Chico Anísio, Mário Lago, Grande Otelo e a censura da TV Globo

Escrito en BLOGS el
Chico Anísio, numa entrevista reprisada da TV Brasil, de 8 de outubro de 2008, acaba de dizer: “o  meu contrato com a Globo reza que não posso criticar os programas da emissora, por isso pedi para o técnico bloquear os canais abertos. Assim não os vejo e não os comento”. É impressionante a censura que a TV Globo impõe a seus artistas e jornalistas, fazendo de conta que o que faz não é censura. No I Tribunal da Mídia, em 1987, coordenado à época pelo professor José Carlos Rocha, que lecionava na USP e na Metodista de SBC, uma testemunha não pôde comparecer, Grande Ottelo. O ator global havia confirmado a presença. Ele iria acusar a mídia. Diria, entre outras coisas, que era discriminado. Que não tinha o espaço que seu talento deveria lhe garantir no cenário nacional. Grande Otelo foi um dos maiores atores da história do Brasil, mas o contrato com a TV Globo o impediu de fazê-lo. Ele não pôde ir. Quando lancei o livro 16 linhas cravadas, de Mário Lago, vivi algo diferente, mas semelhante. Mário Lago já estava com seus 80 anos, mas não podia decidir sobre o que queria fazer. Dias antes do lançamento do livro, foi informado que precisava gravar. E numa ligação nervosa, me disse que achava que não poderia ir ao lançamento que estava agendado há meses. Ao fim, conseguiu convencer a direção da TV Globo que merecia aquela distinção. Ir ao lançamento do livro que havia dedicado alguns anos. Mas foi um favor que a emissora lhe prestou. A Globo não censura? Ao assistir a entrevista de Chico Anísio entendi melhor o significado dos contratos da TV Globo. Contratos não têm nada a ver com censura, certo? Afinal, contratos são contratos. Censura é querer regulamentar a mídia, a partir de um contrato com a sociedade. Quem sabe um dia isso mude.