É difícil pra um menino brasileiro sem consideração da sociedade crescer um homem inteiro...

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Estou cada dia mais fã do Emicida. E esta parceria com a Elisa Lucinda é de uma beleza ímpar:
Milionário do sonho (Elisa Lucinda) É o que eu digo e faço, não suponho, sou milionário do sonho É difícil para um menino brasileiro, sem consideração da sociedade, crescer um homem inteiro, muito mais do que metade Fico olhando as ruas, as vielas que ligam meu futuro ao meu passado e vejo bem como driblei o errado, até fazer taxista crer que posso ser mais digno do que um bandido branco e becado Falo querendo entender, canto para espalhar o saber e fazer você perceber que há sempre um mundo, apesar de já começado, há sempre um mundo pra gente fazer, um mundo não acabado Um mundo filho nosso, com a nossa cara, o mundo que eu disponho agora foi criado por mim, euzin, pobre curumim, rico, franzino e risonho, sou milionário do sonho Ali vem um policial que já me viu na TV espalhar minha moral Veio se arrepender de ter me tratado mal Chegou pra mim sem aquela cara de mau: Fala, mano, abraça, mano Irmãos da comunidade, sonhadores e iguais, sei do que estou falando Há um véu entre as classes, entre as casas, entre os bancos Há um véu, uma cortina, um espanto que, para atravessar, só rasgando Atravessando a parede, a invisível parede, apareço no palácio, na tela, na janela da celebridade, mas minha palavra não sou só eu, minha palavra é a cidade Mundão redondo, Capão Redondo, coração redondo na ciranda da solidariedade A rua é noiz, cumpadi Quem vê só um lado do mundo só sabe uma parte da verdade Inventando o que somos, minha mão no jogo eu ponho, vivo do que componho, sou milionário do sonho Vou tirar onda, peguei no rabo da palavra e fui com ela, peguei na cauda da estrela dela A palavra abre portas, cê tem noção? É por isso que educação, você sabe, é a palavra-chave É como um homem nu todo vestido por dentro, é como um soldado da paz armado de pensamentos, é como uma saída, um portal, um instrumento No tapete da palavra chego rápido, falado, proferido na velocidade do vento, escute meus argumentos São palavras de ouro, mas são palavras de rua Fique atento Tendo um cabelo tão bom, cheio de cacho em movimento, cheio de armação, emaranhado, crespura e bom comportamento, grito bem alto, sim: Qual foi o idiota que concluiu que meu cabelo é ruim? Qual foi o otário equivocado que decidiu estar errado o meu cabelo enrolado? Ruim pra quê? Ruim pra quem? Infeliz do povo que não sabe de onde vem Pequeno é o povo que não se ama, o povo que tem na grandeza da mistura o preto, o índio, o branco, a farra das culturas Pobre do povo que, sem estrutura, acaba crendo na loucura de ter que ser outro para ser alguém Não vem que não tem, com a palavra eu bato, não apanho Escuta essa, neném, sou milionário do sonho Por isso eu digo e repito: Quem quiser ser bom juiz deve aprender com o preto Benedito O mundo ainda não está acostumado a ver o reinado de quem mora do outro lado da ilusão A ilusão da felicidade tem quatro carros por cabeça, deixando o planeta sem capacidade de respirar à vontade, a ilusão de que é mais vantagem cada casa, mais carro que filho, cada filho menos filho que carro Enquanto eu com meu faro vou tirando onda, vou na bike do meu verbo tirando sarro Minha nave é a palavra, é potente o meu veículo sem código de barra, não tem etiqueta embora sua marca seja boa, minha alma é de boa marca, por isso não tem placa, tabuleta, inscrição Meu cavalo pega geral, é pegasus, é genial, a palavra tem mil cavalos quando eu falo Sou embaixador da rua, não esqueço os esquecidos e eles se lembram de mim, sentem a lágrima escorrer da minha voz, escutam a música da minha alma, sabem que o que quero pra mim quero pra todo o universo, é esse o papo do meu verso Mas fique esperto porque sonho é planejamento, investimento, meta, tem que ter pensamento, estratégia, tática Eu digo que sou sonhador, mas sonhador na prática Tô ligado que a vida bate, tô ligado quanto ela dói, mas com a palavra me ergo e permaneço, porque a rua é nóiz Portanto, meu irmão, preste atenção no que vende o rádio, o jornal, a televisão Você quer o vinho , eles encarecem a rolha, deixa de ser bolha e abre o olho pra situação A palavra é a escolha, a escolha é a palavra, meu irmão Se liga aqui, são palavras de um homem preto, samurai, brasileiro, cafuzo, versador, com tambor de ideias pra disparar Não são palavras de otário, já te falei, escreve aí no seu diário: se eu sou dono do mundo, é porque é do sonho que eu sou milionário! Ficha técnica Voz: Emicida e Elisa Lucinda Gravado no C4 por Luis Lopes e Gabriel Bueno

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