Truculência e política na ação da Cracolândia

Da CartaCapital: Na segunda-feira 16, a tentativa de politizar o drama dos viciados em crack, hoje alvo de uma operação da Polícia Militar em São Paulo, ganhou contornos partidários. Em debate promovido pelo PSDB, os pré-candidatos do partido para prefeito de São Paulo utilizaram o tema como mote para criticar o PT de Fernando Haddad, provavelmente o principal concorrente na disputa.

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Da CartaCapital Na segunda-feira 16, a tentativa de politizar o drama dos viciados em crack, hoje alvo de uma operação da Polícia Militar em São Paulo, ganhou contornos partidários. Em debate promovido pelo PSDB, os pré-candidatos do partido para prefeito de São Paulo utilizaram o tema como mote para criticar o PT de Fernando Haddad, provavelmente o principal concorrente na disputa. Andrea Matarazzo, secretário estadual de Cultura, aproveitou para bater na gestão de Marta Suplicy na capital paulista, entre 2001 e 2004 – e que segundo ele, teria sido reponsável por consolidar o crack na região da Luz, no centro da cidade, conhecida como Cracolândia. Foi o sinal mais claro, até o momento, de fugir da questão jogando no colo de um adversário político. Mas não foi o único. Também pré-candidatos, o deputado Ricardo Trípoli e o secretário José Anibal (Energia) buscaram “federalizar o problema”, com críticas aos governos Lula e Dilma Rousseff – que, segundo eles, não conseguiram impedir a entrada da droga no país durante a gestão pela Bolícia nem oferecer tratamento adequado aos viciados no Sistema Único de Saúde (SUS). Bruno Covas, secretário estadual do Meio Ambiente, seguiu a linha, mas de forma menos estrondosa. Disse no debate que a prefeitura não pode e não será entregue a grupos que querem se perpetuar no poder. “O crack não é oriundo do Brasil. Eles estão há nove anos no governo e não fizeram nada para que os entorpecentes não entrassem pela Bolívia. Agora vem aqui dar palpite na política de São Paulo”, disse Trípoli. “Hoje, o SUS não finacia o tratamento dos dependentes”, acrescentou Aníbal. Ao mesmo tempo, questionado sobre a ação deflagrada pelo governo estadual no sabado 14, Haddad disse ao jornal Folha de S. Paulo que a operação foi desastrada. Matarazzo saiu em defesa e acusou o PT de estar fazendo politicagem com a situação. O episódio se contrapõe ao discurso de que a presidenta Dilma viva uma “lua de mel” com os governos estadual e municipal de São Paulo. E que os esforços para mostrar ações integradas entre as esferas do governo são apenas discurso. Na quinta-feira 12, a presidenta havia defendido o bom relacionamento entre os partidos de oposição, no que ela chamou de decoro governamental. “É impossível no Brasil um governante achar que se governa sem os governos estaduais e os prefeitos. Não governa”, disse. Em entrevista a CartaCapital, o arquiteto Jorge Bassani, que pesquisa a região da Cracolândia, afirma que pouco foi feito nos últimos anos para tentar solucionar o problema dos viciados na região central de São Paulo. Agora, no fim da gestão, o prefeito Gilberto Kassab (PSD) tentou mostrar sua atuação. Alckmin, segundo ele, aproveitou para “tirar uma casquinha”, com o aumento da visibilidade possibilitado pela ação da Polícia Militar. “Essa gestão vai sair completamente desmoralizada em relação à Luz”, afirma Bassani. “A operação corre o risco de se tornar algo meramente midiático”. Embora seja cedo para avaliar se de fato a ação vai despertar o apoio da opinião pública, a Folha de S. Paulo noticiou nesta terça-feira 17 que Kassab tinha em mãos uma pesquisa de opinião, desde 2011, mostrando que população demandava uma atuação mais forte na repressão ao uso e tráfico de drogas. A operação foi criticada na mídia pela falta de sincronia entre a repressão policial e estratégias de tratamento e pela ausência de comunicação entre os altos escalões governamentais. Além disso, especialistas apontam que repressão é desmedida, e a estratégia tem um perfil higienista. Na segunda-feira 16, a própria PM inaugurou uma estratégia de comunicação para reforçar a imagem da instituição durante a operação Centro Legal, com auxílio de sites e redes sociais. Além de textos explicando objetivos da ação, a PM criou uma página no Facebook em que internautas podem prestar apoio à instituição.