Folha: Peso do mensalão nesta eleição foi próximo de zero

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Peso do mensalão nesta eleição foi próximo de zero

Por: LUCAS NEVES, DE SÃO PAULO, Folha

08/10/2012

O professor de filosofia da Unicamp e pesquisador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) Marcos Nobre, 47, afirma que o julgamento do mensalão no STF teve influência "próxima do zero" nas eleições municipais deste ano.

Segundo ele, a concomitância só contribuiu para que um evento "atrapalhasse o entendimento do outro", o que foi "péssimo para a democracia brasileira".

Para Nobre, o PT cometeu "erro tático grave" ao não lançar a candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo ao menos um ano antes. Ele acha ainda que o petista "demorou demais" a atacar Celso Russomanno (PRB).

Nesta entrevista, concedida na sede do Cebrap, em São Paulo, o acadêmico também analisa o ganho de musculatura de PSD, PSB e PDT, trinca que, de acordo com ele, pode cerrar fileiras em torno de uma candidatura presidencial de Eduardo Campos (PSB) em 2014.

"O bloco forte tem como esperança carregar o PSDB, que passa a ser um satélite desse polo. O Aécio [Neves, PSDB-MG] vai acabar vindo a reboque", analisa Nobre, para quem o senador de Minas, apontado como potencial presidenciável, "está acuado em seu Estado".

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Folha - Num ato em apoio a Haddad, a socióloga Victoria Benevides disse que o julgamento do mensalão atrapalhou o petista. Ao mesmo tempo, o Datafolha mostrou que 81% dos eleitores de SP não mudaram seu voto por causa do julgamento. Qual foi o peso do mensalão nesta eleição? Marcos Nobre - Bem próximo de zero. Quando a campanha do Serra falou do mensalão, [...] estava apelando ao eleitorado antipetista, ou seja, tentando manter a sua base. A função do mensalão foi a de lembrar ao eleitorado antipetista razões para sê-lo.

Só pregação para convertidos? Sim. As pessoas não orientam o seu voto pelo mensalão. Não estamos conseguindo dar conta de analisar o processo judicial [do mensalão] com todas as implicações que tem porque estamos em eleição municipal. Uma coisa atrapalha o entendimento da outra, mas não influi na outra. As eleições estão obscurecendo um debate necessário sobre o papel do STF. A coincidência foi péssima para a democracia brasileira.

A mesma pesquisa mostra que, no grupo dos 19% que mudaram de voto por causa do mensalão, Haddad foi o mais prejudicado. É mesmo possível dizer que o julgamento não influenciou a eleição? A influência é residual, não vai mudar o resultado da eleição. É claro que pode mudar 1%, 2% dos votos. Mas essas porcentagens não importariam numa disputa acirrada como a de São Paulo? Pode ser que sim. Mas dizer que a eleição foi determinada pelo mensalão é incorreto, uma escolha arbitrária. Há vários fatores residuais importantes: o fato de não ter havido o último debate [da TV Globo], a carta do bispo Edir Macedo [endossando Russomanno], o fato de a Marta [Suplicy] ir para o ministério [da Cultura, depois de aceitar entrar na campanha de Haddad]. Teríamos de considerar dez variáveis para explicar uma diferença pequena. Em que medida a imposição de um candidato [Humberto Costa] em Recife que só interrompeu trajetória de queda 15 dias antes das eleições e o cenário desde o início difícil para Patrus Ananias em Belo Horizonte representaram derrotas pessoais para Lula? É preciso distinguir o que é derrota do presidente do que são erros táticos de um partido. O PT cometeu dois erros táticos graves, em Pernambuco -uma luta fratricida, um candidato que veio de cima, um partido dividido- e em São Paulo. O Haddad tinha de ter sido lançado pelo menos um ano antes. No momento em que o PT deixou de ir atrás do eleitor martista, pensando que deveria lançar um candidato permeável à "área azul" [referência ao centro expandido da capital, reduto do PSDB], abandonou um segmento fiel. Esse é o espaço que foi ocupado pelo Russomanno.

O Datafolha mostrou que a maioria rejeita a influência da religião na eleição, rechaçando candidatos indicados por igrejas. Por que o tema ganhou vulto em São Paulo? Numa campanha, é prático encontrar um ponto como a religião para demonizar alguém, porque aí Deus e o diabo estão exatamente no seu lugar. É fácil produzir um maniqueísmo eleitoral, em vez de discussão decente, usando a religião. Além disso, interessa tanto à Igreja Católica quanto às evangélicas que a religião esteja no centro. Mostra o peso da instituição na sociedade.

Por que a candidatura de Russomanno se desidratou tão rápido, após alcançar patamar de 35% das intenções de voto? No momento em que os outros candidatos repolitizaram o debate, ele caiu. Foi atacado por não apresentar propostas concretas e viáveis para a cidade. Quem fez isso primeiro? O [Gabriel] Chalita. Viu uma oportunidade de crescer no eleitorado do PT que havia sido tomado pelo Russomanno. A campanha do PT demorou demais a criticar o Russomanno. O único jeito de combater o desencanto com a política é com mais política.

O PSB deve eleger Marcio Lacerda em Belo Horizonte e Geraldo Júlio em Recife. Esse desempenho o credencia a desalojar o PMDB do posto de principal partido da base do governo Dilma? A oposição hoje é residual. Quando isso acontece, vai todo mundo para dentro do governo. Num primeiro momento, a oposição dentro da situação foi o PMDB. Ele foi acomodado. Os outros foram menos favorecidos. Daí você tende a ver alianças. O PSD do [Gilberto] Kassab nasce em acordo tácito com o PSB do [governador de PE] Eduardo Campos. Busca os descontentes regionais, mas não invade redutos do PSB, e vice-versa. O PDT também é um descontente importante. Potencialmente, há uma aliança entre os três para ganhar espaço no governo. Mas, no fundo, Eduardo Campos é candidato em 2014.

Como cabeça de chapa ou vice de Aécio Neves (PSDB)? Como cabeça de chapa. O Campos armou um jogo bem armado, com o discurso de negociar espaço melhor no governo, mas, no fundo, já construindo uma alternativa. Se não der certo em 2014, emplaca em 2018. Ou o governo Dilma reduz sua base, ou está realmente dormindo com o inimigo. PSB, PSD e PDT terão prefeituras importantes.

E o PSDB? Esse bloco forte tem como esperança carregar o PSDB, que passa a ser um satélite desse polo. O Aécio virá a reboque. É muito menos competitivo hoje do que poderia ter sido. [...] Precisa de Belo Horizonte a qualquer preço. Os ataques dele à Dilma e ao Lula são um sinal de desespero. Ele está reduzido a Minas. Alguém que tem pretensões presidenciais e está acuado em seu Estado não tem nem de longe a estatura que tinha há quatro, oito anos.