Indicadores econômicos recentes demonstram a realidade da ocupação Israelense sobre a Palestina

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Por Paulo Barata Gondim* Tendo em conta os últimos acontecimentos referentes à questão Palestina – a mudança da embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) para Jerusalém, as mortes e inúmeras violências ocorridas nos protestos de Palestinos de Gaza em 2018 e o corte de verbas do governo de Donald Trump à UNRWA (United Nations Relief and Works Agency for Palestine Refugees in the Near East), vale observar determinados aspectos políticos e econômicos da ocupação Israelense nos Territórios Palestinos Ocupados (TPO). E, assim, ter mais clareza sobre o processo atual da ocupação Israelense dos Territórios Palestinos e que está associado a um retrocesso econômico Palestino, tendo como base a análise sobre determinados indicadores da economia Palestina referentes a 2017. O retrocesso da economia Palestina tem ocorrido, nos últimos anos, devido, sobretudo, à intensificação da ocupação dos TPO. De acordo com dados do Banco Mundial, o PIB Palestino teve um decréscimo de 2.7% em 2017. Já para 2018, a projeção do Banco Mundial girava em torno de 2.5%.1 Os níveis de desemprego seguem em níveis altos nos TPO, no patamar de 27% em 2017. Na Cisjordânia, a taxa de desemprego alcançou 18%, enquanto que na Faixa de Gaza os desempregados chegaram a 44%. Entre os jovens, de 15 a 29 anos, a taxa de desemprego atingiu o percentual de 41% nos TPO, sendo 60% apenas na Faixa de Gaza.2 De acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), os homens representaram 71.2% da força de trabalho nos TPO em 2017, enquanto que as mulheres tiveram uma parcela de apenas 19%. Já a taxa de desemprego entre os homens foi de 22.3%, enquanto que o desemprego entre as mulheres foi de 47.4%.3

O nível de inflação atingiu 0.2% nos TPO em 2017. Essa pequena elevação inflacionária foi causada, principalmente pelo setor externo, por meio da desvalorização do shekel (moeda utilizada em Israel, e que também é a moeda corrente nos TPO), com uma consequente alta no preço dos produtos importados. No setor interno, isso indica que há um processo deflacionário em curso, por conta da estabilização dos preços dos alimentos obtidos nos TPO e em Israel. Isso indica que há uma limitada geração de renda, que tende a pressionar o nível geral de preços para baixo, causando mais recessão na economia Palestina4, que de saída é impactada pela falta de soberania em política monetária, um dos corolários da ocupação. Segundo dados do Palestinian Central Bureau of Statistics (PCBS), em 2017, 29.2% dos Palestinos vivim abaixo da linha de pobreza, um número superior aos 26% verificados em 2011. Na Cisjordânia, o número de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza chegou a 19.3% em 2017, enquanto que na Faixa de Gaza esse índice chegou ao patamar de 53%.5

Um fator de destaque na economia Palestina em 2017 foi o aumento de trabalhadores Palestinos em Israel. Segundo dados da OIT, a força de trabalho Palestina do outro lado da Linha Verde, por volta de 131 mil, teve um aumento de 11% em 2017, devido, sobretudo, às permissões de trabalho concedidas por Israel. O setor de construção civil teve um crescimento de 6.3% e foi responsável por 12.6% do crescimento do PIB em 2017, ficando atrás do setor integrado por comércio, restaurantes e hotéis, que teve crescimento de 9.6%, sendo responsável por cerca de 60% do PIB Palestino, como é ilustrado abaixo no gráfico produzido pela OIT 6:

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Esses dados mais recentes mostram a ponta do iceberg de um processo que já tem cinco décadas, em que a ocupação Israelense tem sido reconfigurada de acordo com imperativos políticos e econômicos das principais forças que controlam o aparato estatal israelense. Ou seja, com base nos indicadores econômicos destacados anteriormente, é possível concluir que a economia palestina tem um crescimento direcionado à continuidade da ocupação de Israel. Uma parte expressiva do setor dinâmico da economia Palestina está associada ao setor de construção civil que é utilizado por Israel para avançar na construção de assentamentos, utilizando mão de obra de baixo custo nos TPO.

Nesse contexto, os indicadores econômicos são corroborados pelos aspectos políticos, os quais demonstram como as forças políticas lideradas pelo Likud possuem uma expressiva representatividade política nos assentamentos Israelenses nos TPO, como pôde ser verificado nas últimas eleições legislativas realizadas em Israel em 2015. De um total de 206 mil eleitores elegíveis nos assentamentos israelenses da Cisjordânia, 163 mil votaram nas eleições, o que representa cerca de 80% de participação eleitoral. Tendo em conta que a participação eleitoral em Israel foi de 72% nas eleições de 2015, esses dados sobre o número de votantes nos assentamentos na Cisjordânia é de grande relevância. O Likud obteve 23% do total de votos nos assentamentos, perdendo para o Bayit Yehudi, que ficou em primeiro lugar, com 24% dos votos.7 Desse modo, o que se configurou dois anos atrás é que o partido de direita Likud, de Benjamin Netanyahu, lidera um conjunto de forças políticas em Israel e na colonização dos TPO por meio de uma coalizão de centro-direita formada pelos seguintes grupos políticos: Jewish Home, United Torah Judaism, Kulanu, Shas e Yisrael Beiteinu.8

Portanto, nota-se a força e a representatividade dos principai grupos políticos de Israel na ocupação territorial e também política dos TPO. Desta forma, a política estatal Israelense é acompanhada, em grande medida, pelos esforços da atual coalizão do governo Israelense de intensificar o processo de colonização dos TPO. E, assim, a economia nunca esteve tão perto da política no conflito Israelense-Palestino.

* É Mestre em Relações Internacionais pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Doutorando em Política Internacional e Resolução de Conflitos pelo Centro de Estudos Sociais da mesma Universidade.

Referências 1 Palestine's Economic Outlook - April 2018. Disponível em: https://www.worldbank.org/en/country/westbankandgaza/publication/economic-outlook-april-2018. 2 Palestine's Economic Outlook - April 2018. Disponível em: https://www.worldbank.org/en/country/westbankandgaza/publication/economic-outlook-april-2018. 3 The situation of workers of the occupied Arab territories, 2018. Disponível em: https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_norm/---relconf/documents/meetingdocument/wcms_629263.pdf.

4 Palestine Monetary Authority (PMA). Economic Forecast Report, 2018: December 2017. Disponível em: http://www.pma.ps/Portals/1/Users/002/02/2/Publications/English/Annual%20Reports/Economic%20Forecast%20Report/Economic%20Forecasts%20report%202018%20(English).pdf.

5 Palestinian Central Bureau of Statistics Poverty Profile in Palestine, 2017. Disponível em: http://www.pcbs.gov.ps/Document/pdf/txte_poverty2017.pdf?date=16_4_2018_2.

6 The situation of workers of the occupied Arab territories, (2018). Disponível em: https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_norm/---relconf/documents/meetingdocument/wcms_629263.pdf.

7 More settlers voted for Bayit Yehudi, data shows. Disponível em: https://www.jpost.com/Israel-Elections/More-settlers-voted-for-Bayit-Yehudi-data-shows-394675.

8With less than 2 hours to spare, Netanyahu secures a coalition. Disponível em: http://www.timesofisrael.com/in-the-11th-hour-netanyahu-finalizes-61-strong-coalition/.