Para você que quer votar nulo: não iguale resultados que são bem diferentes

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CARTA A QUEM PENSA EM ANULAR O VOTO

Essa é uma carta para você que está pensando em anular seu voto na eleição para prefeito de São Paulo deste ano. Estamos no segundo turno e dois candidatos disputam a vaga. Falta menos de uma semana para a votação.

Vamos ser sinceros com você: queremos te convencer a não votar nulo. Mais do que isso: queremos te convencer a votar no Fernando Haddad. Você pode ler o texto até o final e dar uma chance aos nossos argumentos, ou parar de ler agora – o que podemos prometer é que seremos bastante honestos com você. Você sabe que tentar convencer alguém é algo natural do debate democrático – não estamos querendo te impor nada. Este pode ser o início de um debate, não um ponto final.

Comparando planos de governo:

Antes de botar o dedo nas feridas, é necessário falar de programas e propostas. Para começo de conversa, o plano do Serra não apresenta metas para São Paulo nos próximos quatro anos (por exemplo, quantos quilômetros de corredores pretende construir, tampouco sabemos quantas creches e novos CEUS). O programa do Haddad apresenta vários números factíveis consolidados em um plano de governo detalhado, o que é fundamental para que possamos cobrá-lo depois.

Além disso, o programa do Haddad mostra um plano urbano de longo prazo para São Paulo, algo que um candidato a prefeito não apresentava há décadas. Defende que devemos rever o nosso modelo radial e centralizado para um modelo multipolarizado de desenvolvimento.

O que isso significa? Em resumo, estimular que a população de várias faixas de renda também more no centro e que as empresas se instalem na periferia. Isso pode ser possível com vantagens fiscais e melhoria da infraestrutura em todos os bairros da cidade. Essa ideia inclui aproximar o trabalho da moradia, reduzindo radicalmente as distâncias. Ela quebra o ciclo da superespeculação imobiliária, reduzindo a pressão de alta nos preços dos imóveis no centro expandido e distribuindo os novos empreendimentos por todos os bairros da capital. (grifos nossos)

A mudança desse modelo é fundamental para melhorar a qualidade de vida de todo mundo e isso não é uma coisa fácil de ser feita. O que achamos fundamental é uma mudança de rota nesse sentido: que São Paulo pare de caminhar por aí e escolha um outro caminho no seu desenvolvimento urbano.

Alianças e moralismos:

Outra razão vem da aliança programática que foi construída por cada candidatura. O Serra e o PSDB se comprometeram com os setores mais obscurantistas da sociedade brasileira. Nessa eleição, o Pastor Silas Malafaia, que advoga que gays são doentes mentais, foi importado do Rio de Janeiro só para gravar vídeos direcionados ao público evangélico dizendo que o Haddad e o PT são contra a “família”.

Haddad não. Nessa eleição ele propôs um governo com professores universitários, artistas e coletivos de cultura digital. Dialogou também com movimentos sociais que carregam lutas e demandas da população pobre que mais sente a ação do Estado, sem esquecer as lideranças de diversas religiões da cidade, para a construção de uma cultura de respeito diante das diferentes crenças.

O nosso ponto é que cada um construiu um programa e fará um governo que responde e responderá a diferentes setores na cidade.

Mas aí você vai dizer: “mas ele é apoiado pelo Maluf!” ou “o Russomanno pensou em apoiá-lo”. Nós também ficamos abalados com alianças com personalidades como o Maluf e criticamos isso quando aconteceu. Não defendemos o Maluf ou o que ele faz, mas nem por isso deixamos de defender o Haddad. A sua campanha não foi rebaixada a níveis moralistas e obscurantistas por causa de nenhum apoiador. Nenhuma pauta preconceituosa foi levantada, nenhum assunto foi evitado: tudo foi respondido. (grifos nossos)

Ainda mais: os apoiadores do Haddad assinaram embaixo do seu Plano de Governo lançado em agosto, programa construído com os melhores especialistas em todas as áreas. Não estamos falando que se pode fazer qualquer aliança. O ponto é que mais do que se incomodar com alianças é necessário analisar o impacto que elas podem ter nos governos por aí. Haddad recebeu um apoio eleitoral do PP (partido do Maluf) e isso não o fez retirar uma linha sequer de seu plano de governo e nem rebaixar o nível da sua campanha a nenhum tema conservador.

Pelo contrário, mesmo com todos os ataques ligados ao chamado "kit gay", Haddad se manteve claro sobre o problema grave que é a homofobia e a importância de se combater qualquer forma de violência. Mesmo com essa pressão tipicamente eleitoral - como foi o aborto em 2010 - Haddad não sucumbiu e se mostra desde já um político firme de suas ideias e disposto a avançar nas demandas sociais das minorias. Durante toda a campanha, inclusive, afirmou que religião e política podem sim caminhar juntas se for para o bem das pessoas, mas não devem se misturar para o mal, como outros candidatos tentaram, instrumentalizando diversas igrejas e a fé de pessoas humildes.

Além disso, falando de apoios: achamos que prestar apenas atenção na aliança com o Maluf e escolher não ver os apoios de Antonio Candido, José Celso Martinez Correa, Maria Rita Kehl e Vladimir Safatle (citando alguns dos muitos) é um problema, uma espécie de visão seletiva. Não é questão de um apoio anular o outro – é uma questão de colocar as coisas em perspectiva, ou seja, perceber quais dos apoios de fato influenciaram seu plano de governo, e com quem vai governar a cidade, caso Haddad seja eleito.

Mensalão e ética:

“Mas dar força para o PT é dar força para desvios como o Mensalão”. Será? Essa é outra coisa que devemos ter claro. O mesmo Lula que é arguido diariamente sobre esse tema escolheu mais de 70% dos ministros do STF que condenaram os dirigentes do PT. O seu governo nomeou para um segundo mandato o chefe do Ministério Público que fez a primeira denúncia no caso, mesmo após nomear José Dirceu de “chefe de quadrilha”. Durante a década de 90 - durante o governo do PSDB - o ocupante dessa mesma cadeira era chamado de “engavetador-geral da república”. Hoje a polícia federal caminha para ser uma polícia de Estado, e não de governos, ou seja, foram nos governo Lula e Dilma que as instituições tiveram maior liberdade para fiscalizar quem quer que seja, mesmo pessoas do alto escalão do governo. Isso não ocorria e não ocorre nos governos do PSDB. (grifos nossos)

Não estamos aqui para defender a inocência ou a condenação de ninguém. O nosso ponto é que falar que votar no Haddad fortalece a possibilidade de “desvios éticos” é uma grande falácia. O que vemos recentemente é um fortalecimento das instituições democráticas – e isso se dá dentro de um governo petista, lembre-se.* (grifos nossos)

Se optássemos por falar que sujos são os partidos que tem maior número de políticos banidos pela Lei Ficha Limpa neste ano o partido que favoreceria “desvios éticos” seria o PSDB, por exemplo. (grifos nossos)

O que significa anular o voto agora?

O que gostaríamos que ficasse explícito nessa carta é que os políticos são sim diferentes, e devem ser avaliados por seus feitos, projetos e alianças. Mesmo que você já tenha feito essa ponderação pedimos que reflita se nela não está presente nenhum tipo dessa “visão seletiva”, ou se faz sentido dizer que tudo que está aí é igual.

Dizemos isso porque não é só contra a visão seletiva que nós advogamos. Talvez esteja presente em você a famosa “descrença na política”. Desconfie mesmo. Nós temos a convicção de que desconfiar dos políticos é excelente, porque deixa a crítica sempre latente, pronta para sair. Mas igualar e dizer que “é tudo a mesma coisa” já é outro passo. Assemelhar Serra e Haddad e “deixar por isso mesmo” é se fechar ao fato que os modelos de cidade em jogo são muito distintos.

Votar no Serra é dar continuidade à política de uma cidade que todos nós criticamos diariamente, de proibições, e com planejamento urbano débil e aprofundamento do abismo social entre classes e entre regiões. Votar no Haddad significa uma mudança de rumo na cidade para uma direção mais livre e democrática. Ele mostrou nessa campanha a sua percepção de quais os problemas importantes da cidade e como resolvê-los. A transformação depende do seu voto. (grifos nossos)

Nessa conta, anular o voto significa igualar resultados que são muito diferentes!

E quem somos nós? De cara limpa e sempre abertos a continuar essa conversa a partir daqui, nós nos apresentamos: Guilherme Giufrida ([email protected]), formado em economia pela Unicamp e mestrando em Antropologia Social pelo Museu Nacional (UFRJ); e Francisco Brito Cruz ([email protected]), bacharel e mestrando em Direito na USP. Obrigado por ter lido até aqui! Bom voto neste domingo. Seguiremos sempre acreditando na nossa cidade! att.

Francisco Brito Cruz

Nota do Maria Frô: E Haddad tem proposta de criação de uma  Controladoria Geral do Município em São Paulo

Conheça o Plano de Governo de Haddad, clique aqui