Temer se encontra com a morte política e pede tempo para terminar seu quadro...

Depois de Temer, seres desprezíveis como ele pensarão um pouco mais antes de aceitar se tornar o centro. Esse pode ser o lado bom desta história.

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Não sei se isso é parte de uma obra literária ou apenas uma dessas fábula dessas que se espalham. Mas me recordo dessa história sempre que presencio um processo agônico. Certo dia um artista plástico foi visitado pela morte, que veio buscá-lo. Ele tentou a sorte e pediu pra que ela lhe desse ao menos a chance de terminar um quadro. A morte assentiu. E o artista passou então a transformar a obra na sua tábua de salvação. A cada visita da morte ele dizia que ainda precisava de um pouco mais de tempo pra finalizá-lo. Ao perceber a estratégia a morte disse que como tinha aceitado o acordo iria cumpri-lo, mas que ao mesmo tempo o puniria. E aos poucos foi lhe impondo uma vida cada vez mais dura e sofrida. O artista primeiro foi ficando doente até ter complicações em todos os órgãos, perder a visão e o movimento das mãos. Ou seja, não tinha mais condições de continuar seu trabalho. Neste momento, passou a implorar para a morte vir buscá-lo. Mas ela não o ouvia. E o deixou apodrecer na sua agonia. Temer, diferente de José de Alencar, aceitou participar de um golpe. E o fez da forma mais escandalosa. Enviou carta a presidente e a vazou para o blogue do Moreno. Depois vazou um áudio com aquele que seria seu pronunciamento da posse. Recebia deputados no Jaburu. Dava entrevistas anunciando planos. Tudo isso enquanto Dilma batalhava para não ser golpeada. Foi, na precisa definição de Ciro Gomes, quando ainda havia quem confiasse nele, o capitão do golpe. Depois de assumir, começou a desenhar seu quadro. Entregou campos do Pré-Sal que eram da Petrobras para empresas gringas, enviou projetos de reforma trabalhista e da previdência para o Congresso, acabou com o Farmácia Popular, tirou recursos do Bolsa Família, reduziu investimentos no Minha Casa Minha Vida e foi acelerando. Achava que dessa forma seria preservado. Não foi, mesmo tentando pintar o quadro que a elite golpista queria sua biografia não permitia que estivesse naquele lugar que não era dele. Temer não é só um político sem virtudes. Ele é um qualquer. Uma pessoa desprezível. E que sempre só existiu articulando nas sombras. E a presidência da República torna qualquer um num ser visível. E a visibilidade tem seu charme, mas pode ser demolidora, porque não revela apenas nossas qualidades. A agonia de Temer tem a ver com isso. Ele não consegue mais ficar nas sombras, o lugar no qual sabe operar. E por isso está tendo um fim horroroso. Um fim que entrará para a história de maneira exemplar. Depois de Temer, seres desprezíveis como ele pensarão um pouco mais antes de aceitar se tornar o centro. Esse pode ser o lado bom desta história. Mas por outro lado, o quadro de Temer continuará sendo pintado se Rodrigo Maia assumir. Ele não mudará o rumo do governo, pelo contrário. E quem é mais importante nesta história não é Temer, mas o quadro que ele pinta. O quadro é a moral da história. Temer é apenas o amoral.