Falta salto de qualidade na cobertura (JORNALÍSTICA) do ensino no país

Escrito en BLOGS el

É ruim, hein!,  esperar alguma qualidade da cobertura jornalística da velha mídia sobre qualquer assunto, mas sobre Educação estão todos os veículos da grande imprensa reprovados.

Vejamos os dois textos destacados a seguir. O primeiro de um leitor do Maria Frô apresentado nos comentários do texto sobre a utilidade (ou inutilidade das provas):  Mas, afinal para que avaliamos as crianças e os jovens que têm direito constitucional de frequentar a educação básica?   e o segundo da ombdswoman da Folha. Há ainda um terceiro que não vou nem comentar que relaciona o peso dado à redação nas provas do ENEM e o desempenho dos candidatos de São Paulo! Pode-se escrever qualquer coisa sobre educação :(

Gilberto Dimenstein e a Folha deveriam morrer de vergonha…

Por: Mauro Alves da Silva,  do Movimento Comunidade de Olho na Escola Pública

16/09/2011

Mais uma prova da ignorância e estupidez que grassam na imprensa brasileira.

O jornalista-pseudo-educador-aprendiz publicou o seguinte artigo no portal do jornal Folha de São Paulo: “USP deveria morrer de vergonha” (Folha.com, 12-09-2011). Ele divulga a estupidez de que a escolinha EE Carlos Cattony (Parelheiros) teria tido um melhor desempenho do que a Escola de Aplicação da USP…

Já tínhamos denunciado a estupidez do jornal Diário de São Paulo pela reportagem “Escola linha dura é líder no Enem” (Jornal Diário de São Paulo, 12-09-2011)… sendo assim, para sermos justos, também devemos denunciar a estupidez do jornal Folha de São Paulo e do jornalista-pseudo-educador-aprendiz Gilberto Dimenstein pelas bobagens ditas sobre a escolinha EE Carlos Cattony.

Uma mera lida na nota técnica do Instituto INEPto já serviria para levantar suspeitas sobre o resultado da escolinha EE Carlos Cattony: ela está na faixa dos 35% – só 14 dos seus 39 alunos fizeram o ENEM 2010.

O nosso artigo “Escolinha Carlos Cattony e a estupidez do jornal Diário de São Paulo” (MovimentoCOEP.ning.com, 13-09-2011) pode ser lido como “Escolinha Carlos Cattony e a estupidez do jornal Folha de São Paulo”, pois o jornal Folha também fez publicar a seguinte estupidez: “A escola da rede pública mais bem colocada no Enem 2010 na cidade de São Paulo –exceto as técnicas– fica em Parelheiros (zona sul), um dos distritos mais pobres da capital e distante mais de 30 km do centro”. (Folha de S.Paulo – Foco: Melhor pública do Enem em SP não tem água encanada- 13/09/2011).

A única diferença entre o Diário e a Folha foi que, desta vez, a Folha não fez apologia a ditadura e nem elogiou uma diretora-durona-ditadora (a exemplo do que fez em 2009 ao elogiar o diretor-ditador a EE Lucia de Castro Bueno, de Taboão da Serra-SP).

Mas, para não deixar dúvidas sobre a estupidez reinante na imprensa paulista, a Folha ignorou até mesmo o seu fajuto ranking do ENEM 2010 e colocou, no mesmo saco-de-gatos, uma escola com 35% de participação e outra com 65% de participação. 38 dos 58 alunos da escola de Aplicação da USP fizeram a prova do ENEM 2010.

Dizer que o MEC e o seu instituto INEPto não informaram a nota da escolinha EE Carlos Cattony em 2009 é uma falácia… A Folha, assim como toda a imprensa, recebeu e tem os arquivos do ENEM 2009 distribuídos pelo INEPto em 2010.

No ano de 2009, apenas 8 dos 39 alunos da escolinha EE Carlos Cattony fizeram a prova do ENEM. A nota média não foi divulgada porque é necessário o mínimo de 10 alunos para que o INEPto divulgue as médias na prova objetiva e na redação.

Se o objetivo da Folha fosse apresentar um quadro real do desempenho da escolinha EE Carlos Cattony, bastaria consultar o IDESP 2009-2010 (foto acima). Se a Folha perdeu sua cópia dos resultados do ENEM 2009, ela poderá baixar o arquivo neste link.

Esperávamos mais da Folha de São Paulo, principalmente que não brigasse com os números e informasse corretamente seus leitores e a população em geral.

No caso das escolas particulares, a Folha deveria informar que não dá para comparar escolas que escolhem seus alunos com escolas que matriculam todo e qualquer aluno…

A Folha deveria informar que tem escolas privadas expulsando ou reduzindo o número de alunos para “melhorar” o desempenho no ENEM…

A Folha deveria informar que tem escolas privadas que orientam os pais a contratar professor particular para os alunos com baixo desempenho…

A Folha deveria informar que tem escolas privadas que caçam alunos de outras escolas, até mesmo no meio do ano, para maquiar o seu desempenho no ENEM…

A Folha deveria informar que escola que não tem jornada em tempo integral é pura enganação.

A Folha de São Paulo deveria exigir que o governo federal, O MEC e o INEPto deixassem acessível a todos os dados sobre as escolas, inclusive o desempenho das escolas nos anos anteriores. Somente assim é que poderíamos ter uma real avaliação da evolução (ou involução) do desempenho do ensino médio no Brasil.

É um completo desserviço a forma como a Folha e a imprensa estáo divulgando os rankings fajutos das escolas no ENEM 2010. Isso só serve para a apologia do autoritarismo escolar e para o marketing das escolas que insistem em enganar alunos, mães, pais e comunidade.

As crianças brasileiras merecem uma escola pública de boa qualidade, com educação integral em tempo integral.

É isso.

O BURACO DA EDUCAÇÃO

Por, Susana Singer, Coluna do Ombdsman da Folha

18/09/2011

Folha faz ranking de escolas com base no Enem e depois critica a iniciativa; falta salto de qualidade na cobertura do ensino no país

O primeiro editorial de terça-feira passada chamava a atenção para "distorções relevantes" na classificação de escolas, feita com base nos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio. Só que, um dia antes, o jornal tinha publicado exatamente o que criticava: o "ranking Enem de colégios".

Todo ano, o script se repete. O Ministério da Educação solta os resultados em ordem alfabética e enfatiza que, como a participação de alunos varia muito de uma instituição para outra, não convém fazer ranking. Os jornalistas dizem OK e correm para organizar os dados na ordem decrescente, do melhor colégio ao último. Estão errados?

Não. Os argumentos contra a classificação são fortes: escolas podem incentivar só os melhores alunos a fazer a prova; em São Paulo, a adesão é menor, porque USP e Unicamp não usam o Enem; qualidade de ensino não se mede por prova. É a hora do pesadelo para os diretores de escolas, que precisam explicar o que saiu no jornal, às vezes, uma diferença de poucos pontos na nota que implica uma posição "pior do que a do vizinho". "Nesse momento, a imprensa, que edita os dados, detém a credibilidade dos pais. As escolas tornam-se 'suspeitas', uma vez que são o objeto da análise", diz Rose Bernardi, 45, diretora-geral do Pueri Domus.

Eduardo Roberto da Silva, 51, diretor pedagógico do Oswald de Andrade, afirma que, embora os jornais tragam análises que relativizam os resultados, "o que os pais leem mesmo é o raio do ranking!" "Querem ver quem está em primeiro, segundo, terceiro lugar."

Mesmo com todas essas ressalvas, o ranking vale a pena, afinal é um direito dos pais conferir o desempenho da escola que eles pagam.

É uma das poucas avaliações externas que eles têm à mão. Sonegar o dado seria tutela exagerada, como se o jornal não acreditasse no discernimento do leitor.

O problema maior na cobertura do Enem é a tentativa de extrair dos resultados do exame uma conclusão sobre o ensino no país. A Folha saiu com "Escola pública perde espaço entre melhores no Enem", uma contagem dos colégios públicos que estão no topo. O número, que era 8,4% em 2009, caiu para 7,9% no ano passado, uma mudança sutil. Já havia poucas escolas gratuitas na elite e continua assim: as que chegam lá são as de sempre.

O "Estado" deu manchete para o fato de 68% das escolas de elite de São Paulo estarem com notas piores. Outro recorte forçado, que trata de apenas 50 colégios, num universo de 19 mil avaliados.

No "Globo", "Enem reprova ensino das escolas públicas", uma conclusão genérica, que poderia ter sido escrita em 2010, 2009, 2008... Essa necessidade de transformar números em notícia é um dos problemas da cobertura de educação. Trata-se de uma área complexa, na qual os progressos se medem em gerações, tempo inapropriado ao sentido de urgência do jornal.

Não existe também solução mágica. Na quarta-feira, a manchete da Folha era a possibilidade de aumento do ano letivo. "Educadores dizem que a proposta não necessariamente garante melhoria do ensino", concluía a reportagem, como se alguma medida garantisse a priori algum progresso. Na página seguinte, mais platitude: "Carga horária não é tudo; é importante saber como professor usa seu tempo".

Fugir do óbvio, resistir ao fetiche dos números e fazer uma cobertura útil são os principais desafios da Folha em educação. A página "Saber", publicada às segundas-feiras, é uma miscelânea de assuntos, insossa, que frustra os interessados. Um dia fala de matemática para crianças, outro do rendimento escolar dos que recebem o Bolsa Família e depois de universidades inglesas para gays.

Já que a importância da educação virou consenso nacional, aFolha deveria se esforçar para dar um salto de qualidade na cobertura, algo que a deixasse bem à frente dos concorrentes, como foi no passado.

_________ Publicidade