Será o Movimento dos Sem-Voto?

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As eleições para vereador me fazem lembrar a corrida de São Silvestre, em São Paulo. Um monte de gente entra na competição apenas pra aparecer, pra brincar, pra gozar... Quantas pessoas se candidatam a preencher uma das 55 vagas de vereador na Câmara Municipal de São Paulo este ano? Muitas centenas, acredito que milhares. No interior também há lugares com uns vinte ou mais candidatos por vaga. Muitos e muitos deles sabendo que não têm a mínima chance de serem eleitos, mas estão aí. Com o Google, fica fácil ver os nomes e apelidos de candidatos a vereador e prefeito em todos os municípios brasileiros. Candidata a prefeita, vou lembrar só uma: Iraldice Mão Cheirosa, de Graça (CE). Fuçando na internet, achei muitos candidatos a vereador usando apelidos safados. Por que fazem isso? Alguns acham que vão ser eleitos? Bom, para quem gosta, fiz uma lista de parte dos candidatos a vereador que vi pelo Google, Brasil afora. Em Dobrada (SP) tem o Merda; em Embu-Guaçu (SP) o Já Morreu; em Cachoeira (BA), o Hélio Quebra Bunda; em Juramento (MG) o Feioso; Em Jerônimo Monteiro (ES) o Luciano Bundão; em Mongaguá (SP) a Xereca; em Marechal Deodoro (AL) o Plínio, o Corno; em Realeza (PA) o Negão do Peru; em Barrinha (SP) o Sexta-feira; em Formosa (GO) oi Donizete Tá Ruim Mas Tá Bom; em Juruaia (MG) o Coxinha e o Tiãozinho Alegria; em Santa Vitória do Palmar (RS) o HVinícius de Oliveira, o Bunda. Em Cuiabá, a uma profusão de apelidos tão grande que nem vou citar todos, só alguns: Mandioca, Heverton Perereca, Eleomar Pacu, MC Banana Pedra 90, Misterpiu e Elias Veneno. Procurei a lista de Nova Resende, minha terra, e ela reafirma uma tradição local. Lá, usam “incorporar” como apelido das pessoas o nome de alguém mais conhecido da família. Por exemplo, vou falar de um amigo meu, mas mudando o nome dele. Digamos que seja Antônio. O pai dele era o Zezinho, mas Zezinho tem muitos, e esse ficou conhecido como Zezinho da Maricota, que era mais conhecido do que o velho. O Antônio ficou sendo Tonho do Zezinho da Maricota. O filho do Antônio, Carlinhos, ficou sendo Carlinhos do Tonho do Zezinho da Maricota... Ah, quando vier um filho do Carlinhos, esperem só... Fulano do Carlinhos do Tonho... Então, confirmando essa tradição, aí vão alguns candidatos a vereador da minha terra: Bel da Rosa do Grilo, Juliana do Amadeus da Jandira, Juninho do Arvo, Aurilene do Tião do Hilário (o Tião do Hilário era meu amigo – bom sujeito, gozador) e Luiz Guilherme do Vítor Luzia. Mas lá também tem alguns com apelidos diferentes, como o Tim Gaiola, o Coquinho, o Carminho, o José Batata e o Neguinho Novato. Zero voto Voltando aos candidatos que me parecem “atletas” fajutos da corrida de São Silvestre, em todas as eleições, não só para vereador, mas pra deputado também, a gente vai ver no final das apurações e não é incomum aparecer na listagem candidato que não teve nenhum voto. Nem ele mesmo votou nele. Por que fazem isso? Sei que muitos são funcionários públicos e, como candidatos, têm licença remunerada para fazer campanha, ganhando seus salários sem trabalhar. Assim, a candidatura deles não é pra valer. Aproveitam a licença para fazer campanha para o seu candidato a prefeito ou governador, ou para outros candidatos a vereador ou deputado que acreditam que vão vencer. Enfim, ganham uma graninha a mais durante a campanha eleitoral ou, pelo menos, esperam garantir apoio do político para quem trabalharam para se manter no emprego ou ganhar uma promoção. Mas conheci alguns que levaram a sério sua candidatura, e na hora H foi aquela frustração. Vou contar a história de dois deles, sem dizer de que cidade eram. Um deles, o Onofre, chegou em casa depois da apuração e foi recebido como vencedor, pela Margarete, sua mulher. Ela abraçou o marido, toda alegre, e perguntou: “Ganhou, benhê?”. Levou um pescoção. Ele tinha tido só um voto, o dele, e xingou: - Você me trai até no voto! Outro, o Abel, teve uma história parecida, mas não partiu pra porrada. Quando ela perguntou se ele havia sido eleito, ele reclamou: - Lina, ocê num voto nimim. Ela disse que tinha votado. “Votei, sim, Abel”. E ele contestou: “Mas cumé que eu tive só um voto?” Depois de alguma discussão, votei, num votô, resolveram ir ao juiz eleitoral tirar a prova, ver porque o voto dela não apareceu no resultado. O juiz pegou os mapas eleitorais e foi olhando os resultados de cada urna. E por fim esclareceu: - Realmente ela votou em você, Abel. Quem não votou você foi você mesmo. Seu único voto apareceu na urna dela. Você é que votou errado, Abel.