou na quebra do sigilo EM OUTUBRO DE 2009. Informam, também, que o jornalista efetuava a operação a mando do jornal Estado de Minas. Dão voz ao jornalista, que esclarece estar agindo num contra-ataque às ações de José Serra contra Aécio, então seu adversário na disputa pela candidatura tucana à sucessão de Lula. Tais ações seriam efetuadas sob comando do deputado-delegado Marcelo Itagiba. (Muitos devem se lembrar das notas que saiam, ao final de 2009, na imprensa paulista comentando o estilo de vida de Aécio).

A Folha e o UOL desenvolvem, então, sua narrativa, assinalando que, em abril de 2010, Amaury participou de UMA reunião com certo Lanzeta, que trabalhava para a campanha de Dilma, como já trabalhou para os tucanos. A passagem de Amaury teria sido paga por um petista. Depois disto, Lanzeta foi excluído da campanha do PT. Amaury não foi contratado e a campanha de Dilma JAMAIS usou os dados que ele obteve na Receita, subsídios para um livro que afirma pretender lançar DEPOIS das eleições, relatando o submundo da privataria sob FHC. Este imbróglio tornou-se, por conta da Revista Veja, um “dossiê” contra os tucanos.

Do encontro EM ABRIL DE 2010, resultaria a responsabilidade pela quebra do sigilo dos tucanos efetuado em OUTUBRO de 2009. Dizem a Folha e o UOL que falta apenas apurar quem pagou a diária de Amaury em abril de 2010. Ficaria, então, provado que a campanha de Dilma é culpada pela quebra do sigilo feita em outubro de 2009. Como diria o Lilico: é bonito isto?

*Ignacio Godinho Delgado, historiador, sociólogo professor do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Juiz de Fora, saiba mais de sua produção aqui