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Há quem considere que a oposição nunca esteve tão unida na marcha que levaria à deposição de Dilma, Serra, Alckmin e Aécio teriam convergido para a tese do impeachment e fechado uma nova aliança em torno de Michel Temer.
Os vazamentos de encontros do vice-presidente com essas lideranças do PSDB e os recados que seus porta-vozes na imprensa têm enviado ao grande público de fato acabaram levando Michel Temer se se tornar, na definição de Ciro Gomes, em o Capitão do Golpe.
Afinal, Temer além de tudo é do mesmo partido de Eduardo Cunha, o presidente da Câmara que deu autorização para a abertura do processo de impedimento. E poderia, se assim desejasse, tê-lo desautorizado ou no mínimo reagido de forma dura à chantagem e à manobra do seu parceiro de partido político.
Temer é de fato um personagem central dessa história que ainda vai ter muitos capítulos, mas engana-se quem pensa que Aécio Neves se convenceu que o melhor caminho do país passa por depor Dilma e preservar Temer.
Aécio trabalha em outro sentido. E o sentido é este que Marina, que o apoiou no segundo turno, declara:
“Nossa atitude é de que de fato o Brasil seja passado a limpo. E se de fato os recursos da Petrobras foram usados pela campanha da presidente e do vice-presidente, o correto é que ambos os indicados possam ter o processo (eleitoral de 2014) anulado, como está lá no pedido que foi feito pelo PSDB”, disse ela.”
Ou seja, Marina e Aécio trabalham pela impugnação da chapa Dilma-Temer e pela convocação de novas eleições. Eles sabem que o tempo político deles é o recall da disputa de 2014. E que se ainda em 2016 vier a acontecer outra disputa presidencial, eles provavelmente seriam favoritos.
Mas como essa operação em que Marina é apenas sócia minoritária fecharia? Como se conseguiria em meio a um processo de impeachment no Congresso levar a termo a cassação da chapa pelo TSE?
Aécio Neves tem conversado com muita gente. E segundo dois senadores ouvidos pelo blogue, o candidato a presidente tem dito já há algum tempo, entre outras coisas, que a Operação Lava Jato só está em descontrole porque o governo é fraco. E que da forma como ela está sendo conduzida, todos sairão prejudicados.
Ou seja, pra bom entendedor, Aécio sinaliza que num governo dele haveria maior controle das investigações.
Mas o senador não estaria dando esses sinais apenas para o campo político. Alguns interlocutores seus no mundo empresarial estariam fazendo chegar a mesma história para grandes empresários da Lava Jato. E a cada dia esses sinais seriam mais explícitos e diretos.
O que isso significa?
Depende muito do que vier a acontecer nos bastidores. Como diz Mino Carta, é de conhecimento até do mundo mineral que todos os grandes partidos políticos receberam financiamento das principais empreiteiras e instituições financeiras do país. E que esses recursos sempre foram distribuídos muito menos numa proporção político-ideológica e muito mais num cálculo tecno-empresarial, pra usar uma palavra bonita.
Ou seja, os empresários distribuíam os ovos em diferentes cestas para não ficar numa situação desconfortável com quem viesse a se eleger.
E os métodos e mecanismos de distribuição sempre foram os mesmos. O dinheiro de um não era mais limpinho ou sujinho do que o de outro.
Mas para a narrativa da declaração de Marina Silva, o da campanha de Dilma poderia ter associação com escândalo da Petrobras. O que ela e Aécio receberam seriam, a partir desse entendimento, mais limpos.
Mas para esse roteiro dar certo, alguém vai ter denunciar a campanha de Dilma e preservar a de outros partidos.
E aí que entram a Operação Lava Jato e as delações premiadas.
As empreiteiras que ainda não fizeram acordo, como a Odebrecht, estão sendo pressionadas a delatarem. Mas agora, não basta apresentar qualquer coisa. É preciso ter algo substancialmente forte.
O juiz Sérgio Moro não ratificaria uma delação que não passasse, segundo entendimento de alguns advogados, pela campanha de Dilma ou por implicar o ex-presidente Lula.
Na delação da UCT essa porta para a campanha de Dilma já foi aberta.
Com as novas delações da Queiroz Galvão, por exemplo, isso poderia ser ampliado.
E as campanhas de Aécio e Marina, seriam preservadas, exatamente porque essas empresas estão fazendo o cálculo do dia seguinte.
Pessoas que têm acompanhado as delações mais de perto garantem que o roteiro das denúncias vão ter só um lado. Não vai haver delação contra o PSDB porque esses empresários precisam manter portas abertas para o futuro.
E que não haveria nenhum constrangimento em operar com essas empresas no futuro, mesmo depois de seus diretores terem jogado ao mar muitas lideranças políticas e empresariais.
O exemplo de Alberto Youssef é usado para demonstrar como no mundo dos negócios, a delação não é entendida assim como um pecado sem perdão.
Youssef delatou no caso Banestado. E depois passou a fazer o que fazia antes ainda em escala maior.
E agora delatou de novo.
Ou seja, as empreiteiras que estão delatando hoje, se preservarem um dos lados da política, poderão continuar operando no futuro. E fazendo o que sempre fizeram.
Não é o Brasil passado a limpo que está sendo oferecido a elas.
É um acordo que passa por jogar Dilma na cova dos leões do TSE e virar o jogo com uma nova eleição.
Este é o roteiro oculto que vem sendo operado por Aécio e no qual Temer terá o mesmo destino de Dilma, a cassação.
E um fim melancólico e polticamente vergonhoso.
Temer que não é bobo nem nada já teria feito consultas se uma eventual cassação desse tipo não poderia se restringir à cabeça da chapa.
O fato é, levando em conta a declaração de Ciro Gomes na entrevista a Mariana Godoy, Aécio ainda não entregou o posto de capitão do golpe nem para Cunha nem para Temer. Essa posição continua em disputa.