SOBRE BONDES, METRÔS E TRILHOS URBANOS

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Golpistas são assim, não realizam nada (ao contrário, destroem tudo que puder do bem público, das políticas públicas e dos direitos), mas adoram surfar na onda da realização dos petistas. Temer faz isso diariamente e até Alckmin foi tirar selfie na transposição do São Francisco (obra de Dilma e Lula).

ACM Neto, o pequeno está seguindo o enredo. Quer faturar com o metrô realizado pelo governador petista baiano e pelo governo federal de Dilma. 

Agora o que é ainda mais dolorido para os paulistas que odeiam os nordestinos, Salvador, governado pelo PT terá metrô ligando a cidade ao aeroporto e São Paulo há 20 anos desgovernado por tucanos não tem sequer monotrilho prometido para a Copa.

SOBRE BONDES, METRÔS E TRILHOS URBANOS

Por Éden Valadares*

11/03/2017

Subir para o bonde, sem que este pare. Essa é uma definição comumente encontrada para o verbo pongar. Não sou historiador - e lá adiante vou recorrer a uma de renome - mas tenho a sensação que esse verbo nasceu na Bahia. Mais especificamente na Cidade da Bahia, Salvador. Consigo imaginar com perfeição aqueles homens de terno de linho branco, pulando sobre os bondes, num quase surfar pelas subidas e descidas da Praça da Sé e Rua Chile. Em 1979 Caetano Veloso gravou Trilhos Urbanos, que retrata a cidade de Santo Amaro da Purificação, sua terra natal, com características de uma cidade ora imaginária, ora real, uma mistura de sentimentos com lembranças, de emoções com locais concretos. O irmão de Irene não chega a falar na ponga, mas faz referências ao transporte e sua movimentação pelas ruas da cidade: "Quando o bonde dava a volta ali..." Hoje a Bahia tem novas definições para o verbo pongar. Além de pegar veículo em movimento, pongar pode significar se agarrar, ou se segurar, como também se pendurar. Há aqueles que usam o substantivo ponga como sinônimo para carona e por aí vai. O fato é que a lembrança dos bondes vem se misturando com a atual realidade e redefinindo a expressão verbal bem como a própria cidade. Sandra Jatahy Pesavento (olha a citação à historiadora que falei anteriormente) escreveu sobre a possibilidade da leitura da cidade através do “passado de outras cidades contidas na cidade do presente”. É o que parece acontecer em Soterópolis. Temos, então, uma cidade sensível, uma cidade visível e uma cidade imaginária. Na última quinta-feira, dia 09, todos estes temas vieram à tona de uma só vez. O velho bonde e o contemporâneo metrô; o antigo pongar e o atualíssimo usurpar; a Salvador visível e a imaginária. Sem arrodeios: ACM Neto tentou pongar no bonde alheio, digo, tentou usurpar o metrô do Governador. Talvez ansioso ou preocupado com a perda de protagonismo político crescente - quem acompanhou o Carnaval sabe do que estou falando - o prefeito decidiu aderir ao padrão Michel Temer e tentar uma cartada, ou melhor, um golpe. "Vamos tentar pongar na obra do metrô e disputar sua paternidade!" Na cidade imaginária de Neto, os cidadãos passariam a debitar em sua conta os benefícios trazidos pela impressionante obra do metrô, bastando para tal uma visita dele aos vagões e uma bela foto ao lado dos vereadores, deputados e ministros. Não colou. Nem vai colar. A tal experiência entre as outras cidades do passado e a cidade do presente, sobre a qual se referia a professora Pesavento, faz com que os soteropolitanos tenham a exata noção do que foi e é a obra do metrô. Antes, enquanto tocada pela Prefeitura, era uma cicatriz no coração da capital. Calça-curta, ligava nada a lugar nenhum, além das inúmeras denúncias de corrupção. Uma vez entregue ao Governo do Estado a obra passou a andar, conseguir financiamento, contrato de serviço exemplar, ritmo de construção invejável e, o melhor, virou realidade. Já transporta 50 mil passageiros por dia na Linha 1 e deve chegar a 100 mil com a inclusão da Linha 2 até o aeroporto. Simples assim. Enquanto esteve com os prefeitos, pesadelo. Com o Governo do Estado, realidade. O mérito do Neto de ACM foi entregar obra. Que andou e anda graças a Lula, Wagner, Dilma e Rui Costa. Ponto. Chamar a turma do PSDB de Imabassahy, PMDB de João Henrique e do DEM de Paulo Souto para pongar no metrô é abusar da inteligência da cidade inteira; é exigir uma criatividade que nem o poeta Caetano versando sobre Santo Amaro conseguiria alcançar. Menos, Neto, menos...

*Éden Valadares, 35, é assistente especial da Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia.