Patrícia Lélis: “Meu corpo é político e não segue suas regras”

Em uma sociedade patriarcal e extremamente machista, as mulheres que lutam para ocupar os espaços políticos do nosso país são alvos de ataques sexistas

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Por Patrícia Lélis*

Ser mulher e ser política, como já é de conhecimento de qualquer pessoa mais sã, não é uma missão fácil, ainda mais se escolhemos levar nossa luta contra o machismo, misoginia e tudo que não é de agrado do tradicional “café com leite” da política.

Recentemente, em mais um dos episódios bizarros e ridículos envolvendo o nome de um personagem que já conhecemos, devido aos seus pensamentos chulos, Danilo Gentili se achou no direito de chamar nossa querida vereadora Sâmia Bonfim, que vale lembrar foi uma das mulheres mais bem votadas do Estado de São Paulo, de “sol do PSOL”. Acredito que ele quis fazer algum tipo de piada com o trocadilho, mas já é notório que sua carreira como humorista não é das melhores.

Em uma sociedade patriarcal e extremamente machista, as mulheres que lutam para ocupar os espaços políticos do nosso país são alvos de ataques sexistas. A ex-presidente Dilma, a pré-candidata à presidência Marina Silva, a própria Sâmia Bonfim e tantas outras mulheres ainda precisam lidar com questionamentos que NENHUM homem precisa ouvir: comentários sobre seus corpos, roupas e cabelos.

Cada uma de nós carrega uma história que é refletida no nosso corpo. Mas até quando vão nos ver apenas pela aparência? Não é importante o tamanho da nossa cintura, a cor do nosso cabelo ou o esmalte que usamos na semana. Por que tais questionamentos não são feitos a homens? Por que não perguntam se o terno do amigão está apertado devido aos quilos a mais? Por que não questionam os cabelos brancos do homem?

Desqualificar uma mulher devido a sua aparência física faz parte de  um machismo cultural que todas as mulheres, infelizmente, ainda passam. Afinal, uma mulher está sempre magra demais, sempre gorda demais, sempre descuidada demais ou vaidosa demais, repetir roupas e acessórios é tema de capa de revista. Toda mulher que vai contra os padrões impostos pela sociedade, que exalta as mulheres curvilíneas, é alvo de violentas ofensas.

A participação de mulheres como protagonistas na política ainda está longe de representar a composição da sociedade brasileira. Mas, pela primeira vez, é possível observar que as mulheres querem, sabem e fazem política, sim. E cada vez mais a participação das mulheres em espaço de decisão e poder será comum, e a luta contra o machismo e a misoginia não pode parar.

O ano é de 2018, mas alguns homens insistem em pensar como se ainda estivéssemos na época das cavernas. Cabe a nós pedir paciência divina e jamais nos calarmos. A todas as mulheres, deixo meu profundo pedido de aceitação e de autovalorização. Não coloque seu corpo em risco por um padrão imposto pela sociedade, não faça dietas mirabolantes por conta de comentários machistas. Se amem, se aceitem e lembrem-se que somos muito mais do que uma cintura fina, salto alto e batom.

*Patrícia Lélis é jornalista