Ômicron: morte de bebê de 1 ano e quatro meses acende alerta para gravidade da nova variante

Inicialmente tratada como menos grave, a nova cepa do coronavírus atinge sobremaneira as crianças

Foto: Agência Brasil
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Uma criança de 1 ano e quatro meses morreu na noite desta segunda-feira (31), no Distrito Federal, à espera de um leito de unidade de terapia intensiva (UTI), devido a complicações causadas pela Covid-19.

De acordo com a Secretaria de Saúde, a criança chegou ao hospital durante a madrugada com pneumonia. A pasta também informou que o bebê recebeu "tratamento com antibiótico e iniciou a oxigenação via cateter nasal, respondendo bem".

Porém, durante o tratamento, o quadro "evoluiu com instabilidade respiratória, motivando a mudança de suporte respiratório para ventilação invasiva". Posteriormente, a criança entrou na fila de regulação de leitos, com classificação 2, indicada para pacientes que precisam de suporte ventilatório sem intubação.

Por volta das 18h, a criança apresentou "piora abrupta" e teve uma parada cardiorrespiratória. De acordo com o comunicado da Secretaria de Saúde, houve tentativa de reanimação por 40 minutos, mas o bebê não resistiu.

O bebê veio à óbito no Hospital Regional do Paranoá e a confirmação de infecção pelo coronavírus se deu um dia após o seu falecimento.

O Distrito Federal tem 98 leitos de UTI para tratar pacientes com Covid-19. Desse total, que engloba vagas para adultos e crianças, 89 estavam ocupados, seis vagos e três bloqueados, ou seja, uma taxa de ocupaçao de 93,68%.

Segundo o monitoramento da Secretaria de Saúde, há apenas três leitos para adultos e três neonatais, e não há vagas na ala pediátrica.

Ômicron avança entre as crianças

A morte da criança acendeu um alerta diante da variante ômicron.

No Brasil, entre novembro de 2021 e janeiro de 2022, explodiu o número de crianças com até 10 anos com Covid-19, passando de 220 para 3.828, um aumento de 1.640%. Especialistas já falam na necessidade de se criar leitos para atender o público infantil.

Levantamento feito pela NBC News mostra que a internação de crianças com Covid-19 nos EUA disparou desde o surgimento da variante ômicron. Nove estados relataram recorde de hospitalizações pediátricas: Connecticut, Geórgia, Illinois, Kentuck, Massachusetts, Maine, Missouri, Ohio e Pensilvânia.

A Academia Americana de Pediatria (American Academy of Pedistrics - AAP) revelou que os casos de Covid-19 entre crianças nos Estados Unidos estão em sua maior contagem desde o início da pandemia: entre o fim de 2021 e começo de 2022, houve um aumento de 64% de casos de Covid entre crianças.

Miguel Nicolelis é contra a volta às aulas; gráfico aponta que Ômicron atinge mais crianças

O médico e neurocientista Miguel Nicolelis, professor da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, afirmou que discorda totalmente da posição de que “os riscos do retorno as aulas são aceitáveis”.

O especialista usou como exemplo um levantamento do UOL que mostra que a taxa de ocupação das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) pediátricas no Brasil vem aumentando e chegando próxima ao colapso em vários Estados. No Mato Grosso do Sul, Maranhão e Rio Grande do Norte, a ocupação está em 100%.

Bahia, Pernambuco, Goiás, Ceará, Alagoas e Mato Grosso apresentam taxas maiores que 50%. Além disso, o médico destaca um estudo do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo que afirma que 43% das crianças continuam sofrendo efeitos prolongados da Covid-19 três meses depois da infecção.

“Não há risco aceitável com crianças. Ninguém sabe como sequelas crônicas deixadas pela Ômicron podem afetar crianças infectadas. É um absurdo sem precedentes reabrir escolas. Com transmissão muito menor na primeira onda elas foram fechadas. Qual a lógica de permitir sua reabertura agora?”, questiona Nicolelis.

Ômicron e a volta às aulas

A vacinação de crianças e adolescentes avança a passos lentos no Brasil. Mesmo assim, a maior parte dos Estados (14) não vai exigir que os estudantes tenham sido imunizados, segundo informações atualizadas do G1.

Outros sete disseram que vão cobrar a carteira atualizada, embora ressaltem que isso não será impeditivo para assistirem às aulas. Três ainda não se definiram e outros três não informaram.

Entre os Estados, 22 deles e mais o Distrito Federal vão adotar o modelo presencial nas suas redes de ensino. Três ainda não definiram o formato e um terá aulas no modo híbrido.

“Com UTIs pediátricas lotadas em todo mundo e no Brasil é um risco inaceitável devolver milhões de crianças e jovens às escolas que não tem estrutura, nem preparo nem treinamento para manter normas de segurança. Vacinem as crianças e abram escolas paulatinamente com os vacinados”, orienta Nicolelis.

O médico diz, ainda, que se tivesse filhos em idade escolar, eles ficariam em casa pelas próximas duas ou três semanas até que a onda da Ômicron terminasse e eles estivessem vacinados. A taxa de transmissão do coronavírus atingiu o seu maior índice no Brasil nos últimos dias por causa da variante.

Segundo a plataforma SP Covid-19 Info Tracker, criada por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) e da Unesp (Universidade de São Paulo), com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o ritmo de contágio (Rt) atingiu 1,9 nesta quarta-feira (26). Antes da Ômicron, o maior Rt registrado pelo Info Tracker havia sido o de 1,29, em 21 de janeiro de 2021.

“É uma enorme temeridade permitir o retorno de aula presenciais em qualquer nível no meio de uma onda que possui os maiores índices de transmissão de toda a pandemia. Deveríamos vacinar o maior número de crianças possível e retornar as aulas progressivamente com os vacinados”, afirma Nicolelis.

O especialista também publicou um gráfico que mostra que a curva de hospitalizações de crianças na Inglaterra explodiu com a Ômicron, superando até mesmo a variante Delta. O mesmo aconteceu nos Estados Unidos. “Como pensar em reabrir escolas com este risco absurdo?”, questiona o médico.

Bolsonaro diz que mortes de crianças por Covid-19 são “insignificantes”

Jair Bolsonaro (PL) se supera a cada dia em suas declarações ofensivas ao povo brasileiro. Ele voltou a minimizar o número de mortes de crianças por Covid-19 no país. Um dia depois de participar do enterro da própria mãe, Olinda Bolsonaro, em Registro, no interior de São Paulo, o presidente classificou o número de mortes infantis como “insignificante”.

“Eu desconheço criança baixar no hospital. Algumas morreram? Sim, morreram. Lamento, profundamente, tá. Mas é um número insignificante e tem que se levar em conta se ela tinha outras comorbidades também”, afirmou Bolsonaro.

O que para Bolsonaro é “insignificante”, na verdade, é uma tragédia para inúmeras famílias brasileiras.

De acordo com o Instituto Butantan, a Covid-19 matou, por enquanto, 1.449 crianças, com idades entre zero e 11 anos no país. A doença também deixou milhares de crianças com sequelas.

Além de minimizar a dor das famílias, Bolsonaro voltou a criticar a vacinação infantil e destacar o que chama de “efeitos adversos”.

Com informações do Correio Braziliense e G1.