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Doria, Leite e Moro precisam urgente de um coach de planejamento de carreira

Um bom especialista em gerenciamento de carreiras viria com espanto as escolhas feitas pelos três favoritos da mídia para serem a "terceira via"

Doria desiste e é amparado por Bia. Foto: reprodução
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CYNARA MENEZES

Nesta segunda-feira, 23 de maio, o ex-governador de São Paulo João Doria Jr. anunciou sua desistência da corrida eleitoral. Chorando, macambúzio, Doria disse deixar a disputa "com o coração ferido". Nem de longe lembrava o mesmo homem altivo que, dois meses atrás, deixava o Palácio dos Bandeirantes anunciando: "Sim! Sim! Serei candidato a presidente da República pelo PSDB".

Quer Doria queira, quer não, o pranto na despedida transmitiu a mensagem que a desistência pode significar o fim de sua breve e meteórica passagem pela política, que por sinal já havia sido defendida publicamente pela mulher, Bia Doria, em entrevista à Folha de S.Paulo antes de o marido topar a empreitada abortada agora.

"Quero meu marido de volta em casa. Ele tem que voltar para casa, preciso dele íntegro para cuidar da família, dos filhos. Nosso patrimônio está se dilapidando, nossa família ameaçada, o povo joga bomba, joga coisas na nossa casa. Não sei de onde vem essa raiva de quem trabalha. Nós estamos sendo ameaçados de vida", disse Bia no final de março. Cercado de homens, foi na mulher que o ex-presidenciável encontrou refúgio ao final do anúncio, como uma criança contrariada no colo da mãe.

Um bom especialista em gerenciamento de carreiras certamente viria com espanto as escolhas feitas por Doria, experiente empresário do setor de comunicação e marketing. Primeiro ao abandonar um cartão de visita vistoso como a prefeitura de São Paulo, sua estreia como administrador público, para se lançar ao governo do Estado. Pior, em dobradinha com o extremista de direita Jair Bolsonaro.

Ganhou, é verdade, mas nunca foi bem avaliado pelos paulistas como era pelos paulistanos, em que pesem seus corretos esforços no combate à pandemia de Covid-19, em contraste com o governo do ex-cabo eleitoral.

Aí, em vez de continuar até o fim o mandato como governador e tentar a reeleição –se perdesse seria mais digno–, Doria resolve renunciar ao cargo para se lançar à presidência com chance nenhuma, de acordo com as pesquisas: na mais recente, da XP/IPespe, aparece com 4%. Tampouco pode-se dizer que teve em algum momento o apoio do próprio partido, sempre com a sombra do rival Eduardo Leite pairando sobre sua candidatura.

Leite é outro precisando de um coach de planejamento de carreira: quem é capaz de entender um governador de Estado, estrela ascendente da última eleição, largar o cargo para se lançar à presidência sem ter nem mesmo a vaga assegurada por seu partido? Mesmo que saia candidato agora, o desconhecido tucano tem pouquíssima chance de obter algum êxito. Tanto ele quanto Doria têm rejeições altíssimas e idênticas, na margem de erro, segundo as pesquisas: o paulista é rejeitado por 54% dos eleitores brasileiros, e o gaúcho, por 52%.

Piores escolhas profissionais do que as feitas pelos dois tucanos só mesmo as apostas amalucadas do ex-juiz Sergio Moro, também campeão de rejeição nas pesquisas. Primeiro, abriu mão de um cargo vitalício na Justiça Federal para se tornar ministro de Bolsonaro. Depois, ao deixar o governo, se tornou consultor numa multinacional que presta serviços a empresas destruídas pela Lava-Jato, foi bombardeado por críticas e virou alvo de denúncias no Ministério Público e no TCU por "conflito de interesses".

Piores escolhas do que as feitas pelos dois tucanos só mesmo as apostas amalucadas do ex-juiz Sergio Moro. No mínimo, o trio trocou o certo pelo duvidoso ao se lançar numa corrida que parecia não terem nenhuma chance de vencer. Algum coach disponível aí?

Moro filia-se então ao Podemos para sair a presidente, mas acaba traindo o partido e indo para o União Brasil, que não lhe oferece a legenda para se candidatar. Fiasco total. Não se sabe até agora se sairá candidato ao Senado, à Câmara Federal ou a nada. Nem mesmo a situação de seu domicílio eleitoral está resolvida: o Ministério Público Eleitoral aponta "irregularidades" na mudança dele e da mulher, Rosângela, de Curitiba para concorrer por São Paulo. Quem sabe não é melhor esperar para sair a vereador em Maringá em 2024?

Eu olho para os três, a "terceira via" dos olhos da mídia comercial, e só o que me vem à memória é aquele velho quadro do programa Silvio Santos em que a pessoa entrava numa cabine e ficava de ouvidos tapados enquanto o apresentador oferecia trocas estapafúrdias:

–Quer trocar o cargo de governador por uma candidatura miada a presidente?

–Simmmm!

–Quer trocar um emprego vitalício de juiz federal para ser estafeta de Bolsonaro?

–Simmmm!

Alguém precisa salvar a carreira destes rapazes urgente. Tem um coach disponível aí?