O cotidiano dos palestinos sob ocupação

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Na última parte da entrevista com Marcelo Buzzeto, integrante do MST que esteve na Palestina, resgatamos o histórico da ocupação israelense assim como a realidade dos que vivem sob a dominação de Israel. Leia também Um retrato da Palestina Em 1947, a ONU acorda a criação do Estado de Israel delimitando o que seria seu território bem como o dos palestinos, região que antes estava sob domínio britânico. No ano seguinte foi feita a primeira incursão militar israelense para ocupar o que seria seu território (suas fronteiras), de acordo com o tratado da ONU. Sem que houvesse negociação ou indenização, famílias árabe-palestinas foram expulsas de suas casas e essas áreas foram colonizadas por famílias de judeus sionistas. A presença da polícia e do exército israelense garantiu que os palestinos não retornassem às suas terras. Buzzeto explica que isto “foi o início daquilo que os palestinos chamam de Nakba (‘a tragédia’). Aqui teve início o problema dos refugiados, expulsos em 1948”. A ocupação israelense buscava consolidar um Estado judeu então foi conduzida uma “política de ‘judaicizar´ a palestina que resultou no extermínio de milhares de palestinos. Prisão, assassinato, torturas e expulsão: essa foi a ação de Israel entre 1948 e 1967” define Buzzeto. O militante segue relatando que “os árabes-palestinos-muçulmanos tiveram negados seus direitos sobre a terra e sobre o comércio; suas propriedades foram confiscadas, roubadas; foram impedidos de viver nos territórios onde seria o Estado Judeu. Nessa época, muitas mesquitas e igrejas cristãs foram fechadas, destruídas, e, principalmente os muçulmanos, sofreram muita represália por parte do novo Estado”. Dezenove anos depois, Israel voltaria a ocupar territórios palestinos. Desta vez contrariando o acordo da ONU, o país ocupou e colonizou regiões que não lhe pertenceriam. Marcelo Buzzeto explica que “em 1967 houve uma nova onda expansionista-colonialista por parte de Israel, que ocupou militarmente Gaza, Cisjordânia, toda Jerusalém (que pelo plano de 1947 deveria ser administrada pela ONU), as Colinas de Golan (Síria) e a Península do Sinai (Egito). Com isso a violência contra os palestinos só cresceu e apesar das inúmeras resoluções da ONU, Israel não recuou até hoje para as fronteiras anteriores à 1967, pois essas terra invadidas (Gaza e Cisjordânia) seriam o território que, segundo a ONU, deveria ser o Estado Palestino”. Qual a situação dos territórios palestinos? Quais são as conseqüências da construção do muro no cotidiano dos palestinos? Os palestinos têm uma incrível capacidade de se adaptar às mais difíceis condições e na Cisjordânia, em Ramallah, Hebron, Bil'in, Ni'lin, Beat Sahour, Belém e em tantas outras cidades e vilarejos por onde passamos encontramos a vida em movimento, sempre uma pequena indústria local, um pequeno comércio, uma pequena agricultura, tudo voltado para atender aos interesses do mercado interno, muita diversidade de alimentos, frutas, legumes, frango, carneiro e produtos típicos da região como azeite de oliva e limão. O projeto do muro prevê 900 km de extensão. Tem hoje cerca de 500 km já construídos, separando cidades e vilarejos palestinos, separando terras palestinas de terras que hoje são ocupadas ilegalmente por colonos nos assentamentos judeu-sionistas. O muro cercou Belém, cidade onde nasceu Jesus, e para entrar ou sair tem que passar pelo check-point, com soldados do exército vistoriando passaportes, documentos, malas e sacolas. Os palestinos sofrem todo tipo de constrangimento nesses locais. O muro anula o direito de ir e vir. Mercadorias e pessoas não circulam livremente hoje na palestina, mas o povo fez uma opção: desenvolver uma economia auto-sustentável, para diminuir o máximo possível a dependência dos produtos israelenses. Quais são as principais demandas das organizações com que você entrou em contato? Todas as organizações lutam pela libertação dos oito mil presos políticos, que inclusive fizeram uma greve de fome agora no final de maio. Lutam pela libertação das 34 presas políticas, mulheres da resistência palestina. Lutam pela libertação de lideranças como Ahmad Sadat, membro do Conselho Legislativo Palestino. Já os camponeses lutam para reaver suas terras e para garantir acesso à água; pelo direito de colher as oliveiras, e de comercializar seus produtos em todo o território palestino. Israel controla as estradas e isso dificulta a comercialização dos produtos agrícolas palestinos, principalmente o comércio entre Gaza e Cisjordânia, que é quase inexistente devido às barreiras, aos check-point e ao muro construído por Israel. As organizações de mulheres palestinas desenvolvem atividades de geração de renda através de cooperativas de artesanato e outras atividades e lutam para ampliar sua participação na vida econômica, social e política. Lutam para garantir educação e saúde pública, gratuita e de qualidade, nas condições difíceis em que vivem. Existem vários projetos sociais organizados pela Autoridade Palestina e também pelos movimentos sociais. Como são os meios de comunicação na Palestina? Existem jornais e rádios feitos por palestinos ou críticos a Israel? Essa é uma das formas de luta muito ativa na esquerda. Produzem jornais, sites, blogs, ONGs que publicam livros, cartilhas, documentários e CDs com música palestina, também organizam eventos culturais e debates em teatros e universidades. Fazem o trabalho de agitação e propaganda no interior dos territórios controlados por Israel e nos territórios controlados pelos palestinos, ou seja, estão em toda a Palestina. O Centro de Informação Alternativa tem se constituído numa referência de trabalho popular na área da comunicação. São reconhecidos pelas mais diversas forças da esquerda israelense e palestina, não são os únicos mas são uma importante experiência de construção do poder popular e democrático no campo na comunicação e cultura. Leia também o restante da entrevista com Marcelo Buzzeto: Como foi recebido o episódio do ataque à Flotilha da Liberdade A Conferência de Haifa e a organização da resistência