Victor Farinelli propõe que dia 31/03 vire nosso dia da memória pelas vítimas da ditadura militar

Escrito en BLOGS el

AINDA HÁ TEMPO, BRASIL!! VAMOS CRIAR O NOSSO DIA DA MEMÓRIA!! SÓ DEPENDE DE NÓS!!

Por: Victor Farinelli (enviado por e-mail)

26/03/2012

No último sábado, um evento multitudinário no centro de Buenos Aires, que emulava diversos outros eventos de menor convocatória em outras cidades argentinas, participavam do denominado Dia da Memória. O 24 de março é aniversário do golpe militar que, em 1976, instalou uma sangrenta ditadura vivida no país, mas foi transformado pela sociedade numa data para celebrar a reconciliação com a verdade histórica, celebrada todos os anos.

Somente na capital do país eram mais de quarenta mil pessoas e se estima que foram mais de 100 mil em todo o país, a maioria vestida de negro, simbolizando o luto por aquele trágico dia. Houve homenagens às milhares de vítimas da ditadura, e apesar de alguns dos principais generais ditadores argentinos já estarem mofando atrás das grades, a multidão ainda clamava por “JUST” e pedia condenação ao agentes da tortura e da repressão que ainda seguem impunes. Para os nossos vizinhos, o resgate da verdade não admite meio termo, a reconciliação tem que ser total, senão não serve.

Justamente sete dias depois, acontece no Brasil outro evento tradicional, todavia muito mais reservado e sombrio. Todos os dias 31 de março, os clubes militares comemoram com euforia e orgulho mórbido sua “revolução”, o dia em que, respaldados pelos setores mais conservadores da elite empresarial brasileira (que também celebram anualmente a data), as forças armadas derrubaram um governo democraticamente estabelecido e impuseram uma ditadura tão ou mais sangrenta que a argentina, que massacrou outras milhares de pessoas.

Muitos dos que festejam o 31 de março nos eventos militares foram agentes torturadores, participaram de sequestros, ataques repressivos contra opositores, assassinatos sumários, ocultação de cadáveres, entre outras atrocidades. A data também serve para que eles possam reafirmar a impunidade estabelecida no Brasil, ratificada pelos principais tribunais do país, como sendo “uma solução para não reativar velhos rancores”, ou algum outro argumento nessa mesma linha hipócrita, dos que serviram para defender a ilegítima Lei da Anistia.

A impunidade é um dos problemas que mais incomoda a sociedade brasileira, mas a hipocrisia também está presente nesse incômodo, pois é contraditório que nos indignemos com a liberdade dos mega estelionatários e seus complexos esquemas de fraude e lavagem de dinheiro, ou a dos políticos que enriqueceram desviando verbas públicas, ou com diversos outros tipos de bandidos que não foram condenados, se sequer somos capazes de nos manifestar minimamente contra aqueles que usaram o aparato estatal para sequestrar nossos compatriotas, contra aqueles que usaram o Estado brasileiro para torturar, abusando dos mais cruéis requintes de violência, as brasileiras e brasileiros que não tinham o direito básico de qualquer democracia, de pensar diferente do que expressa o governo.

Como podemos protestar contra a impunidade reinante nas esferas do poder se aceitamos pacificamente a Lei da Anistia, criada pelos maiores criminosos da nossa história para garantir sua própria impunidade, depois de cometerem as atrocidades mais nefastas que o ser humano é capaz de cometer? Com que cara reagimos a um paradoxo desses?

A resposta a essa pergunta é simples: a melhor forma de reagir a esse absurdo é AGIR. A ação tem que ser popular, temos que recuperar as ruas que um dia foram das forças repressoras, e que precisam voltar a ser da população brasileira. O luto é importante, por isso é importante vestir de negro e levar velas, em homenagem aos brasileiros que sucumbiram diante do terrorismo de estado, mas também levar bandeiras brasileiras, que simbolizem que estamos recuperando o país também em memória aos caídos.

Quanto mais gente melhor, em todas as cidades do país, ocupando todos os espaços, marchando sobre as grandes avenidas (como diria um velho estadista também derrubado por um golpe militar), unindo os brasileiros em nome da verdade memória do nosso povo, em nome da reconciliação do país com sua verdade histórica, e que sejam milhares de vozes exigindo “JUSTIÇA” e “VERDADE”, e demonstrando que os rancores alegados pelas forças conservadoras não estão desativados, eles estão mais que ativos e são os que sustentam a impunidade que hoje já não pode ter mais lugar.

Se você está lendo isso agora e se identifica com esse sentimento, não pense que suas ânsias por um país melhor são irrisórias. Tenha orgulho do que sente, e atue!! Fale com seus amigos, organize com eles, no dia 31 de março, o mais mínimo ato em prol do resgate da memória em nosso país. Você pode se deparar com muitas outras vontades similares, e podem unir forças, que podem ser cada vez maiores.

Ainda há tempo, meus amigos brasileiros!! Ainda há tempo de demonstrar que o Brasil não é o país da impunidade, e isso começa por reverter o pior caso de impunidade da nossa história. Começa por criar o nosso próprio DIA DA MEMÓRIA. Começa por acreditar que juntos, como brasileiros, podemos mais que ganhar copas do mundo e fazer os melhores carnavais do planeta.

Começa por entender que só depende de nós.

No dia 31 de março eu nem estarei no Brasil, mas vou colocar minha camiseta negra, levarei minha bandeira brasileira e acenderei minha vela em homenagem às brasileiras e brasileiros que morreram nas mãos da ditadura. Farei, assim, a minha parte. Se você que lê este pretensioso texto se entusiasmar a fazer o mesmo ou muito mais do que humildemente vou fazer, quero te dizer somente isso: EU AMO VOCÊ!!

Leia também:

Silvio Tendler convoca os brasileiros para ato contra a comemoração do golpe militar de 1964 ______________ Publicidade // //