Obama, Osama e a Justiça dos EUA

Escrito en BLOGS el

Não sou especialista em mundo árabe, leio Pepe Escobar, Robert Fisk e outros jornalistas reproduzidos com grande regularidade aqui no blog para aprofundar meus conhecimentos sobre a política no mundo islâmico.

Além de saber que a morte de Osama aumenta a popularidade de Obama (de domingo até ontem subiu 11%) sei que os dois tiros que bin Laden recebeu atingiram em cheio o peito das revoluções no mundo árabe.

A morte de Osama foi assunto planetário. Há informações de que ele estava gravemente doente (problemas renais), a casa em que supostamente foi executado fica muito próxima a um quartel paquistanês, Osama foi apontado pelo governo dos EUA como o cabeça dos ataques às torres gêmeas e ao Pentágono.

Diante desses fatos,  quando ouço a versão oficial do governo estadunidense sobre a execução de Osama bin Laden que já começa a ter uma série de ruídos, surgem questões sem respostas:

Como Osama passou tanto tempo nas proximidades de um quartel paquistanês sem ser importunado?

Por que os EUA não o levaram a julgamento, não interrogaram e não esclareceram os ataques de 11/09/2001?

Finalmente, e o texto abaixo da Folha (até a Folha) faz esta questão: que tipo de 'Justiça' estadunidense é essa? Que moral os EUA têm para falar das práticas dos ditadores que tanto condena?

Talvez as capas dos jornais estadunidenses nos expliquem a noção de "Justiça" dos estadunidenses, elas são profundamente coerentes com o discurso do secretário de Defesa de Estado, Gates.

Licença para matar

Por: Ricardo Melo, na Folha

05/05/2011

SÃO PAULO - Não será do dia para a noite que se terá acesso ao que realmente ocorreu no esconderijo do terrorista Osama bin Laden. Mas até a imprensa americana, que desde a Guerra do Golfo trocou o jornalismo pela "embedagem" ao governo, desconfiou do anúncio hollywoodiano da Casa Branca, versão democrata das "armas de destruição em massa" da era Bush. Os lances épicos da violenta troca de tiros, da mulher usada como escudo, da resistência feroz deram lugar a um enredo bem mais prosaico. Provavelmente houve uma execução, e ponto. Tal descrição não comporta nenhum juízo de valor. Bin Laden e quem se engaja no terrorismo e no fanatismo religioso têm consciência que o risco de morrer faz parte do (mau) negócio. O prontuário de crimes do chefe da Al Qaeda apontava para este final. Mas incomoda, para dizer o menos, aceitar como natural a baboseira de Obama e dos europeus, para os quais a "justiça foi feita". Como assim? Os EUA invadem um país, fuzilam um inimigo sem julgamento, jogam o corpo do sujeito no mar e estamos conversados. Tudo isso depois de se valerem de "técnicas coercitivas de interrogatório", eufemismo para tortura com afogamentos. E ainda vem a ONU, candidamente, dizer que "é preciso investigar" se o direito internacional foi desrespeitado. A lógica política da operação Geronimo é a mesma que preside a intervenção seletiva nos conflitos na África e no Oriente Médio. Gaddafi, o ex-amigo, agora é inimigo, então chumbo nele e na família. Já na Síria não é bem assim, tampouco no Iêmen e na Arábia Saudita -azar de quem nasceu rebelde por ali. Mais uma vez, os EUA tratam o planeta como quintal, e usam a ONU de plateia para as "rambolices". Que Obama, um político comum, comemore o ganho de popularidade às vésperas da batalha pela reeleição, é compreensível. Já o resto do mundo dito civilizado assistir a tudo com tamanha complacência apenas sinaliza o que está por vir.

O Álbum das Capas __________ Publicidade //