Por que a intervenção militar no Rio não corre o risco de dar certo

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Não existe a menor possibilidade de a intervenção militar no Rio de Janeiro dar certo, mas falo a partir de uma perspectiva popular e do interesse cidadão. Não me refiro àqueles que a planejaram por interesse político e econômico. As Forças Armadas são ineptas pra atuar em situações de violência urbana. Isso já ficou claro em outros momentos. Das vezes que foi convocada pra agir em crises sob comando civil ela ampliou o contingente de agentes de segurança na rua. E aterrorizou comunidades com seus canhões. Não melhorou os índices de violência, não desbaratou organizações criminosas e, pior, ainda viu esses esquemas conquistarem gente dos seus quadros. Fora do Brasil aconteceu o mesmo. No México e na Colômbia a opção pelas Forças Armadas na segurança pública rompeu o último tecido institucional do Estado sem ligação com o tráfico. Foi um desastre. Mas por um tempo esse desastre foi vendido como sucesso, o que tende a acontecer no Brasil. Algo como foi o Plano Cruzado lá nos já remotos anos 80. A campanha midiática a favor dessa estapafúrdia solução que não encontra no mundo um paralelo de sucesso já começou. E a sandice em defesa da acrobacia chegou a tal ponto que o blogueiro Noblat, agora na Veja, deu piti porque os veículos internacionais disseram o óbvio: há risco democrático na medida . Não há espaço pra discordar e, como um trator gigante, vai se buscar um consenso em defesa de mais intervenções que, inclusive, não sejam negociadas com governadores. E impostas em nome da ordem. Tem dúvida sobre o consenso? Assista a GloboNews e veja como se comportam seus jornalistas e comentaristas. É constrangedor. Falam a mesma coisa, sem um senão de reflexão. Mas como mesmo assim a intervenção não vai dar certo, militares mais responsáveis já estão preocupados, apurou este blogueiro. Sabem que o fracasso pode levar a uma radicalização da linha dura. Os próximos capítulos dirão até onde vai o acordo Temer, Globo, parte do judiciário com o Supremo e com tudo (vejam a decisão que Rosa Weber tomou ontem). Pode ser um acordo de longo prazo, de médio ou apenas para arrumar as peças nos tabuleiros e voltar a ter o comando das ações. Eu aposto em algo pra além de outubro de 2018. O que significa jogar muito pesado nos próximos dias e isso incluiria ações espetaculares em breve. Não vai dar certo a intervenção militar no Rio mas, por um tempo, se fará crer que sim. E não é inteligente desprezar isso. Foto: Tânia Rego/Abr