Mapa mostra que Polícia Militar não atua em região de milícias no Rio de Janeiro

Uma análise de dados feita com base no projeto Fogo Cruzado mostra que o poder público não age da mesma maneira em regiões de tráfico e de milícia

Wilson Witzel (Foto: Flickr/ Governo do Rio)
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A morte da menina Agatha Félix, de 8 anos, atingida por tiro de fuzil da Polícia Militar no Complexo do Alemão, reacendeu amplos debates sobre a segurança pública no Rio de Janeiro, destacando a promoção de uma verdadeira política de extermínio no estado, atingindo principalmente negros e favelados. Uma análise de dados feita com base no projeto Fogo Cruzado mostra que o poder público não age da mesma maneira em regiões de tráfico e de milícia. O estudante de Relações Internacionais da PUC-Rio Fabrício Zettel resolveu usar o banco de dados do Fogo Cruzado para elaborar um mapa com os tiroteios envolvendo agentes de segurança do Estado no município do Rio de Janeiro em 2019 e constatou que na região dominada por milícias quase não há ação ostensiva da Polícia Militar, do Exército e de outras forças de segurança. "O que me impressiona é a visualização prática de que praticamente não existe registros em áreas de milícia. Em áreas de disputa, é possível ver a Cidade de Deus com tiroteios quase diários contra Gardênia Azul sem nenhum registro oficial. Na Zona Oeste controlada pela milícia não há confronto, enquanto que nas áreas de tráfico é guerra total", avaliou o pesquisador. Cidade de Deus e Gardênia Azul são bairros vizinhos, enquanto a Cidade de Deus é controlada pelo tráfico, Gardênia é uma tradicional região da milícia. Com base nos dados do aplicativo, foram produzidos dois mapas: um com todos os tiroteios registrados na cidade e outro com as trocas de tiros em que agentes de segurança estiveram presentes. Em ambos é notória a diferença entre as regiões, reforçando um elo entre o poder público e as milícias. O estudante aponta, no entanto, que há um grande crescimento percentual na Zona Oeste quando considerados os tiroteios totais. "Quem atua nesta área então?", questiona. Zettel ainda ressalta que a pesquisa deve evoluir para aprimorar a análise e obter mais resultados. O Fogo Cruzado elogiou a percepção do pesquisador e apenas ressaltou que os dados se referem a diversas corporações e não apenas à Polícia Militar, como ele havia se referido anteriormente. O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), responsável pela CPI das Milícias realizada em 2008 na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, alerta com frequência que o Rio de Janeiro não tem combatido as milícias como deveria, deixando que elas continuem a manter seu poder territorial. "Milícia é máfia. O que foi feito em relação a tirar o transporte alternativo das milícias? E quanto ao domínio do gás? Quantos fiscais a Agência Nacional de Petróleo (ANP) há hoje no Rio para fiscalizar a venda do gás? Como não tiraram os poderes econômico e territorial desses grupos?", declarou em entrevista recente ao O Globo. Confira abaixo e, através do link, os mapas com todas as ocorrências e com as ocorrências ligadas a Forças de Segurança: https://twitter.com/fabzettel/status/1176150621558333440 https://twitter.com/fabzettel/status/1176152167427821568 https://twitter.com/fogocruzadoapp/status/1176163734676549632