LICHAVERT

Não, Chilavert, futebol não é coisa para macho. É para homens e mulheres decentes

Folclórico ex-goleiro paraguaio pratica homofobia contra Vinicius Jr, apenas um jogador a mais a ter coragem, em público, de falar sobre pressão desumana que está sofrendo. Richarlison e outros falam em depressão

Richarlison sofreu com depressão.Créditos: Reprodução Twitter Richarlison
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Jose Luiz Chilavert, que chamarei a partir de agora de Lichavert, tem um belo passado como jogador. Já foi o goleiro mais artilheiro da história, superado por Rogério Ceni, já foi o melhor do mundo em 1995, brilhou no Velez, foi ótimo na Copa de 98 e, quando esteve na Espanha, no ano 2000, denunciou o racismo que sofria, sendo chamado pejorativamente de "sudaco".

Mesmo no auge, sempre esteve metido em polemicas. No ano passado, foi candidato a presidente do Paraguai e terminou com 0,7% dos votos. Prova de que o que fazia em campo será lembrado, fora dele será apenas bobagem. Nem sempre a bobagem é apenas bobagem. Pode ser perigosa ao refletir e incentivar preconceitos. "Vinícius Jr é um viadinho e futebol é para homem", disse, referindo-se ao desabafo do craque brasileiro antes do jogo contra a Espanha. 

Poderia ser apenas uma estupidez tipo quinta série, mas é muito mais. Lichavert está sendo porta-voz de um tipo de pensamento que precisa acabar. Quem acha que racismo não existe no futebol, que futebol é um mudo a parte, como fez o ex-zagueiro Donato, brasileiro naturalizado espanhol, faz muito mal à sociedade. Aliás, a última vez que Donato fez uma declaração que repercutiu foi quando, em 2020, pediu  intervenção militar no Brasil.

Se racismo é coisa de viadinho, o que LIchavert e Donato não pensam sobre depressão? Cada vez, aparecem mais casos. Richarlison, astro da seleção, disse que, após a Copa do Mundo foi muito ofendido. E, somado a problemas financeiros que teve com seu empresário, foi atacado por depressão. "Saía do treino e só queria ir para casa". Alisson, do São Paulo, chegou a pensar em bater o carro por querer, no ano passado. Alex e Thiago Ribeiro são outros jogadores que sofeream com depressão.

O jornal O Globo de hoje, dia 28 de março, traz depoimento de Carlinhos, artilheiro do Nova Iguaçu. Ele conta que nasceu em Jaú e estava muito sozinho em São Paulo, quando defendia o Corinthians. "Nisso, tive uma depressão feia. Chorava a toa em campo, não sabia me expressar ou explicar. Só queria ficar deitado, não tinha vontade de comer...Eu deveria ter um acompanhamento mais próximo, alguém para me orientar...A gente da periferia é criado pelo sistema e o sistema é o que? O Carlinhos vai ganhar dinheiro, fazer bagunça, filho e depois morrer de cirrose".

Carlinhos saiu do Corinthians, rodou por aí, Em 2021, estava no Audax. "Precisei ir para casa porque minha mãe estava tendo uns desmaios...Aí, meu pai liga e fala que ela tinha um tumor do tamanho de um limão no cérebro. Desabei. Foi a primeira vez que chorei um choro de alma..."Depois da operação, minha mãe só respondia apertando meu dedo. Parei por um ano. Sei que futebol passa rápido, mas precisava cuidar dela, Hoje, ela está melhor, falando, comendo, mas está cega".

Para Lichavert, talvez Carlinhos seja apenas um viadinho a mais. Mas ele é a prova de que o futebol é para todos: seres humanos frágeis, fortes, quem nunca sofreu, quem sofre a cada jogo....Futebol é até para homossexuais, por que não? E até para lixos como LIchavert.