A vida de Lula e o futuro do PT e da centro esquerda no Brasil

O PT precisará tomar decisões relevantes nas próximas semanas que irão refletir no destino da centro-esquerda por uma boa parte do futuro próximo

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O PT está diante do seu maior desafio histórico. Tem que lutar contra uma perseguição kafkiana da justiça e dos aparelhos de força do Estado, denunciar a prisão e lutar pela liberdade do seu maior líder e se organizar para disputar (se ela vier a ocorrer, claro) as eleições deste ano que serão entendidas como um tira teima do Golpe 16. Não seria tarefa fácil para qualquer partido do mundo. E por isso é covardia destacar os defeitos do PT ao invés de abordar a perseguição que tem sofrido. Que o faz ter uma vida muito diferente, por exemplo, da que leva o PSDB. Que mesmo tendo inúmeros de seus líderes denunciados, não é acossado pela justiça. Se havia alguma dúvida acerca da diferença de tratamento, ela caiu por terra ontem quando a justiça encaminhou a investigação das doações da Odebrechet a Alckmin para a Justiça Eleitoral, tirando-a do âmbito da Lava Jato. O escárnio já nem pede mais licença. Dito isso, o PT mesmo perseguido e enfraquecido do ponto de vista organizacional pela forma como vem sendo tratado não tem direito a milongas. Precisará tomar decisões relevantes nas próximas semanas e elas irão de alguma forma definir o destino da centro-esquerda por uma boa parte do futuro próximo. Se errar, isso pode levar Lula a amargar o resto da sua vida na prisão e tirar a centro-esquerda de disputar com chances as eleições presidenciais por muitos anos. Com todo o respeito que merecem outros partidos da esquerda e da centro-esquerda, o jogo do futuro próximo do Brasil se define a partir do que acontecer com o PT. E de todas as difíceis decisões que tem a tomar, a mais difícil é como vai disputar as eleições de 18 se elas vierem a ocorrer. Hoje à boca pequena e às vezem nem tanto, são debatidas algumas hipóteses. A quase líquida e certa é que o PT vai registrar a candidatura de Lula. Quase tão certo como isso é que a justiça eleitoral vai cassá-la. E aí o partido terá pouco tempo para decidir sobre o que vai fazer. Levando em consideração, inclusive, que os arranjos estaduais já estarão definidos, lá para 10, 15 de setembro, quando isso vier a acontecer. A partir desta definição o PT pode promover o vice de Lula para ser o cabeça de chapa. Correm com chance, hoje nesta ordem: Haddad, Jacques Wagner, Patrus Ananias e Celso Amorim. Neste caso, quem vier a ser definido como vice deve ser o herdeiro da chapa. Até porque estará, se Lula tiver preso, fazendo campanha Brasil afora em seu nome. O problema desta hipótese é que se o PT não levar o seu candidato ao segundo turno ele ficaria desmoralizado, porque perdeu no voto. Se for ao segundo turno e perder, da mesmo forma legitimaria o processo eleitoral e teria de ficar lutando para tirar Lula da cadeia, só que mais desarticulado e com menos força de discurso do que antes. A outra hipótese que alguns começaram a aventar depois dos eventos de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos é que ele poderia estar pensando em fazer com que Boulos e Manuela formassem uma chapa conjunta para, no caso de ele não poder disputar, o PT vir a apoiar de forma indireta esta chapa, ficando fora da disputa presidencial, mas fortalecendo muito as candidaturas nos estados. Por fim, a opção Ciro. Ele que poderia ser a primeira opção, hoje tem imensa rejeição no partido muito em decorrência da forma como se mexeu durante o episódio da caça ao Lula por Sérgio Moro. O PT acha que Ciro não foi suficientemente leal neste episódio e atribui isso a sua sede pela presidência. Mas se Lula bancar que o partido deve apoiá-lo, o PT o fará. E Ciro conta com a falta de opção de Lula para isso. Ciro teria que neste caso fazer um discurso claro de que se viesse a ganhar seu primeiro ato seria indultar o ex-presidente. E que durante o seu governo Lula e o PT teriam papéis estratégicos. Isso poderia levar o PT a Ciro mais por falta de opção do que de qualquer outra coisa. Qualquer uma dessas decisões é muito difícil de ser tomada. E por isso o desafio é imenso. Essa decisão tendo não só a decidir o futuro do partido, mas a vida de Lula. E, apesar disso, não é prudente que ninguém a tome isoladamente. Nem Lula.