DIÁRIO DA CHINA

Os desafios de um isolamento longe de casa

Como tem sido estar do outro lado do mundo cumprindo quarentena e me adaptando a novos hábitos alimentares

Créditos: Reprodução internet - Suíte onde cumpro a quarentena na China
Créditos: Reprodução internet
Créditos: Acervo pessoal - Aderi à dieta de frutas deliciosas da China
Créditos: Acervo pessoal - Hoje recebi pão branco e café no café da manhã, além de uma salada e bebida láctea.
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Perto dos 50 anos - completo 49 em novembro - me considero uma pessoa extremamente caseira. Tanto que não tive muita dificuldade de encarar a quarentena quando a pandemia de Covid-19 chegou ao Brasil. Cheguei a sentir saudades de ser convidada para sair e recusar, como de praxe. 

Só que agora a história é outra, pois estou do outro lado do mundo. Há um misto de ansiedade, curiosidade, saudade e solidão. Estar longe dos filhos, da cachorrinha ainda filhote, da família, dos amigos, das plantas e objetos é uma barreira que tenho tentado superar dia após dia. Sou extremamente ligada à minha personalidade no ambiente que ocupo. 

Há também o desafio da alimentação. Eu tenho hábitos alimentares brasileiríssimos. Pela manhã, acordo com um café preto bem forte. Mais tarde tomo mais café acompanhado de um misto quente e ovo cozido ou mexido. No almoço, o trivial clássico: arroz, feijão, algum tipo de carne, legumes, salada. À tarde e à noite faço lanches ou janto. Confesso que adoro um refrigerante. Não sou fã de doces. Só sinto vontade mesmo quando estou de TPM. 

Uma coisa é a gente ir a um restaurante de uma outra cultura para conhecer um prato novo. Bem diferente de se adaptar a hábitos alimentares radicalmente diferentes do meu do dia para a noite. Ainda mais durante um período de isolamento, num país distante e em um hotel. 

Para mim foi um choque ter sopa no café da manhã. Eu sou do time da Mafalda, a personagem de Quino, o quadrinista argentino, e simplesmente não tolero o prato desde criança. Há ainda legumes, vegetais apimentados, pães doces, fofos e recheados e uma bebida láctea de caixinha com sabores.

Sou do time da Mafalda e não tolero sopa.

No almoço há legumes, verduras e mais de um tipo de carne. Tudo com pimenta. Muita pimenta. E arroz no estilo chinês, grudadinho e adocicado, o que para uma filha de goiana é uma experiência radicalmente diferente (na minha região o arroz é temperado com bastante alho e é bem soltinho). De sobremesas frutas que, de longe, são as mais saborosas que já comi na vida. Além de água, muita água. 

Claro que não vou julgar a culinária da cidade a partir dessa experiência em um hotel.  Embora seja a minha única referência. Como a China é um país continental, acredito que assim como ocorre no Brasil, os tipos de comida variam de região para região. Eu estou no sudoeste do país e por aqui o pessoal adora uma pimenta. Eu até gosto, de vez em quando, não todos os dias.

Aderi à dieta baseada nas frutas deliciosas da China.

A solução que encontrei foi aderir às frutas e pedir a inclusão de café e pão branco da refeição matinal. Fui prontamente atendida e até a minha disposição melhorou. Acho que estava com abstinência de cafeína e glúten.

Resolvida a abstinência de cafeína e pão branco.

Para driblar a solidão o jeito é teclar, estudar, conversar com os amados por chamadas de vídeo, ouvir música e assistir filmes pelo computador. A televisão eu liguei uma vez só. 

O grupo de jornalistas no WeChat (o WhatsApp da China) com os quais eu vou participar do programa também tem me ajudado bastante. Hoje, por exemplo, pedi sugestão de músicas e estou conhecendo canções de vários países latino-americanos. 

Fazer esse diário é outra forma de ajudar a driblar o impacto emocional dessa experiência e frear um pouco a ansiedade da sensação de nada que é estar em isolamento. Reflito bastante no tema que vou abordar e espero que vocês estejam curtindo.

Até a próxima!