
Quando o fascismo saiu do esgoto, estimulado por colunistas que hoje fingem que não tem nada com ovo da serpente chocado, com campanhas difamatórias noite e dia contra o PT e suas principais lideranças nas rádios tvs, sites e mídias impressas, uma mãe camisa CBF, batedora de panela em sua varanda gourmet, expôs, orgulhosa, em seu facebook um desenho de seu filho pequeno pedindo morte a Dilma e Lula. A criança havia feito o desenho na ‘aula de artes’. Ou seja, o menino passou pelo crivo de pelo menos dois adultos e não houve qualquer interferência na barbárie, ao contrário, a mãe exibiu o resultado de sua obra: roubar a infância de seu filho e jogá-lo no meio do ódio detestável do mundo adulto.
As crianças aprendem a amar e a odiar em seu processo de socialização, nos diferentes espaços sociais que estão inseridas: família, escola, igreja, clubes etc. Lembro-me que fiquei em choque com a criança Gui. Perguntava-me como uma mãe poderia se orgulhar de ensinar aquilo para seu filho. Torcia para que alguém salvasse Gui, devolvesse a ele a sua infância, a pureza de correr, de se sujar nas brincadeiras e à noite dormir o sono dos anjos.

No Brasil, do desenho de Gui até os dias de hoje os país reacionários resolveram chegar às vias de fato e ensinarem seus filhos a não apenas odiar aqueles que elegeram como inimigo de classe, mas a atacá-los fisicamente. Nas emboscadas à caravana de Lula pelos estados sulistas vimos vários pais e mães com seus filhos pequenos atirando pedras nos ônibus. As imagens chocavam. Eram muito semelhantes há varias imagens produzidas na campanha sionista de Israel contra o povo palestino e o mundo árabe.
Nesses tempos de ódio, onde esse sentimento leva as pessoas a quererem eliminar fisicamente seus inimigos políticos, onde pais e filhos rompem relações devido a diferenças ideológicas, é necessário retomar a sobriedade. Mesmo a esquerda precisa ter paciência com os ‘pobres de direita’. Ironizá-los, bloqueá-los, ridiculariza-los nas redes só facilitará a vida dos que efetivamente ganham com o crescimento do ódio. As startups do ódio como MBL, Vem para Rua agradecem. Ouçamos o recado do professor Rodrigo Perez de Oliveira:
Não, os pobres não são os culpados pelo golpe. Se alguns deles (alguns) estão comemorando a prisão de Lula, é porque são vítimas do golpe, de um golpe financiado pela imprensa hegemônica que, simplesmente, tem o monopólio da informação.
Os pobres não devem ser responsabilizados. Essas pessoas já têm muitos problemas, muitos mesmo.
Os pobres devem ser disputados, e não é com protesto na rua fechando o trânsito e nem com performance em praça pública, com gente pelada e enfiando cruz na bunda.
As pessoas não gostam de nada que atrapalhe sua rotina. Não gostam de nada que violente seus valores.
Os pobres devem ser disputados no campo da tradição, das ideias estabelecidas. As pessoas pobres são conservadoras, gostam de estabilidade, se apegam ao que “já está aí”. Entendo perfeitamente. A aventura é privilégio de quem já tem o prato cheio e a cama feita. Pra quem tá muito fudido, a situação sempre pode piorar, é até mais provável que a situação piore. O melhor a fazer é ficar quietinho, se mexendo o mínimo possível.
Se pararmos para pensar com cuidado, veremos que bolsa família, acolhimento aos imigrantes e os direitos humanos são preceitos do evangelho cristão.
O evangelho cristão é o socialismo com as bençãos de Deus. O socialismo é o cristianismo sem Cristo. Há mais em comum entre o socialismo e o cristianismo do que cristãos carrancudos e socialistas teimosos gostariam de reconhecer.
Não carece de acreditar em Deus para falar do evangelho pra nossa gente. Basta ter inteligência política.
E nos inspiremos nos pais que ensinam a amar, mesmo quando tudo nos enfraquece, nos revolta, nos enfurece, é preciso nos diferenciar dos que já perderam a razão e qualquer possibilidade empática com outro ser humano.
Deixo com vocês algumas expressões verdadeiras de crianças que sabem que a vida é divina, é “Mistério profundo/ É o sopro do criador/ Numa atitude repleta de amor”, como diria o mestre Gonzaguinha.
Os pais dessas crianças devem sentir orgulho da educação que estão dando a seus filhos e filhas. Ensinando-as a amar, ensinando-as a solidariedade, a empatia e o gesto de estender a mão a quem precisa de carinho e compaixão. Abaixo, reproduzo algumas das cartinhas e dos autores desta pura expressão de afeto:




O QUE É, O QUE É?
Gonzaguinha
Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita
Viver
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz
Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita
Viver
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz
Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita
E a vida
E a vida o que é?
Diga lá, meu irmão
Ela é a batida de um coração
Ela é uma doce ilusão
Êh! Ôh!
E a vida
Ela é maravilha ou é sofrimento?
Ela é alegria ou lamento?
O que é? O que é?
Meu irmão
Há quem fale
Que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo
Há quem fale
Que é um divino
Mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor
Você diz que é luta e prazer
Ele diz que a vida é viver
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é
E o verbo é sofrer
Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser
Sempre desejada
Por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
Só saúde e sorte
E a pergunta roda
E a cabeça agita
Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita
Viver
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz
Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita