Fuzil, trânsito e zero emprego

Cleber Lourenço, em novo artigo: “Treze milhões de brasileiros que não existem e não merecem a devida importância para o presidente, aos poucos mergulham na informalidade, agravando ainda mais a crise na Previdência”

Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução)
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Na verdade, para os mais antenados não é nenhuma novidade o desemprego não ser uma prioridade no atual governo. Desde o dia 1º de janeiro, as declarações do presidente vão entre autorização para assassinato, barraco em rede social e um vídeo de um homem urinando em outro. Mas nada contundente sobre desemprego, alta nos preços e retração violenta do poder de compra dos brasileiros. O que, repito, não era nenhum segredo. O motivo? Simples! Já conferiu o plano de governo da campanha do presidente eleito? Se não, leia aqui. Um verdadeiro prelúdio da tragédia! O documento, com um pouco menos de 100 páginas, é notável pela pobreza de dados técnicos e ações concretas para “endireitar o Brasil” e que pode ser considerado uma “cartinha de Papai Noel”, cheia de “boas” intenções, mas sem encarar os problemas do país, de fato. Programa de obras públicas? Investimento na indústria e infraestrutura? Não! O negócio é liberar o assassinato no campo! Não há dúvidas de que Bolsonaro segue sua proposta de governo que, em resumo, é: Querer muitas coisas, mas não saber por onde começar. É muito cobrar a realização de grandes coisas em 100 dias de governo? Sim! Até injusto, mas, por outro lado, não é injusto exigir que o governo tenha algum direcionamento, alguma linha para seguir e isso ainda sequer existe. É claro, com exceção ao foco ostensivo na reforma da Previdência, o que, na verdade, também demorou para vir, não há mais nada no horizonte do governo, além de perseguir grupos sociais, professores e propagandas. Pergunto-me, também, o que acontecerá depois da aprovação da reforma ou caso ela vire água. Existe vida após a reforma da Previdência? Aparentemente, nada. É entre cotoveladas e gritaria que um grupo cada vez maior de brasileiros segue desprezado: os desempregados. O presidente já afirmou que não acredita nos números do IBGE, assim como sequer debateu o assunto em alguma de suas lives semanais. Ao invés disso, atacou instituições, políticos, jornalistas e... Lula! Enquanto o desemprego bate no teto... O governo acredita que a preocupação do cidadão brasileiro neste momento é o design das notas de 50 e 100 reais, enquanto tenta permitir que crianças andem por aí sem cadeirinhas, aumenta o número de pontos na carteira e outros absurdos. Além disso, ainda temos as armas como carro-chefe. Tudo isso enquanto Bolsonaro continua sua sanha pelo fim da reserva de Tamoios em uma região dominada por milicianos, informação dada neste blog semana passada. Mês passado ele foi em uma feira de agronegócio (uma das maiores do mundo) e defendeu o quê? A legalização do assassinato no campo. Nada de investimento, modernização ou programas de obras públicas no campo, apenas a barbaridade como uma espécie de mercador da morte. Isso quando não está provocando os militares ou louvando Olavo de Carvalho. Nesse ritmo, dou mais seis meses para que a segurança alimentar dos brasileiros passe a ser um ponto crítico também. O governo ideológico de Jair Bolsonaro não consegue lidar com problemas fora da esfera ideológica. E a coisa se estende para outras áreas. A região Sudeste está prestes a deflagrar um surto de dengue e chikungunya, enquanto a família presidencial entra em guerra com o vice-presidente. Surreal! Isso ainda acabará por matar muitas pessoas! Enquanto isso, 13 milhões de brasileiros que não existem e não merecem a devida importância para o presidente, aos poucos mergulham na informalidade, agravando ainda mais a crise na Previdência. Já nos foi prometido que a reforma trabalhista traria um mar de empregos. Falhou miseravelmente e apenas contribui para a precarização das relações trabalhistas. Agora, a desculpa é outra. Um verdadeiro jogo de batata quente, onde apenas os trabalhadores queimam as mãos, e o governo ainda lava as suas mãos. Durante sua viagem para Dallas, Bolsonaro disse: “Não vai ter emprego para todos”. Lavou as mãos e ainda disse que o desemprego no Brasil é culpa do despreparo dos trabalhadores. Uma forma de dizer aos desempregados: “se virem aí”, cheio de sofisma. E como a cereja do bolo, ainda temos a segurança pública abandonada e, apesar de o governo negar diversas vezes, o ministro Onyx Lorenzoni deixou claro que a gestão Bolsonaro repassou a responsabilidade do Estado para as mãos dos cidadão, afirmando que o armamentismo civil seria uma espécie de diretriz dos direitos humanos. No saldo geral, poderemos ter armas liberadas, trânsito caótico e um exército de desempregados... Já chamam o Brasil de futuro Mad Max. Por fim, desafio você leitor a encontrar alguma declaração contundente, plano ou sinal de que resolver o desemprego seja um das prioridades do governo. Eu procurei e sei que não há. E vocês?
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.