Ex-membros do PCO relatam abusos, perseguição e assédio: "Ambiente altamente policialesco"

Quatro jovens ex-integrantes do partido contam ao DCM experiências traumáticas vividas no PCO: "Havia sessões de tortura psicológica para forçar o militante a concordar com as exigências ou pular fora mediante pressão"

Quatro jovens ex-integrantes do partido contam ao DCM experiências traumáticas vividas no PCO. (Foto: Reprodução/DCM)
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Em série de depoimentos publicados pelo Diário do Centro do Mundo (DCM), ex-integrantes do Partido da Causa Operária (PCO) denunciam assédios, calotes e ameaças feitas por membros do PCO. Entre outras acusações, os jovens relatam abusos e contam como funciona a lógica de redes sociais do partido, voltada à perseguição de pessoas que criticam a legenda.

As acusações corroboram uma reportagem de 7 de dezembro também do DCM, com reprodução de diálogos de Skype entre os filhos de Rui Costa Pimenta, fundador e líder inconteste do PCO, e ex-integrantes da sigla.

São processos na Justiça e uma verdadeira rotina de calotes e golpes em funcionários. Filha de Rui, Natália Pimenta afirmava que tinha “pós em enrolar pagamentos”. Um militante implorava pelo salário enquanto a mãe estava internada em uma UTI. Nesse meio tempo, Rui Costa Pimenta e a família viajavam pela Europa.

Nessa nova leva de denúncias, Mikke [Michel] Nienow de Barros, de 30 anos, que entrou no partido em setembro de 2017, fala que "presenciou diversos abusos". Segundo ele, membros do PCO recebiam acusar e difamar outras pessoas com o objetivo de defender o partido.

“Havia um clima de policiamento constante sobre quem não estivesse ‘alinhado’ com a direção e sessões de tortura psicológica para forçar o militante a concordar com as exigências ou pular fora mediante pressão. Uma relação abusiva, daquele tipo que quem está próximo a você percebe melhor o buraco em que você se enfiou”, afirma.

A saída de Mikke Nienow de Barros do PCO não foi fácil: “Decidi esperar para sair oficialmente pois já conhecia as práticas de perseguição”.

Perseguido com a esposa

Kevin Drummond, de 32 anos, foi proibido de ver a filha e perseguido junto com a esposa. Militantes do partido chegaram a criar perfis fakes para tentar desestabilizar a relação e atacá-lo nas redes profissionais, em que atua como professor de piano.

"(...) Eu vi outro militante com dívidas de outro estado. (...) A não ser que você seja o Emílio Surita da Jovem Pan, ninguém ganha nem um broche de graça dentro do Partido da Causa Operária”, relata. Drummond diz que é testemunha em ação trabalhista de ex-funcionários que estavam sem receber, vítimas de calote, e comunicou sua saída pelo Facebook.

Esposa de Kevin Drummond, Natália Campos também teve uma experiência traumática com o PCO. “Percebi que a arrecadação mobilizada pelo partido era incongruente com sua real atuação. As contribuições eram revertidas para outros fins, que não necessariamente os fins de luta partidária”, conta.

Denúncia de ataque hacker

Outro ex-militante, Diego Rabelo, de 37 anos, acredita que o PCO pode ter fraudado um famoso “ataque hacker” em que sumiram matérias contra o PT, associando Lula (PT) ao mensalão. “Eles venderam isso para a imprensa”, afirma.

Diego relata, ainda, que foi para São Paulo fazer uma espécie de estágio na redação do Jornal da Casa Operária. "Era um ambiente terrível, altamente policialesco, e parece que você é vigiado o tempo todo."

"Um cara chamado Rafael Dantas [que é genro de Rui Costa Pimenta] me atacou porque eu estava vendo um site que tinha uma foto de Stalin. Cheguei à conclusão que esse pessoal é estimulado pela família Pimenta a pressionar psicologicamente qualquer pessoa para que ela não tenha contato com nada fora do partido”, diz.

Diego saiu em meados de 2005, após uma discussão sobre futebol que acabou com Rui berrando xingamentos contra ele no meio da rua. Filiou-se ao PT e foi dirigente da UNE. Clique aqui para ler a reportagem na íntegra.