Courrier Internacional: Uma imprensa contra Lula

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O que é visível lá fora, é invisível aqui dentro devido ao monopólio midiático.

Reproduzo uma matéria do jornal francês Courrier Internacional (publicado antes do primeiro turno) sobre o papel de partido político de direita assumido pela grande mídia brasileira que abandonou o jornalismo pra fazer oposição criminosa na defesa de seus interesses comerciais.

Ela continua válida. Gostaria de ler matéria do Courrier após a capa da Veja desta semana, negada como sempre pelos próprios citados (Tuma Jr. em O Globo de hoje disse não ter nenhuma das gravações atribuída a ele pela matéria de Capa de Veja desta última semana) ou depois do episódio grotesco do Kamel em dobradinha com a Folha sobre o objeto 'transparente não identificado' (um verdadeiro OVNI), cuja edição feita no Rio de Janeiro foi vaiada pelos próprios jornalistas globais da redação de São Paulo

Uma imprensa contra Lula 30/09/2010, no Courrier Internacional Tradução: Uriel Mikowski, Revisão Beatrice

Por três semanas seguidas, em setembro, Veja ataca LULA ("lula" em português), alcunhado como "o polvo". Aqui o "polvo" ameaça  engolir tudo: 1 o serviço público: "O partido do polvo", 2 o dinheiro dos contribuintes: "O polvo no poder", 3 o palácio presidencial: "A alegria do polvo", 4 Segundo a Folha de S.Paulo de 5 de setembro: "Devido a um erro de Dilma, os consumidores deverão pagar 1 milhão de reais", 5 Segundo o EXTRA de 1° de setembro "Lula é bonito". Uma manchete irônica, considerando a capa.

RIO DE JANEIRO: Na reta final da campanha, saem faíscas entre os grandes jornais e o governo. Esse fenômeno já havia acontecido por ocasião da reeleição de Lula em 2006, com as classes mais abastadas.

Quatro grandes famílias dividem entre si o controle das principais mídias: os Marinho, proprietários do jornal diário O GLOBO e da todo-poderosa REDE GLOBO de Televisão, os Mesquita, do Estado de S. Paulo, os Frias, da Folha de S. Paulo e os Civita, da editora ABRIL, responsável pela principal revista semanal, VEJA. Essas grandes famílias nunca assimilaram a eleição de Lula, este presidente pouco instruído, vindo de um estado pobre e saído do sindicalismo.
Recentemente essas mídias desencadearam uma campanha contra Dilma Rousseff, a candidata de Lula, na esperança de remover da Presidência o Partido dos Trabalhadores: publicaram então muitos balanços negativos dos anos LULA e artigos escandalosos sobre os casos de corrupção que marcaram os oito anos de governo do PT. É verdade que o próprio governo deu munição para seus adversários com uma sucessão de escândalos: o mais famoso deles, o chamado “Mensalão” em 2005, custou o cargo do primeiro-ministro José Dirceu, então candidato natural à sucessão

Dilma Rousseff ainda não se elegeu e deve enfrentar as acusações de tráfico de influência que causaram a demissão de seu braço direito Erenice Guerra em 16 de setembro. Na semana passada, via-se nas ruas de São Paulo manifestações "em defesa da democracia",  mas também outras "contra os abusos da imprensa".

As relações de Lula com a imprensa nunca foram cordiais. Em 2004, a Presidência chegou até a ameaçar de expulsão o correspondente do The New York Times, Larry Rohter, que insinuou que Lula bebia demais 5 (veja também este artigo, escrito por Larry Rohter). Na véspera das eleições, o Presidente continua  a se  queixar da atitude hostil da mídia com relação ao PT, o que suscita reações indignadas de tais meios. Muitos editoriais o criticam por dedicar-se demais à campanha de sua candidata em detrimento dos assuntos de Estado.

O tom das acusações algumas vezes é caricatural. Assim, a Folha de São Paulo em setembro não hesitou em considerar Dilma Rousseff responsável pela perda de 1 milhão de dólares (veja a primeira página da Folha de São Paulo acima) por ter demorado demais para mudar uma lei do setor elétrico que havia sido aprovada no final do mandato de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002).  No entanto, o eleitorado não se deixa enganar: em função dessa matéria circularam maciçamente no Twitter piadas que  atribuíam a Dilma Rousseff  todos os males do mundo.

A imprensa aliás parece ter perdido sua antiga influência de outrora. O fato de seus leitores se situarem majoritariamente na região sudeste, a mais rica do país, limita seu raio de alcance no presente. A sociedade de agora tem acesso à informação através de milhares de ONGs e associações, sem esquecer o papel essencial da internet. E as cadeias de televisão de acesso gratuito, que continuam, de longe, a mais importante fonte de informações, adotaram uma certa prudência nas suas críticas ao governo, sem dúvida para evitar a perda de sua audiência natural, constituída pelos menos favorecidos e pela classe média baixa, que continuam a apoiar um presidente que se assemelha a eles.