Política: o que isso tem a ver com criação dos nossos filhos?

A política feita em casa antecede a política feita em sociedade, já que os valores cultivados em família são levados para o convívio social pelo resto de nossos vidas

Ato pela Democracia no Largo da Batata em São Paulo - Foto: Guilherme Gandolfi / @guifrodu
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Política é tudo que envolve nossas relações sociais. A palavra surgiu na Grécia antiga, quando a sociedade organizava as "pólis", as chamadas cidades-estados no termo que dá origem a "politikus", daquilo que pertence aos cidadãos, e evolui - em diversos estudos acadêmicos - até chegar em nossa política, assim mesmo, em português.

Viver é um ato político. E é na placenta social que chamamos de família onde aprendemos a fazer política. Criar filhos, portanto, é um ato político.

A política se inicia dentro de casa, quando precisamos flexibilizar aquilo que valorizamos e acreditamos, para melhorar o convívio familiar.

Isso acontece quando duas pessoas se unem e precisam compartilhar crenças e valores comuns para conviver. E se acentua com a chegada dos filhos, quando é preciso definir caminhos e alinhar aquilo que trazemos em nossas bagagens ancestrais, transmitidas por nossos pais, para margear os seres que chegaram às nossas casas.

A convivência em família é a forma de preparação para o convívio social. Para pertencer à "pólis", buscamos antes pertencer à família, desenvolvendo valores e crenças que, junto com o temperamento, formam a nossa identidade e norteiam nosso comportamento.

Essa formação do "eu" é essencial para o desenvolvimento da sociedade, pois todo comportamento aprendido na família é, em um segundo momento, reproduzido na escola e depois na "pólis".

Se quando ainda crianças aprendemos a acolher nossas emoções - sejam elas a alegria, a tristeza, o medo, a raiva - sem projetar a "culpa" no outro, começamos a compreender que somos responsáveis por nossos sentimentos e (re)ações.

Podemos fazer um exercício prático da política em casa ao decidir, por exemplo, como desejamos criar nossos filhos. Se nós, pais, nos colocamos na posição daqueles que mandam, enquanto os filhos precisam obedecer, desenvolvemos um modelo autocrático, baseado na repressão de sentimentos como medo, raiva etc, que um dia virão à tona - como quando seguramos sob a água da piscina aquelas grandes bolas de parque.

Obediência não é sinônimo de respeito. Muito menos de amor.

Quando, no entanto, os pais estão predispostos também a aprender em um caminho de criação respeitoso, que acolhe os sentimentos dos filhos e das próprias crianças interiores, em um processo de criação consciente e colaborativo, baseado no respeito às diferenças - "meu filho não é e não precisará ser igual a mim" - a visão altruísta, de que o outro é importante para meu densevolvimento, norteará os passos dessas crianças na "pólis".

A política feita em casa, portanto, antecede a política feita em sociedade, já que os valores cultivados em família são levados para o convívio social pelo resto de nossos vidas.

É na formação da identidade que desenvolvemos nossas percepções sensoriais para nos lançarmos ao mundo, formando nossa base política, ideológica. E, quando criamos filhos e fazemos política em casa, nos resta saber, parafraseando Paulo Freire, se a base que queremos transmitir é inclusiva ou excludente.