Quando o ensino alimenta a intolerância: a desumanização dos palestinos nos livros didáticos israelenses

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No Brasil, há uma série de estudos acadêmicos da produção didática que avalia a construção de estereótipos em relação ao gênero; à raça/etnia; ao pertencimento regional etc. Mulheres, negros, indígenas, nordestinos durante um longo período foram reduzidos a estereótipos que reafirmavam o racismo, o sexismo, o preconceito regional etc.

Os livros de história são os mais 'vigiados' em relação à ideologia, mas ao analisarmos livros de língua portuguesa ou ciências, por exemplo, poderemos ver exemplos de estereótipos em ilustrações de uma crônica ou em uma esquema representativo.

No Brasil, há um esforço bastante grande de autores, editores, professores, gestores do MEC para que os livros didáticos não reproduzam estereótipos, não reforcem preconceitos e os combatam.

Infelizmente, isso não ocorre em todo o mundo. A pesquisadora e militante pacifista Nurit Peled-Elhanan analisando os livros didáticos de Israel, aponta em sua pesquisa que esses são elaborados com o objetivo de desumanizar o povo palestino e fomentar nos jovens estudantes israelenses a base de preconceitos que lhes permitirá atuar de forma cruel e insensível contra os palestinos durante o serviço militar.

De acordo com Nurit Peled-Elhanan por serem as primeiras a se sedimentarem na mente das crianças as construções de mundo feitas a partir dos livros didáticos são muito difíceis de serem erradicadas. Daí a importância que o establishment israelense dedica à ideologia a ser transmitida nos livros didáticos. Neles, os palestinos nunca são apresentados como seres humanos, nunca aparecem em condições que possam ser consideradas normais. Segundo Nurit Peled-Elhanan, não há nesses livros nem sequer uma fotografia de um palestino que mostre seu rosto. Eles são sempre apresentados como constituindo uma ameaça para os judeus.

De fato os livros didáticos são importantes, mas eles são apenas um dos elementos da cultura escolar. Bons professores podem dar ótimas aulas com livros escolares ruins, porque podem ensinar seus alunos a refletir sobre seus discursos e representações, desconstruindo os estereótipos.

Em Israel a questão se torna mais complexa porque o apartheid construído entre judeus e palestinos está presente na vida cotidiana, no muro da Cisjordânia, nas ocupações, na reafirmação do ódio dentro do exército, num Parlamento conservador que endossa as ações do governo sionista, na prisão dos opositores, numa campanha mundial na mídia que justifica as ocupações e mesmo quando comprovada as ações brutais do exército israelense que ferem os direitos humanos dos palestinos não há sanções internacionais.

Por isso é tão importante pesquisas como a de Nurit Peled-Elhanan que revelam alguns dos mecanismos que retroalimentam o ódio, a intolerância, o preconceito, a discriminação dos palestinos e, muitas vezes, a sua morte.

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