Dona Cidoca, Haddad, a Cracolândia e minha feijoada

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Vinha agora no ônibus sentada ao lado de uma senhora, 70 anos, negra, recém aposentada, 22 anos de trabalho doméstico e mais 20 anos de trabalho numa creche municipal. Segundo ela ainda não caiu a ficha da aposentadoria e ela não sabe bem o que fazer quando acorda toda manhã.

Eu trazia uma feijoada em uma quentinha na sacola. Almocei num pé sujo da Praça da Sé depois o périplo no Poupatempo para fazer pela 3a vez em menos de um ano minha carteira de motorista. Me irritei com  os oportunistas do entorno, mas também encontrei figuras interessantes, como um jovem, ex-evangélico e atual espírita, que liga constantemente para a Record para reclamar da criminalização das religiões afrobrasileiras no Fala que eu te escuto e que condenava com veemência a homofobia dos pastores políticos midiáticos.

Dona Cidoca (que encontrei no ônibus) comentou o cheiro da feijoada. Expliquei a ela que havia almoçado, mas como a cumbuca era muito grande, embalei e pretendia dar a algum morador de rua, mas estranhamente não encontrei nenhum. Ela me responde:

O centro está mais limpo, o pessoal que ficava na rua agora está empregado limpando as ruas e dorme nos hotéis.

Ela como eu percebeu diferenças expressivas andando no centro da cidade.

E ela concluía: "esse menino é  humano, (se referindo a Haddad), tem gente que só precisa de uma chance. Ele está dando esta chance.

Por isso não me surpreende nem um pouco os dados apresentados na notícia reproduzida ao final deste post: Participantes de programa reduziram uso de crack em até 70%, diz Haddad

Mesmo vivendo numa sociedade conservadora como a nossa,  mesmo com o Denarc que temos (veja aqui, aqui e aqui), mesmo com o governo do estado que temos, mesmo com a mídia que temos e com a polícia militar que temos, dona Cidoca é capaz de ver que a operação Braços Abertos precisa de nosso apoio, do apoio daqueles que ainda não enlouqueceram, não naturalizaram a violência e se tornaram incapazes de ver onde residem os verdadeiros problemas de segurança pública.

Que Dona Cidoca continue conversando no ônibus, iluminando mentes conservadoras.

A matéria abaixo foi sugestão do professor Carlos Emilio Faraco:

Participantes de programa reduziram uso de crack em até 70%, diz Haddad

Letícia Macedo, Do G1 São Paulo

14/02/2014

Número de pedras consumidas por usuário passou de 15 para cerca de 5. Programa Braços Abertos completa um mês no sábado.

Prefeito Haddad anunciou ampliação de programa (Foto: Letícia Macedo/G1)
Prefeito Haddad anunciou ampliação de programa (Foto: Letícia Macedo/G1)

A Prefeitura de São Paulo estima que dependentes de drogas participantes do Programa de Braços Abertos reduziram de 50% a 70% seu consumo de crack. A ação de auxílio a usuários da região conhecida como Cracolândia, no Centro da capital, completa um mês neste sábado (15).

De acordo com a Administração Municipal, o número de pedras consumidas por cada usuário passou de 10 a 15 para cerca de cinco. Um convênio com o governo estadual destinou 500 leitos para internação de viciados. Porém, até o momento, nenhum participante do programa se interessou por esse tipo de tratamento. A tenda, que funciona atualmente até as 17h, receberá uma sala de estar com televisão para que os dependentes possam ter uma alternativa de lazer até por volta das 22h. “Existe ainda a reminiscência do chamado fluxo, sobretudo a partir do anoitecer, quando a presença pública diminui”, disse nesta sexta-feira (14) o prefeito Fernando Haddad (PT). “Nós vamos, em um primeiro momento, estender nossa presença até as 22h.”

O objetivo de ampliar a carga horária dos agentes de saúde é também se aproximar de usuários, que se reúnem na região no período noturno, para que eles possam se tornar novos participantes do programa. “Se conseguirmos tirar mais 40 do fluxo já seria uma vitória tremenda”, afirmou a secretária da Assistência Social do município, Luciana Temer.

De acordo com balanço da Prefeitura, 386 dependentes químicos foram cadastrados inicialmente. A estimativa é que 89% tenham trabalhado regularmente. Na última sexta-feira, 340 pessoas receberam pagamento por terem atuado na varrição das ruas do Centro. Porém, ainda não existe um balanço sobre o número de usuários que abandonaram definitivamente o programa. Pelo menos três deles foram levados pela família, segundo a secretária.

A Prefeitura faz atualmente um mapeamento da concentração de usuários em várias partes da cidade para poder adaptar o projeto. “As características da Luz não se vê em outras regiões. O que acontecia na Luz era um mercado livre de drogas. Havia o pressuposto de que havia um território livre”, disse Haddad. “Não é o que acontece em outras regiões da cidade. Há a concentração de usuário, mas não há um mercado. O tipo de tratamento que a gente vai dar em cada caso também terá que ser diferente.”

Segundo o prefeito, a possibilidade de outros municípios contarem igualmente com a ajuda do governo federal, como já foi sinalizado, para criar programas semelhantes é bastante positiva. “Isso para nós da região metropolitana é fundamental, porque vai impedir que as pessoas venham para cá”, observou.

O prefeito aproveitou para minimizar o mal estar provocado por uma operação do Denarc, que terminou com vários detidos. “[A ação do Denarc] é um episódio superado. O governo do estado e nós sentamos e restabelecemos o protocolo inicial e efetivamente não houve prejuízo”, disse.

Busca ativa Há cerca de duas semanas, a Secretaria da Assistência Social lançou um processo de busca ativa dos participantes do programa que por algum motivo se ausentavam do trabalho. Só após a conclusão desse trabalho a Prefeitura divulgará o número de desistentes.

Atualmente, o programa tem capacidade de atender até 400 dependentes, oferecendo alojamento em um hotel, três refeições por dia e R$ 15 por dia trabalhado na varrição. Aos dependentes químicos também são oferecidos um curso de capacitação profissional. Na tentativa de reconstruir os vínculos, a Prefeitura fará um trabalho para que os dependentes tenham documentação e ajudará na localização de amigos e parentes.

Jardinagem A Prefeitura também abrirá 80 vagas – sendo 40 nos próximos dias - no programa Fábrica Verde fora da região da Cracolândia, que permitirá ao usuário obter uma formação profissional. O dependente químico poderá assim buscar alternativas de trabalho fora da região onde a oferta de drogas é muito fácil.

“O objetivo é que eles rompam o vínculo com aquele território, não fiquem aprisionados àquele quadrilátero. É uma maneira de facilitar a emancipação dessas pessoas da sua condição atual”, afirmou Haddad.  No intuito ainda de estimular a circulação por outras regiões da cidade, o perímetro de varrição feita pelos integrantes do projeto também será ampliado.

Iluminação O prefeito disse que um novo sistema que permitirá a iluminação embaixo das árvores deve ser implantado na região. A Prefeitura estuda a ampliação do programa para outros bairros da cidade. Porém, o conceito seu deve ser adaptado à realidade de cada bairro.

“Há uma mudança de paisagem na região bastante significativa. O depoimento das pessoas é bastante favorável. Acho que a gente está no caminho certo e vamos continuar perseguindo apoio comunitário”, disse Haddad.

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