Burguesia diferenciada

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Com essa história de uma parte dos moradores do bairro de Higienópolis, em São Paulo, não querer uma estação do metrô ali, para não atrair o que uma moradora chamou de “gente diferenciada”, uma forma tucana de se referir a pobres, eu me lembrei de algumas coisas. Primeiro do tipo de rico que não aceita convivência social com pobre. Pobre só serve pra empregado deles. Tem uns que ficam com nojo só de lembrar que pobre respira o mesmo ar que eles. Mas o fato de precisarem de pobres que limpem suas casas, cozinhem para eles, façam a segurança deles, sejam porteiros de seus prédios, babás de seus filhos e seus motoristas é um problema.  Por exemplo: convivendo com muita riqueza e ganhando pouco, morando em favela, alguns pobres se sentem tentados a meter a mão no patrimônio do sujeito. Há casos até de bandidagens brabas, como o segurança que seqüestrou e matou o filho do patrão. Aliás, nos sequestros para extorquir dinheiro quase sempre tem envolvimento de empregados – principalmente seguranças – da própria vítima ou policiais.  O cão de guarda às vezes se vira contra o dono.  Outro exemplo é Guarujá, cidade que era o balneário da alta burguesia. Precisavam de gente que trabalhasse para eles e foram chegando pobres e se instalando não no meio deles, mas em lugares, digamos, mais apropriados. Agora o que não falta lá é favela. Outra coisa que me lembrei é que a onda do politicamente correta chegou na forma de se referir a pobre. Antes, pobre era chamado de pé-rapado, joão-ninguém, zé-ninguém, zé-prequeté, lheguelhé, borra-botas, bunda-suja, berdamerda, pobre-diabo, pé-rachado, fulustreco, pé-de-poeira, janistroques, pé-de-chinelo, zé-dos-anzóis, bangala-fumenga e outros adjetivos do tipo. Alguns usam a palavra “humilde”, que pra mim é horrível. O sujeito não é de família pobre, é de família “humilde”. Quando escuto isso, a palavra humilde parece ter o sentido “que se humilha”, que é submisso. Sempre houve eufemismos como “de poucas posses”, “desprovido de recursos” e outros semelhantes. Agora pobre já foi promovido a “gente diferenciada”. Já é gente. Sem dúvida, os pobres estão progredindo. Se não na vida, no linguajar politicamente correto da burguesia diferenciada.