Ciro cola na testa de Temer o rótulo de golpista

Escrito en BLOGS el
por Rodrigo Vianna Ciro Gomes aponta para a tela, e afirma com todas as letras algo que Lula e os dirigentes do PT não ousam falar em voz alta: "o capitão do golpe é aquele ali, Michel Temer". E diz mais: o vice-presidente é "amigo e sócio íntimo de Eduardo Cunha". As afirmações estão em entrevista de Ciro a Mariana Godoy, que reproduzimos acima (a edição foi feita pelo Fernando Brito, do blog Tijolaço).   [caption id="attachment_37607" align="alignleft" width="190"]Eles querem governar o Brasil, sem passar pelas urnas: golpe paraguaio, golpe paulista Eles querem governar o Brasil, sem passar pelas urnas: golpe paraguaio, golpe paulista[/caption] As frases, ditas no "estilo Ciro", de forma crua e direta, colocam a nu algo que o mundo político já sabe. Temer conspira para assumir a presidência. Meses atrás chegou a dizer que o país precisava de um governo de "unidade nacional". Depois, deu seu aval a um "programa de governo" ultra-liberal (onde já se viu alguém que está no governo apresentar um programa alternativo de governo? Isso é ação típica de oposição...). Michel Temer é um "profissional". Foi escolhido para a vice-presidência por ser um "profissional" que agregaria votos das várias correntes peemedebistas no Congresso. Isso funcionou, em parte. Acontece que os profissionais vivem, agem e respiram pensando só numa coisa: o poder completo. Temer tem (sob os auspícios do impeachment-vingança de Eduardo Cunha) a chance de subir no cavalo, sozinho. Não vai perder essa chance. Na verdade, opera em parceria com o PSDB. Se quisesse se opor ao golpismo de Aécio e à vingança de Cunha, Temer já teria se manifestado publicamente contra. Não o fez. Tirou o ministro Padilha do governo Dilma para mandar recado à oposição: podemos caminhar juntos. Temer articula com Serra (que poderia ser o seu "ministro forte", num eventual governo de "unidade"), anda por São Paulo, ausculta empresários golpistas. É um vice que conspira. Ciro faz bem em pregar na testa de Temer o rótulo de "golpista", e "capitão do golpe". Esses dias, participei de um debate informal e despretensioso, pelas redes sociais, com pessoas ligadas ao governo e ao PT.  Muita gente desdenhou da ação de Ciro. O petismo "responsável" acha que atacar Temer é jogá-lo para o lado do golpe... Hum... Sinceramente, acho perigoso achar que Temer "poderia ir para o lado do golpismo". Ele já foi. Já está lá, há pelo menos 6 meses. Claro que não se deve confrontar o PMDB em bloco. Lula tenta costurar o apoio de parcelas do PMDB (Pezão, Sergio Cabral, Eduardo Paes e lideranças do partido no Norte e Nordeste) para barrar o impeachment no Congresso. Trata-se de movimento importante, fundamental. Mas esse movimento não é incompatível com a tarefa de tirar de Temer a aura de "homem da unidade nacional" ou de "pacificador da República". Sobre a traição de Temer, leia aqui o texto de Alex Solnik. Sobre o fato de Temer controlar apenas parte do PMDB (e, portanto, não ser incompatível confrontar Temer e ao mesmo tempo obter apoio de outros setores peemedebistas), leia aqui o texto de Tales Faria. Lula e Dilma não podem (e não devem) confrontar Temer. Mas há muita gente que pode cumprir esse papel. Ciro é um deles. Alguns fatos precisam ficar claros para a população: - Temer é amigo e "sócio" de Cunha em muitas ações politicas; - Temer age nas sombras para chegar ao poder, sem voto; e nessa ação tem como parceiros Cunha e parte do PSDB (Serra, por exemplo). Quanto mais claro ficar o fato de que Temer conspira, menos chance ele tem de obter sucesso na conspiração que já avança a passos largos. Temer é discreto, um "profissional". Cunha é atabalhoado, e também "profissional". São dois estilos de "profissional" em ação. E hoje eles agem juntos.