Miudezas para encher uma página

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Andei pensando numas coisas que gostaria de publicar aqui, mas que não justificam uma crônica inteira. Então juntei algumas delas. Confiram. * Morando no último dos quatro andares de um prédio na Vila Madalena, minha área de serviço é invadida frequentemente por bem-te-vis, maritacas, sabiás e sanhaços, que vão comer as frutas que deixo para eles, às vezes atacando também frutas que estão na cozinha. Ouvindo os bem-te-vis, concluí que os pássaros também têm sotaque. Aqui eles cantam rápida e repetidamente “bem-te-vi-bem-te-vi-bem-te-vi”, e na minha memória os bem-te-vis do interior cantam com mamolência: “beeeemmmm-te-viiiiiiii”. Confirmei isso recentemente, em São Luiz do Paraitinga, ouvindo um bem-te-vi cantar assim, com sotaque caipira, igual ao da minha terra. * A ciência tem evoluído com uma rapidez danada, e não sei por que ainda não inventaram pílulas de friorias. Isso mesmo, o contrário de calorias. Assim, a gente podia traçar uma feijoada com duas mil calorias e contrabalançar com algumas pílulas. * Dona Maria das Graças, beata solteira, virgem militante, ouvindo notícias sobre a ideia de se criar um “Dia do Orgulho Heterossexual”, como contraponto ao “Dia do Orgulho Gay”, está pensando em juntar colegas como ela (uma raridade, convenhamos – isso é que é minoria!) para lançar a proposta de criação do “Dia do Orgulho Virginal”. * Tive um colega de trabalho que se negava a usar guarda-chuva. Às vezes, saíamos andando pela rua São Bento ou rua Direita, no centro de São Paulo, sempre cheias de gente a pé (já eram fechadas para carros) e quando chovia ficava aquele mar de guarda-chuvas. Só o Heitor tomando chuva e se negando a usar o dito-cujo. E levando barbatanas de guarda-chuva na testa, no rosto e até nos olhos. Ele virava pra mim e dizia: “O povo brasileiro não está preparado para andar de guarda-chuva”. * Jogar na loteria hoje é difícil. Você está querendo fazer só uma fezinha e tem que enfrentar uma fila de gente pagando contas de luz, água, telefone e carnês do baú da felicidade, sacando dinheiro, pondo crédito em telefone pré-pago e não sei que mais. No caso de uma casa lotérica perto de casa tem mais: uma velhinha fica o dia inteiro à toa ali perto. Quando se forma uma fila grande, na hora do almoço, ela entra ostensivamente usando seus direitos de idosa, fura a fila e faz seu jogo e seus pagamentos bem devagar. Um dia, estava na fila para jogar e, de repente, ouvi latidos finos atrás de mim. Uma mulher estava com um cachorrinho pentelho no colo e ele não parava de latir. Ela olhou para mim e disse em tom de cobrança: “Ele não gosta de gente de boné”, insinuando que eu devia tirar o boné. Eu respondi que não gosto de cachorro pentelho. Não tiro o boné nem pra gente, vou tirar pra cachorro? * Com essa zorra atual na Inglaterra, lembrei-me de uma coisa que não tem nada a ver com ela. Um amigo que morou em Londres na década de 1970 me disse na época (e acreditei) que os bêbados podiam ir em cana (devia ser por uma noite, sei lá). Mas como não existia ainda o bafômetro, perguntei qual o critério para considerar uma pessoa bêbada. Era o seguinte: se o cara estivesse de pé, não podia ser preso. Assim, quando a polícia aparecia, tinha bêbado que se agarrava num poste, ficava de pé. Mas às vezes a polícia ficava ao lado, esperando ele se cansar. Aí, quando o cara punha a bunda no chão podia ser preso. E era. *“O Brasil não fez o dever de casa” ou “o Brasil tem que fazer o dever de casa” Quantas vezes li ou ouvi com raiva gente falando uma besteira dessas, como se o país tivesse que obedecer o FMI, os EUA e a Europa, no estilo “farei tudo que meu mestre mandar”. É uma expressão de gente submissa, influenciada por economistas de direita que defendem interesses do capital internacional. Odeio quando alguém sai com uma frase dessas. Agora gostaria de perguntar a eles: vocês estão cobrando que os Estados Unidos e a Europa Ocidental façam o “dever de casa”? * Lembro a quem interessar possa que em 31 de outubro (começando lá pelo dia 28) comemoraremos o Dia do Saci e seus amigos. E que continuamos querendo o Saci como mascote da Copa do Mundo de 2014, a se realizar no Brasil. Mas que seja uma Copa que mereça!