Racismo e campanha presidencial nos EUA

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Barack Hussein Obama

por Luiz Carlos Azenha 13.05.08

Categorias: Eleições


A candidatura dele à Casa Branca é dada como certa. Porém, no momento em que 66% dos americanos desaprovam o governo Bush, a vantagem do senador Barack Obama sobre o candidato do partido do presidente, John McCain, em pesquisa divulgada hoje, é de 51% a 44% - a margem de erro é de + ou - 3%.

As eleições gerais só acontecem em 4 de novembro. Os republicanos têm tradição de jogar pesado. Exploram ansiedades e divisões do eleitorado e tentam travar o debate no campo que lhes favorece: patriotismo e segurança nacional.

O Partido Democrata é favorito, mas Obama é vulnerável. Abaixo, uma lista de pontos em que a máquina republicana certamente vai trabalhar:

Intolerância racial - Nenhuma campanha se arriscaria a tocar no assunto, nem indiretamente. A tradição americana, neste caso, é de trabalhar a identidade do candidato com os eleitores.

Hillary Clinton conseguiu grudar em Obama o rótulo de "elitista", já que hoje ele é da classe média alta de Chicago. É uma forma de oferecer ao eleitor uma justificativa para que ele desgoste do candidato, quando muitas vezes o verdadeiro motivo é a cor da pele.

Obama conquistou o voto de eleitores brancos como nenhum candidato até hoje, mas a resistência a ele persiste, especialmente entre eleitores brancos de classe média baixa e educação secundária.

Barack Hussein Obama - "Obama Osama" é uma frase que se lê na internet e se ouve, ainda que raramente, nas ruas. O candidato é filho do economista queniano Barack Hussein Obama Sr., já falecido. O pai nasceu em uma família muçulmana mas se distanciou da religião.

Obama é cristão, membro da Trinity Church, uma denominação protestante. Mas, de acordo com a pesquisa eleitoral mais recente publicada pelo New York Times, 7% dos eleitores ainda acreditam que ele é muçulmano.

Reverendo Jeremiah Wright - O pastor da Trinity Church casou Obama e batizou as duas filhas do senador. Em um sermão repetido à exaustão nas emissoras de TV americanas, Wright justificou os atentados de 11 de setembro de 2001 dizendo que eram resposta ao terrorismo de estado americano em outras partes do mundo.

No sermão, Wright disse: "Deus amaldiçoe os Estados Unidos."

Obama repeliu publicamente as idéias de Wright, mas é certo que os republicanos pretendem retomar o assunto.

Patriotismo - A foto que aparece no topo desse texto circula na internet como "prova" da falta de patriotismo de Barack Obama. O fato de que ele não usa na lapela uma bandeirinha dos Estados Unidos também foi tema de um debate.

É uma forma de causar desconfiança no eleitor quando ele souber que Obama viveu, quando criança, num país muçulmano, a Indonésia.

Inexperiência - Obama, de 47 anos de idade, começou a carreira como ativista comunitário em bairros pobres de Chicago. Foi o equivalente a deputado estadual em Illinois. Mas só se elegeu para um cargo nacional em 2004.

Essa carreira contrasta com a do senador John McCain, de 72 anos, que se elegeu pela primeira vez para a Câmara dos Deputados em 1982. McCain foi piloto da Marinha e passou cinco anos e meio como prisioneiro de guerra no Vietnã.

Liberal - O rótulo de "liberal", nos Estados Unidos, adquiriu a conotação que se dava à palavra "comunista" nos anos 50. Os republicanos já destacam que Barack Obama é um dos senadores mais liberais do país e que apóia o aborto.

Mais uma vez, trata-se de uma tentativa de oferecer a uma fatia importante do eleitorado uma desculpa para desconsiderar um candidato.

Republicanos moderados, desgostosos com a situação econômica do país, podem mudar de lado em novembro ou ficar em casa. Usar um tema como o aborto pode ser importante para mobilizá-los.

Obama recebeu o apoio aberto do senador Ted Kennedy, o patriarca dos liberais americanos. Foi contra a guerra do Iraque e promete retirar as tropas de ocupação.

Essa é a imagem que os republicanos tentarão projetar de Obama: a de um jovem radical e inexperiente, de fidelidade duvidosa ao país, muito "estrangeiro" para ocupar a Casa Branca.

Demonstrações de racismo preocupam a campanha de Obama

Colaboração para a Folha Online

O pré-candidato democrata à Casa Branca Barack Obama escolheu como plataforma eleitoral a superação das diferenças raciais e a união do povo norte-americano para solucionar os problemas do país. Mas sua filosofia não atingiu todos os eleitores e são cada vez mais comuns as histórias de voluntários de sua campanha sobre demonstrações de racismo.

Danielle Ross fazia campanha na rua para arrecadar votos para Obama antes das primárias de Indiana e perdeu a conta de quantas vezes ouviu um 'não' justificado por questões raciais.

"A primeira pessoa que eu encontrei foi assim 'eu nunca votarei em uma pessoa negra'. As pessoas não eram receptivas", lembra Ross, em reportagem publicada pelo jornal norte-americano "The Washington Post".

Mesmo com a crescente popularidade de Obama --que a cada d ia desponta mais como o nomeado democrata às eleições gerais--, alguns de seus voluntários encontraram demonstrações de racismo que passaram despercebidas durante esta temporada de primárias.

O foco das questões raciais ficou nos controversos sermões do reverendo Jeremiah Wright que defende que os EUA são um país fundamentalmente racista. Na época, Obama fez um comentado discurso sobre a necessidade de superar a questão racial.

Veja na íntegra, em português

Veja a íntegra, em inglês

Segundo "Post", muitos voluntários viram portas baterem em suas caras, foram chamados de todos os tipos de ofensas racistas e definidos por estereótipos antiquados de pessoas que não acreditam que Obama pode ser o primeiro presidente negro do país.

Victoria Switzer, professora de estudos sociais aposentada, estava na central telefônica durante a campanha pela Pensilvânia. Ela ficou lá por apenas um dia e fez 60 ligações para eleitores do Condado de Susquehanna, que tem uma população formada por 98% de brancos. "Não é bonito. Um dos eleitores disse que não poderia votar em Obama e disse 'pendure este preto em uma árvore'", contou.

Divisão

A diretora de documentários Rory Kennedy, filha de Robert F. Kennedy, também afirmou ter enfrentado muito racismo enquanto fazia campanha por Obama na Pensilvânia. Um sindicalista de Pittsburgh disse a ele que não votaria em Obama porque ele é negro e um outro eleitor branco afirmou que "pessoas brancas cuidam das pessoas brancas e pessoas negras cuidam das pessoas negras".

A equipe de campanha de Obama diz em comunicado que incidentes como estes são isolados e que a experiência dos voluntários e membros da equipe tem sido extraordinariamente positiva.

O comunicado diz ainda: "Depois de 15 meses de campanha em quase todos os 50 Estados, Barack Obama e sua equipe de campanha ficaram impressionados e encorajados com a decência, gentileza e generosidade dos americanos de todas as partes. O último ano apenas reforçou a visão do senador Obama de que o país não é tão dividido quanto a nossa política sugere".

No dia da eleição em Kokomo, em Indiana, um grupo de estudantes negros estava segurando placas de apoio a Obama em uma via de grande trânsito. Muitos motoristas que passavam pelo grupo baixaram os vidros e gritaram ofensas raciais, segundo assessores de campanha de Obama.

Frederick Murrell, um aluno do colégio de Kokomo, não estava lá na ocasião, mas também viu muitas portas se fecharem enquanto fazia campanha por Obama nas ruas. Ele não ficou surpreso. "Provocar adolescentes em uma via comercial durante a luz do dia? Eu fiquei muito chocado no começo. Mas depois eu não fiquei mais, porque nós temos muito racismo aqui".

Racismo

Recentemente o rapper negro 50 Cent, conhecido por suas letras polêmicas e carregadas de conteúdo sexual, declarou seu apoio a Hillary Clinton e justificou dizendo que o país não está preparado para um presidente negro.

Depois, mudou de opinião dizendo que o discurso de Obama sobre a questão racial foi o motivo. "Eu ouvi o Obama falar. Ele me acertou com aquele 'ele cansou de ver Malcom X [ativista negro]' e eu juro por Deus, eu fiquei 'Yo, Obama'", relatou o rapper à MTV norte-americana.

Contudo, ele ressaltou que ainda não acredita que o país esteja preparado para ter um homem negro na Presidência: "Eu simplesmente não acho que o país esteja preparado para um presidente afro-americano. Isso será um problema, acredite ou não".