Moro passa pela prova do Senado, ganha fôlego, mas deixa um fio desencapado sobre os dados do Telegram

Moro passou pelo teste do Senado, mas deixou uma porta aberta. Foi assim com Eduardo Cunha quando foi à sua primeira sabatina na Câmara. Ele disse que não tinha contas no exterior. E depois isso lhe custou o mandato.

Foto: Pedro França/Agência Senado
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O ministro Sérgio Moro ficou à disposição dos senadores da Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ) praticamente por nove horas seguidas. Bem ao seu estilo, falou como se fosse um monge tibetano sem alterar a voz. E para não se perder, repetiu bordões ensaiados. Não dando espaço para se passar como alguém em desespero. Esse era o seu grande risco. Num ambiente menos difícil do que o normal nessas ocasiões, Moro usou a velha tática dos políticos tradicionais, fugir das perguntas incômodas. E quando acossado, fazia-se de vítima, não respondendo. Inscreva-se no nosso Canal do YouTube, ative o sininho e passe a assistir ao nosso conteúdo exclusivo Com isso, Moro venceu essa primeira batalha. E ainda conseguiu jogar para o The Intercept a suspeita de ter agido com criminosos para realizar a investigação da Vaza Jato, repetindo à exaustão que uma organização criminosa hackeou juízes e procuradores com o objetivo de anular a Operação Lava Jato. Aliás, o “sucesso” da Lava Jato foi seu escudo principal durante a sabatina. Mas Moro deixou um fio desempacado e que pode ser utilizado contra ele. Alguns senadores, entre eles Randolfe Rodrigues (Rede), do Amapá, lhe perguntaram se estava disposto a liberar o Telegram para fornecer os dados de suas conversas que poderiam mostrar se agiu contra a lei em ações judiciais quando era juiz. Num primeiro momento, Moro disse que não tinha nada contra, mas que isso era tecnicamente impossível. Quando Randolfe argumentou que o Telegram havia publicado no Twitter que se Moro autorizasse poderia entregar os dados à Justiça, Moro não respondeu. Fez-se de desentendido e repetiu que as conversas foram criminosamente hackeadas. O ministro que, como juiz quebrava o sigilo de todos que caiam nas suas garras, não respondeu de forma clara e assertiva sobre a quebra do seu sigilo. O que poderia esclarecer as reportagens do The Intercept Brasil e se, ele é inocente, como diz, lhe livrar de constrangimentos como o de hoje. A não autorização da quebra do seu sigilo ainda é insuficiente para lhe criar grandes problemas, mas muitos senadores devem ter anotado esse ponto. Que foi a parte sensível do seu depoimento de hoje. E que pode abrir uma estrada para o que virá. Moro passou pelo teste do Senado, mas deixou uma porta aberta. Foi assim com Eduardo Cunha quando foi à sua primeira sabatina na Câmara. Ele disse que não tinha contas no exterior. E depois isso lhe custou o mandato. O primeiro round foi de Moro, mas ele tomou um soco no fígado. E isso pode ser decisivo no percurso do confronto que só começou hoje. Até porque muitos políticos querem comer o fígado de Moro. Que lhes tratou como bandidos e não lhes deu nenhuma possibilidade de defesa quando os investigou.