Orgulho

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Estou emocionada com as ocupações que estão ocorrendo nas escolas de São Paulo. Creio que não estou sozinha nesse sentimento. Muitas das ocupações têm um tom anarquista e anarquizante, revolucionário inclusive do ensino e da forma de aprender. Uma das postagens mostrava uma sala de aula reorganizada, com as carteiras em círculo, as pessoas livres para escolher o que querem aprender, quando e como. Me encanta que a revolução do ensino possa partir des alunes e não des professores e demais profissionais da área da educação. Faz tanto sentido! A libertação não como algo concedido pela parte opressora, mas como algo conquistado pela parte oprimida. A poesia disso me faz sorrir enquanto escrevo. No entanto, tenho visto muitas pessoas expressarem sua emoção dizendo que sentem "orgulho" dessas pessoas jovens. O que é esse orgulho? O que é sentir orgulho? Dando um google, a primeira definição que encontramos é esta:Captura de tela de 2015-11-30 15:38:41 Tem como a gente se orgulhar de algo que outra pessoa fez? Eu já vi uma pessoa falar que tem orgulho de descender de não sei quem que fez não sei quê. Daí perguntei a ela: e você? Fez o quê? E ela não soube me responder. Eu não vejo problema em nos orgulharmos daquilo que consideramos serem nossas conquistas. Mas me parece estranho a gente se orgulhar das conquistas de outras pessoas. Porque elas não são nossas. A gente pode estar junto, a gente pode ter testemunhado, mas, se não participamos delas, elas não são nossas. Então, eu sinto que essa coisa de dizer que se tem "orgulho" de outra pessoa ou de algo que ela fez é uma forma de a gente se apropriar do mérito que é dela. Falar como se tivéssemos participação nele. Eu amo mes filhes. Mas não sinto orgulho deles, porque não são coisas que eu fiz. São pessoas. Menos ainda me orgulho das coisas que eles fazem. Porque as coisas que eles fazem são feitas por eles, não por mim. Não me cabe orgulhar-me delas. Posso admirá-las, posso ficar feliz por elas, posso vibrar com elas, posso torcer para que dêem certo, posso apoiá-les. Mas orgulhar-ME delas não faz sentido para mim. Voltando às ocupações nas escolas, temos muito a aprender com esses estudantes. De alunes, se tornaram nosses mestres. E há pessoas que estão tendo dificuldade de lidar com ver gente tão jovem fazendo coisas que elas muitas vezes não conseguiram articular em uma vida inteira de militância. Então vem a necessidade de desmerecer esse movimento, ou se apropriar dele de alguma forma. De um lado, aparecem críticas ressentidas, expondo e ressaltando falhas e ignorando as inúmeras coisas boas e lindas que estão acontecendo. De outro, aparece o orgulho condescendente da pessoa adulta que, diante da pessoa jovem que a supera, passa-lhe a mão na cabeça e diz "muito bem", como se o intuito devesse sempre ser o de obter sua aprovação. Menos orgulho. Mais admiração. (Foto de capa: O Mal Educado)