Vídeo: Garimpeiros ligados a facção atacam aldeia Yanomami em Roraima

Áudios trocados entre os invasores citam uso de "metralhadoras e fuzis" no ataque. "Tá vindo meio mundo de homem aí, tudo armado lá, [...], terminar de matar os índio", diz uma das mensagens

Foto: Divulgação Condisi-Y
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Garimpeiros integrantes de uma facção criminosa atacaram a comunidade Palimiú, na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, na manhã desta segunda-feira (10). Os indígenas responderam aos ataques com flechas e tiros de espingarda. Segundo o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Y’ekuana (Considi-Y), Junior Hekurari, três garimpeiros morreram, cinco foram baleados e um Yanomami ficou ferido.

“Os indígenas da comunidade me confirmaram que morreram três e esses corpos os próprios garimpeiros levaram para acampamento deles”, relatou Junior ao Amazônia Real. Uma outra liderança, Dário Yanomami, afirmou que não houve mortes.

Em série de áudios enviados a grupos de WhatsApp, garimpeiros confirmam que são membros de "facção", citam o uso de "metralhadora e fuzil" no ataque e orientam colegas para a ação no Rio Uraricoera, região mais invadida por garimpeiros em toda a Terra Indígena.

"Rapaz, o negócio aqui vai pegar. Tá descendo uma canoa aqui da Facção. Mais de vinte homens armados, lá para os Americano [apelido de Missão Evangélica na Terra Indígena Yanomami], que tomaram os óleo deles aí. Tá os [motores] 75 [HP] aqui. Bem perto do flutuante. Vai descer agora, tudo com metralhadora, fuzil, os caralho aí. Vão descendo pros Americano lá. O negócio vai pegar. Se eles matarem 10, 15 índios, o negócio pega aqui dentro. E a gente tem de ficar pila, cabreiro por aqui. Eles estão descendo, estão bem aqui pertinho, onde era o barraco da Roseli, bem aqui do Piuí. Daqui a pouco, eles descem aí", diz um homem em um dos áudios.

"Mas eu ia descer amanhã. Tô arrumado… Já tô arrumado para descer, esperando a canoa. Mas agora como é que desce? Tá vindo meio mundo de homem aí, tudo armado lá, [...], terminar de matar os índio. Aí, quem é que desce? Ninguém desce mais", responde outro.

De acordo com Júnior Hekurari, os invasores chegaram na comunidade por volta das 11 horas, em diferentes embarcações. Ele conseguiram furar numa barreira sanitária instalada pelos Yanomami na aldeia, construída cerca de seis meses atrás na região para impedir a passagem de garimpeiros.

Em vídeo compartilhado nas redes sociais, é possível ver o momento em que uma das embarcações se aproxima da aldeia e disparos são feitos na direção da terra indígena. Os moradores da aldeia Palimiú levam alguns segundos até se darem conta de que eram tiros. As imagens mostram mulheres Yanomami com bebês e crianças correndo para se proteger do ataque.

https://twitter.com/fiscaldoibama/status/1391971966475767811

O Partido dos Trabalhadores divulgou uma nota repudiando o ataque à Terra Indígena. "Manifestamos a nossa total solidariedade aos povos Yanomamis e, amplificamos às denúncias em mãos das autoridades brasileiras para que tomem providências urgentes: a retirada dos garimpeiros, a proteção contra a violência e paralisação da destruição como descritas no relatório o Cicatrizes na Floresta de 2020 que informa: 'São mais de 20 mil garimpeiros invasores em um total de 500 hectares, cerca de 30% do Território Indígena destruídos'. Com prejuízos incalculáveis à humanidade, à cultura ancestral e aos direitos humanos”, diz trecho da nota.