Mourão, o gênio: “Gasolina é cara no mundo todo, na Grécia é € 1,70. Quase R$ 11”

Raciocínio brilhante ignora valor do salário mínimo do país europeu, que é de € 758, enquanto no Brasil, onde a gasolina chega a quase R$ 7, é de R$ 1.192. Vice-presidente também não levou em conta a superdesvalorização do real

Foto: Brasil247 (Reprodução)
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O general Hamilton Mourão, vice-presidente da República, resolveu comentar nesta quinta-feira (14) a sequência de aumentos obscenos dos combustíveis no Brasil e usou de uma analogia, digamos, pouco inteligente para mostrar que a gasolina é cara “no mundo todo”.

“Tive a oportunidade na viagem para prestar atenção no preço do combustível nos países que eu andei, né? A exceção é o Egito, que está baixo. Eu olhei ali, por exemplo, na Grécia, o litro de gasolina está a € 1,70, é praticamente R$ 10, R$ 11”, contou o viajado militar que ocupa o Palácio Jaburu.

No entanto, o raciocínio de Mourão parece não fazer muito sentido quando analisado de forma conjuntural. Ao afirmar que o valor do combustível grego é em torno de R$ 11, na conversão cambial atual, o vice-presidente simplesmente ignora a superdesvalorização do real frente ao euro. Antes da pandemia, € 1 equivalia a aproximadamente R$ 4,53. Após o processo de acentuada desvalorização de nossa moeda, essa equivalência foi para R$ 6,40.

Outro fator essencial para determinar o quanto seria o peso do preço do combustível no bolso do consumidor grego seria analisar o valor do salário mínimo local, que hoje é de € 758. Com esse valor, seria possível comprar 445 litros de gasolina na Grécia. Já no Brasil, com o combustível já custando R$ 7 em algumas regiões, seria possível pagar por apenas 170 litros gasolina com nosso salário mínimo de R$ 1.192.

O fato é que, enquanto o poder de compra do brasileiro é corroído pela inflação galopante, para qual a equipe econômica de Jair Bolsonaro sequer informa que está procurando alguma solução, a saga dos bolsonaristas segue sendo atribuir culpa pela escalada de preços dos postos aos governadores, num malabarismo retórico que responsabiliza o ICMS cobrado nos estados, que sempre existiu, e com a mesma alíquota.