A USP vai ficar preta

Certa vez fui a aula com uma camiseta do Jackson 5 e muitos riram da minha cara. Percebi que dos quase 100 alunos da turma de Comunicação Social (era tudo junto no primeiro ano), apenas três ou quatro vieram de escola pública como eu. Funkeiros-groove acho que só eu.

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Certa vez fui a aula com uma camiseta do Jackson 5 e muitos riram da minha cara. Percebi que dos quase 100 alunos da turma de Comunicação Social (era tudo junto no primeiro ano), apenas três ou quatro vieram de escola pública como eu. Funkeiros-groove acho que só eu. Por Dennis de Oliveira Quando eu era aluno de graduação em Jornalismo da USP, nos anos 1980, era assíduo frequentador dos bailes funk-groove do S.Paulo Chic e da Chic Show. Certa vez fui a aula com uma camiseta do Jackson 5 e muitos riram da minha cara. Percebi que dos quase 100 alunos da turma de Comunicação Social (era tudo junto no primeiro ano), apenas três ou quatro vieram de escola pública como eu. Funkeiros-groove acho que só eu. Seminários feitos para a disciplina de História da Cultura e Comunicação em que fazíamos esquetes teatrais, sobrava para mim o papel de subalterno. Fui para a militância do movimento estudantil quando conheci o grande Carlos Alberto Carlão de Oliveira, presidente da UEE-SP, da mesma corrente que eu era, a Viração (do PCdoB), que era duramente criticado pelo líder da oposição, também da ECA, que se considerava o mais radical de todos. Este cara é o Demetrio Magnolli, da corrente trotskista Liberdade e Luta, e atualmente um conservador e ardoroso lutador contra as cotas. Mas mesmo na minha corrente do PCdoB, no movimento estudantil, contava-se nos dedos das mãos aqueles que eram negros e pobres. Sai do movimento estudantil, fui para o mestrado e, depois, doutorado, fundei com outros colegas uma entidade do movimento negro ainda militando no PCdoB. Como professor universitário, ajudei na construção do núcleo de estudos afro na Unimep e, depois, como docente na USP, participei do Neinb. Logo no início da minha carreira docente na universidade, uma turma de alunos me apelidou de "azeitona". Outros fizeram um movimento para trazer de volta um professor para o meu lugar que era oriental. E na luta pelas cotas na USP, enfrentei toda a sorte de ofensas, INCLUSIVE DE PESSOAS DO MOVIMENTO NEGRO. Um deles que tem um "site jornalístico de notícias afro" acusou-me de fazer proselitismo partidário e de recusar qualquer negociação com o governo estadual (quando este apresentou uma proposta absurda de um "college" que retardaria por dois anos a possibilidade de um aluno negro entrar na USP), argumentando que eu já tinha feito USP e, portanto, não estava interessado que se democratizasse o ingresso na universidade. O mais grave foram lideranças de entidades importantes do movimento negro silenciarem sobre isto. Apesar disto, tive a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas nesta luta a quem dou todos os créditos pela vitória das cotas na USP. São elas Silvio Almeida, Maria José Menezes, Joselicio Junior, Douglas Belchior, Jupi Castro, Celso Junior, Luka Franca e toda a galera que fundou, em 2013, a Rede Quilombação. Tudo para que nossos filhos e filhas não tenham que passar o mesmo que passamos. Meu desejo é ser professor dos filhos e filhas da Rosangela Dos Santos Costa, do Reginaldo Santos da Luz, da Aline Salles de Oliveira, da Camila De Oliveira, da Luka Franca, do Douglas Belchior, do Joselicio Junior e de tantos outros e outras. A USP VAI FICAR PRETA!!! Foto: Comitê Contra o Genocídio da População Negra