Memórias do 11 de Setembro: Visita de Obama ao Chile

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Visita de Obama reabriu cicatrizes do golpe no Chile, diz analista Por: João Paulo Charleaux, Santiago, no Ópera Mundi 22/03/2011

A visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a Santiago foi concluída hoje (22/03) com um sabor amargo, provocado pela participação nebulosa que os norte-americanos tiveram no golpe militar de 11 de setembro de 1973, na morte do presidente socialista, Salvador Allende, e na instalação de uma ditadura militar que, em 17 anos, deixou um rastro de três mil mortos e desaparecidos políticos, além de 28 mil dissidentes torturados.

Diferente da passagem pelo Brasil, onde Obama visitou favelas e viu apresentações de samba e capoeira, a passagem pelo Chile foi mais curta, marcada por uma agenda executiva e questionamentos francos de alguns jornalistas sobre a responsabilidade dos EUA pelo golpe de 1973.

O presidente norte-americano repetiu um discurso normalmente utilizado pela direita chilena, de que é preciso olhar para o futuro e esquecer os eventos do passado. Mas Obama também prometeu “considerar” qualquer solicitação que os chilenos façam por novas informações sobre o papel da embaixada americana em Santiago nos anos 1970.

Hoje, é sabido que Henry Kissinger, secretário de Estado dos EUA durante o governo de Richard Nixon, teve participação ativa na queda de Allende. Cinco dias após o golpe, Kissinger disse a Nixon: “Nós ajudamos eles (os militares), criamos as melhores condições possíveis”. Nixon respondeu: “Certo. E essa é a forma como o jogo será jogado”.

“Os EUA já reconhecem que houve alguma participação (no golpe) e disse que vai colaborar para abrir as informações que sejam solicitadas. A resposta de Obama foi politicamente correta, mas a ferida é profunda”, disse ao Opera Mundi o analista chileno Rodrigo Álvares, do Global Consortium on Security Transformation em Santiago.

“A ascensão de Allende representou a primeira vitória democrática de um governo socialista, comunista pode-se dizer. Isso foi visto como uma mensagem muito poderosa para toda a região e é claro que preocupou a Casa Branca”, explicou Álvares.

Para ele, o fato de Obama ter chegado ao poder com promessas de transformações profundas, não significa que os EUA deixarão de executar uma política realista, cumprindo com um papel político conflituoso no mundo. “O papel dos EUA no Chile em 1973 foi parecido ao desempenhado em 2002 na Venezuela, no mesmo momento em que a Casa Branca ia à guerra no Afeganistão em nome de espalhar a democracia pelo mundo. Hoje, é a Líbia. Trata-se de um país com um enorme poder global, que excede a coisa personalista em torno de Obama.”

Participação brasileira

Além dos EUA, o Brasil também é acusado de ter criado as condições para que o golpe de 1973 tivesse sucesso. “O Brasil foi o primeiro país a reconhecer a ditadura Pinochet, o que não é surpreendente se você considerar que alguns dos idealizadores do golpe no Chile reuniam-se regularmente na embaixada brasileira em Santiago.

A ditadura brasileira também assessorou o regime Pinochet em técnicas de tortura e deu enorme apoio financeiro de emergência. No Brasil, entretanto, a ditadura foi mais institucional, menos personalista”, disse Heraldo Muñoz, que foi assessor de Allende em 1973, assumiu o cargo de embaixador do Chile na ONU e escreveu o livro A Sombra do Ditador - Memórias Políticas do Chile  sob Pinochet (Zahar, 394 páginas, R$ 59).

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